Olá, caro(a) aluno(a)!
Nesta unidade, abordaremos questões referentes às práticas de leitura e à formação de leitores. Muito se fala em quanto o hábito de ler está cada vez mais raro, principalmente pensando na tecnologia e suas múltiplas possibilidades, que podem levar crianças e jovens para outras formas de entretenimento.
Por isso, precisamos repensar nas estratégias que podem ser utilizadas para, mesmo que seja nesse meio – da internet –, criar o prazer pelo mundo das palavras. Veremos que a literatura também passou por muitas transformações com o advento da internet; isso deve facilitar nosso trabalho, e não dificultar, pois nos traz diversas possibilidades.
É praticamente unânime dizer que a leitura é importante para os indivíduos. Quase ninguém dirá algo ao contrário. Ainda assim, vê-se que não é um dos hábitos preferidos da maioria dos brasileiros. Pensando nisso, neste capítulo, falaremos um pouco sobre práticas literárias.
Para iniciar, precisamos entender o conceito “letramento”, termo muito utilizado em estudos da área da educação e leitura. Trata-se de uma palavra que veio do termo em inglês literacy, que, por sua vez, teve origem na expressão latina littere (letra). O sufixo Cy da palavra em inglês indica condição, ou seja, letramento pode ser definido como um estado/condição que assume aquele que aprende a ler e escrever.
Devemos nos ater ao fato de que, embora tenham alguns conceitos parecidos, letramento e alfabetização são bem diferentes. Na verdade, letramento é uma espécie de continuação do processo de alfabetização.
“Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem” - Mário Quintana (2013, p.43)
Essa frase de Mário Quintana é muito significativa no conteúdo que estamos estudando. Significa dizer que há muitas pessoas que, de fato, aprenderam a decodificar as letras da língua, ou seja, foram alfabetizadas, porém não estão inseridas em práticas efetivas de letramento.
De forma mais objetiva, Soares (2009), uma das maiores estudiosas do assunto no Brasil, define que letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita (adquiridas no processo de alfabetização), em um contexto específico, além de como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais.
Não se trata apenas de pegar um livro e ler, envolve toda e qualquer prática que exige a decodificação e o entendimento (o uso real), no dia a dia, de práticas de leitura. O simples ato de pegar um ônibus, assim como ler a bula de um remédio ou fazer uma lista de compras para o mercado. Todas essas ações constituem práticas de leitura e/ou de escrita, ou seja, práticas de letramento.
Pensando no âmbito do tema que nos interessa, temos o letramento literário, que, segundo Zappone (2007, p. 7), “pode ser compreendido como o conjunto de práticas sociais que usam a escrita literária, compreendida como aquela cuja especificidade maior seria seu traço de ficcionalidade”. Ainda de acordo com a autora, letramento literário é a condição daquele que tem capacidade de ler e de compreender gêneros literários, mas, acima de tudo, que aprendeu a gostar de ler literatura, optando por esta como escolha, por gosto, não somente como uma obrigação escolar.
O problema é que muitas escolas e professores pensam que há determinados tipos de leituras que apresentam maior valor que outras. Precisamos entender que, se privilegiarem apenas determinados gêneros literários, podemos acabar não abrangendo justamente aquele que mais poderia estimular o aluno a criar hábito de leitura, interessar-se, de fato, e não tratar a leitura escolar apenas como obrigação. Nesse sentido, também são considerados eventos de letramento literário a interação com filmes, seriados de TV, mangás, gibis, best sellers, dentre tantos outros.
Guiomar de Grammont, em seu texto Ler devia ser proibido, utiliza-se de ironias para falar da importância da leitura e de seu papel transformador, tornando-o ainda mais envolvente. Para ler o texto na íntegra, consulte o link: http://www.leialivro.com.br/ler-devia-ser-proibido-guiomar-grammont/. Acesso em: 23 jan. 2020.
Por muito tempo, pensou-se na leitura apenas como decodificação de um texto, sem se compreender a produção de sentidos e práticas diferenciadas que podem decorrer desse ato. Nesse sentido, vimos sobre os conceitos de alfabetização e letramento, processos diferentes, mas que se complementam. Sobre tais processos, leia as afirmativas a seguir.
I. Alfabetização é a decodificação dos códigos da língua.
II. A alfabetização é o aprendizado mais mecânico da leitura e da escrita.
III. Letramento corresponde às práticas sociais que o indivíduo faz, a partir do aprendizado da leitura e da escrita.
IV. Letramento se refere às funções sociais da leitura e da escrita, associadas ao uso da tecnologia.
Está correto o que se afirma em:
I, apenas.
Incorreta. As afirmativas II e III também estão corretas, pois alfabetização é mesmo mais mecânico, enquanto letramento são as práticas sociais.
II, apenas.
Incorreta. Também estão corretas as afirmativas I e III.
I, II e IV, apenas.
Incorreta. A afirmativa IV está incorreta, pois podem existir práticas literárias associadas à tecnologia, mas não é o primordial. Práticas de leitura existem antes da tecnologia, por exemplo.
I, II e III.
Correta. Somente a afirmativa IV está incorreta, pois não necessariamente precisam existir práticas literárias associadas à tecnologia.
Todas.
Incorreta. A afirmativa IV está incorreta, pois aborda a questão apenas da tecnologia.
Assim como na alfabetização, para o letramento, também é necessário que haja mediação; é nesse ponto que entra a importância do estudo sobre a formação do leitor. Dificilmente um leitor se forma sozinho. Desde cedo, a criança precisa ser estimulada, despertada para os encantamentos do mundo da fantasia, de modo que essa formação dependerá, basicamente, de um trabalho em conjunto entre a família e a escola.
Sobre o tema, Paulino (1998, p. 56) destaca que
A formação de um leitor literário significa a formação de um leitor que saiba escolher suas leituras, que aprecie construções e significações verbais de cunho artístico, que faça disso parte de seus fazeres e prazeres. Esse leitor tem de saber usar estratégias de leitura adequadas aos textos literários, aceitando o pacto ficcional proposto, com reconhecimento de marcas linguísticas de subjetividade, intertextualidade, interdiscursividade, recuperando a criação de linguagem realizada, em aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e situando adequadamente o texto em seu momento histórico de produção.
É difícil que alguém negue a importância da literatura, ou que duvide de seu potencial transformador. É quase um consenso dizer que a leitura é importante na vida de todos. Mesmo sabendo disso, por que ainda há tão poucas pessoas que se dizem leitores no Brasil, conforme constatado em dados estatísticos?
Ainda há um vasto caminho para reconhecer a leitura como necessária e colocá-la, de fato, no dia a dia de todos. Por isso, é tão importante pensar e repensar em estratégias de difusão e ampliação dos hábitos de leitura.
Para iniciar essa discussão, é importante lembrar que não é só na escola que se forma leitores. Antes de tudo, esse é um papel da família, pois desde bebê é necessário que se desperte a atenção e a curiosidade da criança para o livro, enquanto material e, também, para o ato de ouvir e se interessar por histórias contadas.
Não se deve deixar essa função apenas para quando a criança for à escola, justamente porque nesse ambiente ela pode criar a ideia de que a leitura é algo escolar, é uma tarefa ou um exercício, e não prazer e divertimento. Além disso, o estímulo da leitura em casa reforça os laços familiares e leva à criação de hábitos saudáveis entre pais e filhos. O interessante é que as atividades de leitura na família e na escola se complementem, mostrando a união dessas duas instituições.
Mas a formação de um leitor é um exercício constante. É, sem dúvidas, na escola, onde a criança terá mais contato com práticas de letramento, até porque é o lugar onde acabam passando a maior parte do tempo. Por isso, é importante que os professores estejam preparados para a tarefa difícil e trabalhosa que é incentivar à leitura, ainda mais nos dias atuais, que compete com tantos outros meios de comunicação, lazer e divertimento.
A esse respeito, Zilberman (1987, p.16) aborda que
a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança.
A função da escola não deve ser só a de ensinar a ler mecanicamente, ou seja, a decodificar textos, mas também a de ensinar a ler criticamente, dar condições para que os alunos interpretem os diferentes tipos de leitura, por meio de estratégias diferenciadas e que utilizem práticas reais do dia a dia.
Alguns pontos sobre estratégias para a formação de leitores já são conhecidos, como o fato de que um professor precisa, antes de mais nada, ser também leitor. É aquele velho clichê de que “se ensina pelo exemplo”. É importante demonstrar interesse, falar sobre livros que leu e indicar. Por exemplo: um aluno fala que gosta muito de determinada série ou filme que, na verdade, foi inspirada em um livro. É uma ótima oportunidade para comentar. Muitas vezes, o aluno nem sabe que há o livro. Por já haver o interesse na temática, pode ser que queira saber mais e acabe indo para a leitura.
Mas há também alguns pontos que ficaram, por muito tempo, sem serem pensados, pois dizem mais respeito ao mundo atual e à forma como o próprio conceito de educação foi ganhando contornos diferentes ao longo dos anos. Durante muito tempo, o professor era o único detentor do conhecimento, e os alunos eram considerados meros receptores, pois não havia o diálogo e a manifestação de opiniões por parte dos estudantes. Mas, hoje em dia, os alunos querem falar, por isso, é importante dar voz a eles, afinal, eles são os motivos de todos os esforços para a educação; consequentemente, é importante saber do que eles gostam, para incentivar a leitura.
O professor deve ser um mediador, conduzir a aula, mas não pode ser o único autorizado a interpretar um texto, por exemplo. O aluno se sente parte do processo quando pode expressar opinião, quando tem voz na aula. Nesse aspecto, a literatura é tão subjetiva que se torna muito mais significativa quando ouvimos as diversas opiniões de cada um a respeito de um texto.
Precisamos considerar o fato de que estamos falando sobre o processo de formação de crianças e jovens leitores. Todo professor precisa ter empatia nesse processo, lembrar-se de experiências literárias dessa época, colocar-se no lugar do aluno e entender, por exemplo, que por mais que a leitura de Machado de Assis seja algo extremamente instigante, não é adequada ao jovem de 12 anos que nunca entrou em contato com os períodos literários e, provavelmente, não entende a importância de ler algo antigo. Isso pode gerar uma espécie de trauma literário, de aversão a livros como esse, quando, na verdade, era para ter sido lido apenas no ensino médio.
É necessário respeitar não só as faixas etárias, mas principalmente a experiência literária de cada um, assim como os gostos e as particularidades. Nunca um livro agradará a todos da mesma maneira. Assim acontece com todas as artes, é só pensar nos estilos musicais, filmes, novelas, seriados etc. É preciso que o professor entenda que é impossível encontrar um tipo de arte que todos gostem e apreciem.
Também é comum que somente o professor de Língua Portuguesa e/ou Literatura use o texto literário em suas aulas; esse é um erro gravíssimo e, infelizmente, comum entre as escolas. A interdisciplinaridade é algo tão almejado atualmente e a literatura pode ajudar, e muito. Livros que têm como pano de fundo períodos históricos poderiam unir as aulas de Português e História e, assim, ambas se tornam mais significativa para os alunos. Portanto, todos os professores deveriam estar engajados em processos de leitura e propor trabalhos que valorizem a literatura.
Pensando um pouco mais sobre o assunto, há muita diversidade de gêneros textuais infantis e juvenis. É urgente que as crianças e jovens entrem em contato com os mais variados tipos possíveis, para que tenham a oportunidade de conhecer o que mais lhes desperta vontade de ler. Muitas vezes, podemos dizer que não existe alguém que não goste de ler, mas, sim, pessoas que não encontraram o que gosta de ler.
Por isso, continuaremos discutindo a importância da literatura na vida pessoal, as práticas de leituras relevantes para a sala de aula, além de ter um panorama de como fica o papel da leitura, quando a associamos a um mundo cada vez mais tecnológico.
Um dos grandes desafios atuais da educação e do professor, em um mundo cada vez mais dominado pelo excesso de informações e tecnologias, é formar alunos leitores. Sobre esse processo, suas estratégias e implicações, assinale a alternativa correta.
Existem tipos de gêneros textuais que são adequados para ambientes escolares, e outros não.
Incorreta. Qualquer gênero literário é bem-vindo na escola. O adequado é justamente que o professor mostre a maior quantidade de gêneros possíveis.
O despertar da leitura é um processo que acontece sozinho, na escola apenas se reforça o hábito.
Incorreta. É uma prática que precisa começar desde cedo; isso só é possível se for incentivado pelos pais e professores.
A leitura é um conteúdo apenas de disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa.
Incorreta. Outras disciplinas podem e devem incentivar à leitura, porque esta é importante em todas as áreas.
O professor é o detentor do conhecimento; por isso, cabe a ele escolher quais caminhos seguir no processo de incentivo à leitura.
Incorreta. Essa questão já é bem antiquada. A sala de aula é, na verdade, um local de troca, e o professor é apenas mediador.
É importante dar autonomia e voz aos alunos, saber quais gêneros e tipos de texto eles mais gostam.
Correta. Dessa forma, o trabalho de criar um hábito de leitura se torna mais eficaz, do que simplesmente indicar livros que os alunos precisam ler por obrigação.
É primordial que a literatura seja motivada desde cedo nas crianças, muito antes até de elas frequentarem a escola. Mas precisamos ter noção de que, frequentemente, é nesse ambiente onde ela mais poderá ter contato efetivo com práticas de leitura.
Partindo desse pressuposto, vamos conversar um pouco sobre estratégias que podem ser levadas em consideração no trabalho com a leitura na sala de aula, continuando, na verdade, as discussões sobre a formação de leitores.
Vimos que a contação de histórias é uma importante ferramenta para o estímulo da literatura para os mais pequenos, justamente àqueles que não foram alfabetizados. Ouvir histórias é entrar no mundo da imaginação, fantasia e lúdico. Trata-se de uma das melhores formas de criar o gosto pelos livros. Além disso, é importante que fique claro, para essas crianças, que as histórias contadas vêm, por exemplo, de um livro. Deixar os alunos colocarem a mão, manusear, virar as páginas, ver o desenho, dentre tantas outras ações, são processos importantes para ir se apropriando do livro.
Conforme crescem, as crianças podem fazer parte da “brincadeira”. Muitas delas gostam de participar, de representar e podem auxiliar o professor na contação de história, algo que será bastante enriquecedor para eles. Ter a chance de representar um personagem (seja em forma de teatro ou apenas lendo as falas) faz com que seja despertado um sentimento de importância e carinho com aquela história. Ou seja, “brincando” as crianças também aprendem, desenvolvem suas imaginações e criatividades. Outro recurso são os fantoches; estes podem contar com a interação delas, de modo que se sintam parte importante da aula.
Na infância, o concreto e o visual são aspectos muito importantes. Após a leitura de uma história em sala, é importante que não pare por aí. Podem ser realizadas atividades, como construir o personagem principal com algum material, ou apenas desenhar, pedir para que representem por conta própria a história e, quem sabe, até mesmo construir um livro ilustrado pelos alunos.
São diversas as possibilidades que dependem da criatividade do educador. Por exemplo, se há um navio na história, é possível fazer um de papelão grande, promovendo atividades de pintura com as crianças e convidá-las a “embarcar”. Primeiro, porque o lúdico faz toda a diferença, segundo, porque se apropriam mais de algo feito com ajuda delas. O mesmo pode ser feito com uma casa, um prédio, jardim, boneco, enfim, quaisquer paisagens e/ou objetos que apareçam no livro.
Na educação infantil, um recurso que pode ser interessante, também é o de destinar alguns minutos, com certa frequência diária ou mesmo semanal, para a leitura. Nesse tempo, podem ser utilizadas as diferentes estratégias; um dia, o professor conta uma história, no outro, usa um fantoche ou pede para que os alunos desenhem, criando neles, dessa maneira, o hábito e a frequência da leitura
Não se pode esquecer da importância de mostrar o maior número possível de gêneros literários aos alunos, para que possibilite a percepção de qual leitura agrada mais. É importante destacar que ninguém se transforma em leitor de um dia para o outro, pois é o contato cada vez maior com a leitura que vai despertando essa paixão.
Quanto à literatura juvenil, escrita para leitores dos 11 aos 17 anos, já falamos que é uma das idades mais propícias para se criar o gosto pela leitura. Nessa fase, é relevante dar voz aos estudantes, reconhecer as leituras deles, que, muitas vezes, são deixadas de lado, pois é muito importante que os jovens queiram ler e, por isso, é preciso estimulá-los.
Há uma tendência de alguns setores de considerarem algumas leituras melhores que outras, privilegiando apenas determinados gêneros ou autores. Mas, quando o objetivo é despertar o prazer pela leitura, esse caminho pode se mostrar muito errado.
Ler clássicos literários é importante, mas temos que entender que dificilmente alguém, principalmente adolescentes, criará o hábito de leitura com esse tipo de livro, lendo pela primeira vez um Machado de Assis, por exemplo. Espera-se, sim, que, com o passar do tempo, todos aprimorem e busquem outros tipos de leitura.
É urgente que professores e pais comecem a dar importância e valor aos interesses dos jovens. Às vezes, livros como “Diário de um Banana”, de Jeff Kinney, fazem com que um aluno que nunca havia lido nada por interesse próprio crie um hábito e um gosto pela leitura, lendo, sem nem se dar conta, toda a coleção, que tem mais de dez livros. A partir de um livro como esse, ele pode buscar cada vez mais. Pode ser bem mais produtivo se o professor tentar entender o porquê de esse livro fazer tanto sucesso entre seus leitores, buscando estratégias para incentivar outros tipos.
Vamos aproveitar esse assunto e abordar algumas questões do livro citado no exemplo, de forma específica. Primeiramente, trata-se de um diário de um menino que está na escola. A linguagem é informal, coloquial, com traços da oralidade. Há desenhos bem simples, e as páginas imitam o caderno, ou seja, são pautadas. O personagem principal está na escola, de forma que os conflitos do livro se passam nesse ambiente, sendo mesclados com questões familiares.
Vemos que os jovens criam a identificação com o personagem, por viver nessa mesma realidade e, às vezes, passar por situações parecidas na escola ou em casa. Já começamos a entender o sucesso do livro.
Por que não aproveitar e apresentar outros livros que são diários? Com isso, será possível mostrar que esse tipo de livro é recorrente. São vários: “Diário de uma garota nada popular”, de Rachel Russel, e “Diário da princesa”, de Meg Cabot, por exemplo, são livros que provavelmente chamariam mais a atenção das meninas, já que a personagem principal é uma; enquanto em “O diário de um banana” é um menino, por isso, talvez estes se identificam mais.
Um bom exemplo a ser citado desse gênero textual, para aprofundamento, é o “Diário de Anne Frank”, um diário real, escrito entre 1942 e 1944, por uma menina que se encontrava em um esconderijo, com sua família, durante a Segunda Guerra Mundial. Anne faleceu aos 15 anos no campo de concentração, e seu diário é um importante documento dos horrores que aconteceram naquela época. Pode ser uma leitura impactante, mas importante para conhecer outras realidades. Se o gênero diário já é algo que chama a atenção de adolescentes, abordá-los e apresentar outros tipos pode ser uma estratégia para incentivar a leitura na sala de aula nessa fase.
É importante saber o que os alunos estão lendo, investigar, buscar saber mais e, se possível, apresentar outros livros parecidos. Muitas vezes, falta o incentivo, aos adolescentes, sobre essas leituras, por pessoas como pais e professores, que consideram a própria literatura juvenil um gênero menos importante. Essa ideia precisa ser desmistificada.
Já falamos, também, sobre interdisciplinaridade. A esse respeito, o livro de Anne Frank, assim como tantos outros, aborda a temática do holocausto, como é o caso de O menino do pijama listrado (2006), de John Boyne, e A menina que roubava livros (2005), de Markus Zusak. Uma aula envolvendo o professor de história, falando um pouco sobre o contexto em que se passou a história desses livros, pode ser eficiente para despertar curiosidade e promover debates instigantes.
Ainda há a questão de filmes e séries, por exemplo. Sabemos o quanto, atualmente, a juventude está ligada a essas tecnologias, e isso não vai mudar. Não adianta apenas criticar o tempo usado em tecnologias, mas, ao contrário, elas devem fazer parte da aula. Uma ideia poderia ser um exercício de comparação entre o livro lido em aula e o filme. Promover momentos de sessão de filme provavelmente seria muito bem aceito pelos educandos. Também, pode-se pensar em outros trabalhos relacionados a filmes. Por exemplo, por que não assistir a um filme junto com os alunos (quem sabe, no cinema?) e, a partir desse filme, solicitar a produção de uma resenha?
Não podemos deixar de mencionar que tanto o filme quanto o livro são tipos de arte que se interligam. Principalmente para o filme, é necessária a literatura, a escrita e o roteiro.
A tecnologia está em nossas vidas e não conseguiremos mudar isso, pelo contrário, cada vez mais os avanços são notáveis em todas as áreas. Na educação, também é necessária a sua inclusão nos planejamentos. Durante muito tempo, o professor era a fonte de conhecimento do aluno; hoje, o aluno tem muita facilidade de acesso às mais variadas informações, de forma muito mais rápida.
Em vez de condenar a frequência nas redes sociais, que tal criar projetos e trabalhos que envolvam esse meio nas aulas? Criar blogs, fazer postagem no Instagram ou Facebook sobre o conteúdo são recursos possíveis de serem utilizados em aulas de literatura. Por exemplo, já que, em geral, os jovens adoram tirar fotos, pode-se pensar em algum meio de unir isso ao livro, tirar fotos representando partes do livro e pedir para que postem nas redes sociais. A nota será avaliada observando a foto no ambiente virtual. É um tipo de atividade que pode instigá-los a ler o livro. Pode-se pensar e estender a proposta, também, com a realização de pequenos vídeos, paródias, dentre tantos outros recursos.
Aquele ensino tradicional, de quadro e caderno, pode ser mais fácil ao professor, mas é mais difícil de atingir o interesse e despertar a atenção do aluno. Ser criativo e trazer atividades diferentes certamente é um processo trabalhoso, mas é por meio dessas ações que conseguiremos cativar os educandos, desenvolver o gosto e o hábito da leitura, mostrando o quanto isso pode ser inspirador e transformador.
É importante que se pense em estratégias para criar o hábito de leitura desde cedo nas crianças, a fim de que, ao crescerem, tornem-se indivíduos que encontram prazer na literatura. Tais estratégias são primordiais de serem abordadas tanto em casa, com os pais, quanto nas escolas. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta.
É primordial que se leia apenas clássicos literários na escola. Livros para diversão ou entretenimento devem ser lidos em casa.
Incorreta. Todo tipo de livro é importante de ser lido, não apenas clássicos da literatura, quando se quer formar alunos leitores.
A contação de histórias é uma das melhores maneiras de despertar nas crianças o interesse pela leitura.
Correta. As crianças precisam do visual e do lúdico para se encantarem.
Não há valor literário em assistir a um filme; devemos mostrar aos jovens que só o livro é necessário.
Incorreta. O filme pode complementar a leitura e servir para ótimas discussões em sala de aula.
A interdisciplinaridade pode atrapalhar a formação de leitores, pois confunde o papel da literatura com outras matérias.
Incorreta. A interdisciplinaridade é riquíssima e faz com que os alunos entendam que a leitura é importante em todos os campos do conhecimento.
Por mais que haja leituras literárias na internet, espaços como os das redes sociais não são propícios para isso.
Incorreta. Hoje, muita gente, inclusive autores, usa as redes sociais para publicar trabalhos, os quais se tornam, sim, um modo de leitura para os adolescentes.
A escola foi, por muito tempo, a única detentora do saber, o principal lugar de buscar conhecimentos. Porém, com o advento das tecnologias, essa não é mais a realidade há algum tempo, pois, atualmente, qualquer um pode se informar de maneira mais rápida, inclusive.
Lemke (2010) aponta que toda nova comunidade, ou uma comunidade transformada, pode representar um novo letramento. Portanto, o uso avançado e cada vez mais popular da internet corresponde ao que o autor chama de “novas práticas sociais”, ou seja, proporcionando, até mesmo, novas formas de letramento.
O já citado termo letramento literário não é mais suficiente quando se pensa nas múltiplas possibilidades que a internet nos traz. Surgiram propostas como o letramento multissemiótico, que amplia a noção de letramentos para o campo da imagem, música e outras semioses, que não somente a escrita (ROJO, 2009).
Foi muito rápida a mudança do papel para a tela do computador, uma característica marcante da modernidade, a qual requer agilidade em meio a tantas informações e necessidades que surgem e mudam a todo o tempo. Hoje, praticamente tudo pode ser feito por meio da internet (situação inimaginável há poucos anos), como pagar contas; fazer inscrição e matrícula em cursos, vestibulares, concursos; faculdades a distância; procurar emprego; dentre muitas outras tarefas.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006, p. 29) já apontam a relevância dessas mudanças para a área educacional há algum tempo, ao dizer que
a escola que se pretende efetivamente inclusiva e aberta à diversidade não pode ater-se ao letramento da letra, mas deve, isso sim, abrir-se aos múltiplos letramentos, que, envolvendo uma enorme variação de mídias, constroem-se de forma multissemiótica e híbrida – por exemplo, nos hipertextos, na imprensa ou na internet, por vídeos ou filmes etc.
Diante dessa realidade e pensando no âmbito educacional, fica o questionamento: como são as práticas literárias na internet? Pode-se considerar que há práticas de letramento nesse meio?
O que se pode observar na internet é diferente do que muita gente pensa, ou seja, que as crianças e jovens não estão interessados em literatura; pelo contrário, tem muita gente lendo, e lendo muito. Além disso, muitos buscam na internet outras pessoas que leem sobre o mesmo assunto, para discutir, criar grupos, fóruns, teorias, movidos por interesses em comum. É importante ressaltar que é necessário um alto grau de letramento para acessar a internet e utilizar tudo que ela tem para oferecer. Vamos analisar alguns exemplos de práticas literárias na internet.
Fanfic é a abreviação da palavra em inglês fanfiction, que, traduzindo, significa “ficção de fã”. Tratam-se de narrativas ficcionais, escritas por fãs que se apropriam dos personagens de algum livro, criando outras histórias, escrevendo continuações, criando universos paralelos e tudo mais que a imaginação permitir. Já eram feitas desde antes e divulgadas em fanzines impressas nos EUA. Com a popularização da internet, no fim dos anos 1990, o conteúdo migrou para esse espaço e ganhou maior alcance.
Geralmente, fanfics são criadas a partir de trilogias e sagas que costumam mover grandes paixões nos adolescentes e, quando essas trilogias e sagas acabam, eles ficam com vontade de reviver aquele universo e saber mais sobre os personagens. Ainda, é possível haver fãs que, insatisfeitos com o final do livro, resolvem escrever suas próprias histórias. Isso revela-se como uma grande prática de letramento que ocorre na internet, não só de leitura, mas principalmente de escrita, nesse caso, movida pelo amor a algum livro.
Tem-se que as primeiras fanzines, ainda na era impressa, divulgadas nos EUA, foram sobre as histórias da famosa saga “Star Wars”. O advento da internet coincidiu, mais ou menos, com a explosão do sucesso de “Harry Potter” e, até hoje, nos sites de fanfics, é um dos temas mais escritos. É preciso se apropriar muito da leitura, do universo desses livros e de seus personagens, a ponto de escrever sobre, não é mesmo? Vale ressaltar que, ao produzir uma fanfic, não há nenhum retorno financeiro, ou seja, além de ler por prazer, vemos práticas de escrita sem ser obrigação da escola. É, ou não, uma grande prática de letramento?
A partir das ditas leituras “obrigatórias” na escola, pode ser criada uma atividade em que os alunos produzam uma fanfic, seja para ampliar o universo da história, ou para dar outro final. Seria uma interessante atividade que uniria a literatura e as aulas de redação, despertando a imaginação e criatividade, nos alunos, tornando-os leitores ativos.
Podcast (palavra formada a partir da junção de iPod, dispositivo de músicas da Apple, e broadcast, que significa transmissão) é um arquivo digital de áudio publicado e acessado por meio da internet, cujo conteúdo é múltiplo, dependendo dos criadores e dos ouvintes. Normalmente, tem como tema informações sobre cultura, jogos, livros, entretenimento, dentre muitos outros assuntos.
O formato do podcast é interessante, pois nada mais é do que uma conversa informal entre amigos conversando sobre determinado assunto, basicamente, expondo opiniões sobre os temas.
O diferencial do podcast é que, como é um arquivo apenas de áudio, você pode ouvir para se informar ou apenas para se distrair em momentos como filas, trânsito e, até mesmo, enquanto limpa a casa.
Um dos podcasts pioneiros e mais famosos do Brasil é bem conhecido entre adolescentes e jovens adultos. É o chamado Nerdcast, que, como o próprio nome já diz, envolve tudo relacionado ao universo denominado nerd: história, ciência, cinema, quadrinhos, literatura, tecnologia, games, RPG etc.
Mas há, também, podcasts específicos de literatura, ou seja, em que os participantes falam especificamente de livros. Para citar alguns, temos o Perdidos na Estante, 30:MIN, Rabiscos, Ler antes de morrer, Leituracast, dentre tantos outros.
Além disso, há alguns específicos para crianças ouvirem ou, mesmo, para pais, com assuntos ligados à educação, como o Coisa de criança, Conta, conta, conta, Era uma vez podcast, dentre outros.
Vale a pena conferir, pois trata-se de uma maneira descontraída e informal de se informar um pouco mais. E, novamente, é necessário dizer: é importante que o professor também conheça plataformas e aplicativos que os alunos utilizam; o podcast pode ser um desses casos que muitos professores nunca ouviram falar, mas que os jovens adoram.
As redes sociais dominam as interações, atualmente, e não tem como fugir disso. Sabemos que não há só contas pessoais, mas muitos profissionais também usam redes como Instagram e Facebook. Empresas utilizam esses espaços para divulgação e marketing e, provavelmente, hoje essa seja a melhor estratégia, a que mais dá retorno.
Não seria diferente com a leitura. Temos muitas páginas em redes sociais que poderiam ser citadas. Vamos começar por uma rede social específica para leitores, que poucos conhecem: o skoob.com. Quando entramos no Facebook, deparamo-nos com aquela famosa pergunta: “no que você está pensando”, que tem o intuito de instigar o usuário a escrever ou postar uma foto sobre o seu dia. Ao abrir a rede social Skoob, temos a seguinte frase: “o que você está lendo?”
Skoob é uma rede social brasileira, criada para quem gosta de ler. Foi lançada em 2009, por Lindemberg Moreira. Seu nome é uma brincadeira com a palavra books, cuja tradução é livros, porém escrita ao contrário. Atualmente, conta com mais de 5.000.000 usuários cadastrados, e qualquer um pode se inscrever.
Há funções básicas, comuns a todas as redes sociais, a saber: adicionar amigos, seguir perfis e conversar. O diferencial é que tudo gira em torno da leitura; quanto a isso, há uma série de funções: adicionar o gênero literário preferido, colocar suas metas de leituras, postar trechos de obras favoritas, dentre outras. Todas as ações dependem de uma espécie de estante virtual que cada usuário cria, elencando os livros que já leu, os que deseja ler, os que está lendo e os que abandonou, e deve, frequentemente, atualizar a estante conforme suas leituras são modificadas.
É possível, ainda, trocar livros entre os usuários, participar de sorteios pelas editoras e comprar o livro. Além da organização das leituras de cada usuário, que pode mostrar dados de que há muitas pessoas no Brasil lendo literatura, há outro ponto que são as resenhas que cada leitor pode criar em seu perfil dos livros que já leu.
Assim como cada membro tem um perfil, para cada livro registrado há também uma página, com diversos dados sobre a obra, que mostra, além de uma breve sinopse, quantas pessoas estão lendo, quantas já leram e todas as demais funções. Além disso, há o campo da resenha, em que o usuário pode utilizar para ler as já criadas pelos outros membros ou escrever a sua e disponibilizar. Tal fato é muito importante, pois indica não só que há pessoas que demonstram estar lendo, adicionando livros etc. mas também produzindo textos nesse espaço.
Para finalizar a apresentação de ferramentas do Skoob, há uma muito interessante, principalmente para pesquisas: trata-se do “Top Mais”. A própria rede social fornece informações dos livros mais lidos, desejados, abandonados etc. Em primeiro lugar, o livro mais marcado como lido é “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint Exupéry, seguido de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, de Joanne K. Rowling e tantos outros best sellers famosos dos últimos anos, como Crepúsculo (Sthephenie Meyer), Percy Jackson (Rick Riordan), O Código Da Vince (Dan Brown), O Caçador de Pipas (Khaleid Hosseini), A Menina que roubava livros (Markus Zusak) , dentre outros. O primeiro livro clássico e nacional que aparece nessa lista é Dom Casmurro, de Machado de Assis, na 18ª posição.
Com essa breve explanação acerca do funcionamento da rede social, pode-se inferir este como algo inovador, criado já há algum tempo e que vem dando certo para determinado nicho de pessoas. Enquanto em outras redes sociais, como o Facebook, os usuários adicionam amigos e, no máximo, conhecidos, no Skoob, não se limitam à busca por conhecidos, mas justamente por diversas pessoas com um interesse em comum: a leitura. Se um indivíduo entra nessa rede sem o menor interesse por literatura, provavelmente não continuará, pois não há outras possibilidades.
Pensando no interesse deste tópico, o Skoob é mais uma possibilidade de inovação nas aulas de literatura ou de projetos que visam incentivar a leitura.
O Wattpad trata-se de um aplicativo criado em 2006, que permite que os usuários compartilhem histórias produzidas por eles próprios. Pode ser usado por meio do site, no computador, ou em aplicativo, no celular.
Esse aplicativo tem funcionado para escritores que guardavam seus textos nas gavetas e, talvez, nunca tentariam publicar. Isso acontece muito mais do que imaginamos com os nossos estudantes, visto que muitos escrevem e nunca mostram para ninguém, nem mesmo para colegas ou pais. Por meio dessa ferramenta, cada um publica seu texto, as pessoas interagem, leem, dão nota e conversam. É uma verdadeira rede social de escritores, não apenas de leitores, como no Skoob.
Há diversos casos de pessoas que começaram nessa plataforma e, hoje, já conseguiram publicar seus livros físicos. O aplicativo ajuda muito a ver o perfil de leitores de sua obra, ouvir opiniões e já criar um vínculo com leitores. Interessados em apenas ler obras independentes também podem entrar, porque não é necessário publicar algum texto; ou seja, trata-se de uma ótima forma de leitura que podemos carregar para todo lugar e ler, inclusive, no celular, por exemplo.
Nos subtópicos anteriores, apresentamos algumas plataformas digitais que tratam sobre literatura para quem já tem interesse nesse universo. Porém é necessário discutir um pouco sobre a internet como local de leitura literária. Conforme a internet foi se popularizando, muito se ouviu sobre o livro impresso deixar de existir. Atualmente, pesquisas já apontam que isso será bem difícil de acontecer.
Mas a leitura digital tem suas vantagens e merece ser levada em consideração. Uma das principais vantagens é o preço. Por motivos óbvios, como a ausência com os gastos da impressão, o e-book é consideravelmente mais barato que o mesmo livro impresso. Ainda há algumas obras de domínio público, que podem ser baixadas gratuitamente.
Além disso, há a possibilidade de carregar consigo muitas obras em apenas um dispositivo. Estes podem ser apenas celulares ou tablets, mas também já existem alguns aparelhos exclusivos, chamados e-readers.
É preciso esclarecer, também, que a experiência de ler um e-book é diferenciada da leitura impressa. As características e os recursos crescem cada vez mais. Em dispositivos próprios para isso, temos opção de grifar, como se fosse no papel, recortar e salvar em um arquivo alguns trechos do livro, escrever notas durante a história etc. Existem, ainda, funções como dicionário e tradutor; para esses casos, basta um clique em uma palavra durante a leitura que já mostra a tradução ou o significado da palavra desconhecida. O tamanho da fonte para leitura pode ser ajustado, o que faz muita diferença para algumas pessoas com problemas de visão.
É possível buscar palavras-chave em determinados pontos do texto. Alguns textos apresentam os chamados hiperlinks, nada mais são do que links diretos para outra página, pode ser um vídeo, uma música, outro texto, qualquer referência, o que demonstra como tudo na rede está interligado, transformado o texto em um hipertexto.
Segundo Marcuschi (2007), diferente do texto escrito tradicional, em que o leitor lê seguindo um padrão – da esquerda para a direita e de cima para baixo – o hipertexto promove outros tipos de leituras, geralmente não lineares, oferecendo uma multiplicidade de caminhos a seguir. Dessa forma, o leitor está mais presente e ativo na leitura, não apenas fazendo o papel de mero decodificador da palavra, mas um coautor do texto. Ou seja, ao criar um texto em uma plataforma digital, é importante que se entenda que ele ultrapassa o nível de apenas texto, podendo conter as mais diversas mídias.
Xavier (2006) aborda o texto como uma prática comunicativa materializada, por intermédio das chamadas múltiplas modalidades da linguagem, como: verbal (escrita e oral) e não verbal (visual). O texto, dessa forma, é resultado das múltiplas possibilidades da linguagem, não apenas escrita.
Nesse contexto, um conceito muito utilizado nos dias de hoje é o de multimodalidade. Segundo Dionísio (2011) tal termo faz referência às mais diferentes formas e aos modos de representação utilizados na construção linguística de uma mensagem, tais como: palavras, imagens, cores, formatos, marcas/traços tipográficos, disposição da grafia, gestos, padrões de entonação, olhares etc.
Portanto, a multimodalidade pode abranger, no mesmo texto, a escrita, a fala e a imagem. Mas o que isso tem a ver com as novas tecnologias? Se um texto já consegue trazer todas essas linguagens, é ainda mais interessante quando nos voltamos para os livros digitais que, além dos citados, ainda pode contar com sons, animações, dentre muitos outros aspectos, deixando a leitura muito divertida para crianças e adolescentes. Poder clicar em uma imagem e esta se movimentar, por exemplo, é algo único para a literatura e para o contato das crianças com ela.
Pode haver algumas desvantagens na leitura digital, principalmente pela resistência que muitos possuem, de querer ter os livros impressos, formar uma biblioteca ou algo assim. Há, ainda, o fato de que o livro ter sido publicado e estar disponível nas prateleiras de livrarias não quer dizer que estará disponível também digitalmente. A famosa saga de Harry Potter, por exemplo, demorou muito para entrar em formato digital por restrição da autora Joanne K. Rowling.
Ainda há muitos livros que não estão disponíveis para leitura digital ou que demoram muito para entrar no catálogo após o lançamento impresso, mas, também, por outro lado, há o fato de que, pela facilidade e pelo preço, alguns autores estão publicando somente por e-books.
Uma plataforma de leitura para crianças muito interessante e bem fácil de ser usada é promovida pelo Itaú. Trata-se do projeto “Leia Para Uma Criança”. Este já existe há algum tempo, em que qualquer pessoa pode se cadastrar e receber um kit de livros por ano, de forma gratuita. Essa função ainda existe, e a cada ano são lançados livros novos. Recentemente, a empresa ampliou para o digital, contendo livros com as mais diversas temáticas, que podem ser acessados pelo celular, tablet ou computador.
Hoje, é realidade que muitos pais dão celulares a crianças desde cedo, para jogarem, assistirem a vídeos, entre outras atividades. Por que não usar esse interesse dos filhos, pelos meios tecnológicos, para mostrar a literatura? Seria algo que talvez eles nem imaginam, como ver histórias e aprender na tela do celular. Basta escolher um livro e clicar na imagem, em seguida, outra página se abrirá com a historinha. Esta contém sons e animações.
É frequente que muitas crianças cresçam dominando os usos do celular. Por isso, é de extrema urgência que se considere pensar em alternativas, em páginas e aplicativos que sejam, de fato, educativos, em que a criança possa ler um livro ou estar em contato com ele, clicar e mexer nas imagens.
E, quanto aos adolescentes? Primeiramente, é preciso mencionar que, ao falar das fanfics, da escrita no Wattpad etc., já são específicos para os mais crescidos, e não para as crianças. Mas vamos pensar, também, no que seria uma literatura vista por adolescentes na internet hoje, que utilizam diariamente as redes sociais, como Instagram, por exemplo. Muitos autores de livros já se deram conta disso e publicam, diariamente, textos nessa rede social. Mas não pode ser qualquer texto; assim como toda a literatura, a época e o meio influenciam as características literárias, a ascensão da tecnologia e a transferência do papel para a tela do computador ou do celular não são diferentes. Uma das maiores exigências do mundo contemporâneo é a rapidez com que as informações chegam: a efemeridade, ou seja, como as informações são passageiras e não duram (veja-se o exemplo dos stories no Instagram, que são publicações que só ficam no ar durante 24h). Aliados à rapidez, os textos precisam ser curtos, só de “bater o olho” a pessoa já lê, entende a mensagem e passa para o próximo.
Essas são características pensadas por alguns autores, que ganham o título de instapoet, ou outras páginas que publicam diariamente seus textos. Vejamos alguns exemplos.
A página “Eu me chamo Antônio” tem mais de 500 mil seguidores. A página oficial, da Rupi Kaur, que não é brasileira, tem mais de 3 milhões de seguidores pelo mundo. Esses foram apenas exemplos de páginas que produzem conteúdos literários e usam o Instagram como meio de divulgação.
Com esses dados, percebe-se que há muitas pessoas interessadas, sim, nesse tipo de conteúdo. Ainda há espaço para o hábito de leitura na vida dos jovens, mas tomou-se outro rumo com o advento das tecnologias e redes sociais. Por isso, professores precisam estar muito atentos às mudanças, se quiserem conquistar seus alunos e, até mesmo, apresentar essas páginas a eles, mostrar que isso é literatura, portanto, é arte.
As práticas de leitura e a forma de se ler mudaram muito com o tempo, mas isso não quer dizer que essas práticas tenham acabado, como muitos pensam. Na verdade, o que está mais em desuso é a leitura formal, mas, com isso, muitos outros tipos vão surgindo, com outras características, tipos esses que não devem ser vistos nem como melhores nem piores que outras, apenas diferentes, com muitas possibilidades. Ao falar de literatura, sabemos que é um termo tão abrangente e com possibilidades inesgotáveis, quando é associado às tecnologias, então, temos a certeza de que esse assunto nunca se esgotará.
Uma das grandes mudanças da leitura impressa para a digital é a possibilidade, com a internet, do hipertexto e de hiperlinks, que criam uma leitura não linear. De acordo com o estudado, assinale a alternativa correta quanto ao uso do hipertexto.
Dá a possibilidade de o leitor criar diferentes caminhos para o texto, durante a leitura.
Correta. O hipertexto tem diversos links, o que torna a leitura mais dinâmica e criativa.
Trata-se de uma ferramenta que possibilita ao autor do texto interagir diretamente com o leitor.
Incorreta. O leitor interage com o texto, mas não diretamente com o autor.
É uma ferramenta destinada apenas para autores publicarem seus textos nas mídias digitais.
Incorreta. Não é uma ferramenta nem aplicativo, são recursos dentro do próprio texto, em que se colocam links para outros sites.
Deixa o leitor preso ao modo como o autor escreveu, ou seja, um texto linear.
Incorreta. Pelo contrário, apresenta grande multiplicidade de caminhos para a leitura.
É um recurso usado para textos publicados apenas em redes sociais.
Incorreta. Não se trata apenas de redes sociais, mas sim de qualquer meio digital.
Nome do livro: É um livro
Editora: Cia. das letrinhas
Autora: Lane Smith
ISBN: 8574064513
Trata-se de um livro infantil muito interessante, pois aborda a questão das novas tecnologias e a relação das crianças com os livros. Há um personagem que nunca havia visto um livro e, ao se deparar com um, estranha-o pela ausência de tecnologia presente nele. Mas, ao lê-lo, encanta-se com a leitura! É um livro que propõe uma excelente discussão.