Olá, caro(a) aluno(a)! Após conhecer um pouco sobre a história da Literatura Infantojuvenil, nesta unidade, aprenderemos mais sobre as características desse texto e os principais gêneros literários destinados a esse público.
Assim, veremos o quanto incentivar a leitura, desde a mais tenra idade, é fundamental para a formação de leitores. Além disso, desde cedo, é possível se encantar pelo universo tão apaixonante da fantasia. Afinal, a gente tem tantas obrigações e tarefas no dia a dia que é quase uma necessidade fugir um pouco da realidade, e a literatura faz isso muito bem! Como dizia o poeta Ferreira Gullar (2013, on-line): “A arte existe porque a vida não basta”. É isso, precisamos da arte, dos diversos tipos de arte, para fugir da realidade!
Esperamos que você, também, encante-se, ainda mais, por esse mundo, uma vez que, futuramente, será responsável pela formação de alunos leitores, que acreditam na transformação do mundo e das pessoas por meio dos livros.
Caro(a) aluno(a), foram muitos séculos até que se pensasse em uma literatura voltada para o público infantil, uma vez que não havia uma concepção de criança tal como conhecemos hoje. Assim, até o século XVII, concebia-se a criança como um adulto em miniatura, logo, por isso, não existia um mundo infantil.
Assim, somente um século mais tarde, muda-se o modo de ver a criança e, a partir de então, leva-se em consideração as necessidades, as características e as especificidades próprias de um universo infantil. Nesse sentido, entende-se que a infância é um estágio de preparação para a vida adulta, assim, é substancial se desenvolver hábitos e valores.
Além disso, é nessa época que surge a preocupação com o estabelecimento da escola, tendo em vista a alfabetização para a promoção da leitura. Com isso, muitos livros adultos passaram por adaptação, a fim de atender o público infantil. Diante disso, podemos considerar a leitura um fenômeno histórico, que contribui, desde sempre, para o desenvolvimento da sociedade.
A importância destinada à literatura infanto-juvenil é algo relativamente recente. Somente no século XIX a escola começou a se organizar e o livro didático, agora mais aperfeiçoado, deu outra forma ao ensino, principalmente ao da leitura de literatura infantojuvenil. Até então, as crianças e os jovens não podiam se valer de uma literatura dedicada totalmente a eles, o que fazia com que lessem obras endereçadas aos adultos ou, na maioria das vezes, nada lessem (BIASIOLI, 2007, p. 97).
A literatura infantil, desde a sua origem, esteve ligada ao divertimento e ao aprendizado da criança, por isso, acreditava-se que seu conteúdo deveria estar condizente com o seu nível de compreensão e interesse. Assim, por muito tempo, os textos eram frutos de adaptação, bem como não apresentavam rebuscamento na linguagem e grandes reflexões, uma vez que objetivavam, apenas, atrair o pequeno espectador e proporcionar experiências, utilizando o real e o fantástico.
Conforme Cagneti (1996, p. 7), a literatura deve ser entendida como arte, um “fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização”. Tendo isso em vista, a literatura objetiva conduzir a criança à descoberta do mundo, envolvendo sonhos e realidade, levando-a, também, a modificar a sua realidade, que pode ser boa e/ou ruim.
Quando um escritor se dedica a produzir um texto para um público específico, evoca, por assim dizer, um outro gênero literário, utilizando outra forma de escrita, que se adapta, isso porque é aplicada ao contexto de vida do leitor, pensando em suas expectativas e interesses, nesse caso, criança e jovem.
A literatura infantojuvenil é de fundamental importância para a formação do indivíduo, de seus hábitos de leitura e consequente senso crítico, contribuindo, também, para a aprendizagem.
Durante muito tempo, a literatura infantojuvenil teve caráter pedagógico e didático, até mesmo sendo escrita por professores e pedagogos, sem a função literária. Hoje, a ideia não é apenas transmitir informações, como naquela época, mas sentimentos e emoções.
Há dois lados fundamentais na literatura infantil, apontados por Cademartori (1986): divertir e ensinar. Há o lado encantador da literatura, ligado ao prazer, à satisfação de ouvir e de ler histórias, de estar próximo de tudo que elas nos trazem: as fantasias, o imaginário, o lúdico e o maravilhoso. Por outro lado, há, ainda, os aspectos fundamentais, que dizem respeito aos valores, ao caráter, ao bem e ao mal, demonstrando para a criança alguns ensinamentos e condutas sociais, além de proporcionar um desenvolvimento emocional, social e cognitivo.
É importante que a criança tenha a oportunidade de ter contato com os livros o mais cedo possível e possa sentir o prazer que a leitura proporciona, dando maiores chances de ela se transformar em um adolescente leitor e, posteriormente, em um adulto leitor, com postura crítica e reflexiva.
A literatura infantil, desde a sua origem, esteve ligada ao divertimento e ao aprendizado da criança, por isso, acreditava-se que seu conteúdo deveria estar condizente com o seu nível de compreensão e interesse. Sobre o estudo do conceito de Literatura Infantil e suas funções, assinale a alternativa correta.
A literatura infantil fica a cargo somente de contações de histórias, tendo em vista que as crianças ainda não sabem ler.
Incorreta. Sabemos que existiu sim um período em que não se pensava em uma literatura específica para crianças, mas há muito que isso se tornou obsoleto.
A escola deve ser responsável por ensinar valores e condutas, enquanto a literatura destina-se à brincadeira e ao lazer.
Incorreta. Ambas podem se unir nessa missão de ensinar valores, sendo parceiras.
A literatura infantil é importante a partir dos 6 anos, quando se inicia a alfabetização.
Incorreta. Quanto antes a criança entrar em contato com os livros, maiores são as chances de se tornar um adulto que gosta de ler.
A literatura infantojuvenil tem a missão dupla de ensinar e divertir ao mesmo tempo, pois traz assuntos importantes de uma forma lúdica, prazerosa.
Correta. A literatura possui, dentre outras, essas duas principais funções. E é um dos pontos mais importantes conseguir unir o ensinamento ao prazer. Dessa forma, muitas vezes, podemos falar que a criança aprende brincando, sem nem se dar conta de que está aprendendo.
A literatura infantil é algo recente. Por isso, não temos tantos autores que se dedicam, exclusivamente, a ela, não havendo nenhum nome de grande expressão.
Incorreta. Sabemos que há muitos autores, como Perrault, Andersen, Lobato etc.
O termo literatura tem origem no latim litteratura e significa "arte (técnica) de escrever bem", a partir da palavra latina littera, "letra". Ou seja, podemos considerar literatura a arte que se faz com as palavras. Sabemos, porém, que apenas estas não bastam para a literatura infantil. Esta é constituída, no geral, por estratégias diferentes, que têm um objetivo em comum: despertar o interesse das crianças. Não é à toa que só de olhar para um livro infantil já sabemos que se trata de um, não é mesmo?
Nesse sentido, tudo importa ao criar um livro para as crianças: a capa, as cores, as letras, a escolha do material em que ele é produzido, dentre outros aspectos. Se até adultos frequentemente relatam comprar livros pela capa ou pelo título, imagine o quanto os pequenos não são influenciados por fatores como esses!
É claro que sempre existem as exceções e inovações que surgem a cada ano, porém podemos definir algumas características comuns na maioria dos livros feitos para as crianças. Em geral, eles têm:
Contudo, ao olhar para essas características, devemos pensar: de qual criança estamos falando? Um livro que agrada uma criança de 3 anos, possivelmente, não agradará uma de 8. As diferenças são muito grandes na fase de crescimento infantil. Por isso, precisamos, ainda, nos ater às especificidades de cada idade. A seguir, vejamos um compilado de características baseado no livro Metodologia do ensino de literatura (2013), da professora Maria Elisa Matos Pereira, Moema Cavalcante, Sara Regina Scotta Cabral, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que destaca o tipo de leitura mais indicado para cada fase.
“A leitura abre a mente e amplia os horizontes. Quando isso é feito na primeira infância, tudo acontece de uma forma muito mais natural e prazerosa. E é essa geração de leitores que poderá transformar o mundo através da Educação e do conhecimento. Tenho absoluta convicção disso” (COLLI apud LACERDA, 2016, on-line).
A criança não precisa ter aprendido a ler para entrar em contato com o mundo da imaginação que a literatura proporciona. Nessa idade, em que temos a fase da aquisição da linguagem, deve-se estimular o contato com os livros, que serão constituídos por uma série de atrativos diferenciados, com a predominância da linguagem não verbal: uso de imagens, cores abundantes e, até mesmo, sons.
Cada vez mais, temos ideias diferentes surgindo com relação a esses livros: para hora do banho, hora de dormir, os recentes pop-ups etc. Esse contato inicial pode despertar o interesse para que a criança cresça buscando mais livros.
É o período da alfabetização, o que desperta a curiosidade nas crianças por tudo que conseguem ler ou identificar, por exemplo. Por isso, os livros devem conter muita ilustração e pouco texto, com palavras grandes, em caixa alta. Preferencialmente, narrativas curtas, como os famosos contos de fada, que despertam a imaginação e o prazer pela leitura, além de trazerem muitos ensinamentos.
No livro Como Incentivar o Hábito de Leitura, Bamberger (2000) descreve várias possibilidades em que professores e pais podem se embasar para incentivar crianças a buscarem o universo da leitura. Dentre muitas atividades que o autor cita, por exemplo, como ler em casa ou projetos que podem ser criados na escola e/ou nas bibliotecas, como clube de leitura, destaca-se uma em especial: a contação de histórias. Segundo o autor, “ouvir é mais fácil do que ler e como o leitor ajuda a tornar compreensíveis o significado e o caráter do texto com a voz e a expressão facial, até os que não gostam de ler se sentirão encantados” (BAMBERGER, 2000, p. 79).
Na verdade, contar histórias é uma atividade tão antiga e que teve uma importância muito grande na formação da humanidade. Quem nunca ouviu histórias que são contadas por gerações e gerações nas famílias? O objetivo, nessa época, era a simples transmissão de conhecimento, de histórias da família mesmo, tendo em vista a ausência de meios de comunicação como conhecemos hoje, não é mesmo?
Nos dias atuais, a contação de história foi ressignificada. É um momento muito importante na educação infantil, principalmente para as crianças que ainda não foram alfabetizadas, pois estarão ouvindo histórias, entrando em contato com o mundo da imaginação, aliado a um pouco de ludicidade, pois, geralmente, nessas contações, o professor, ou outro mediador, se fantasia, leva adereços, faz uma voz diferenciada para cada personagens, enfim, utiliza vários elementos diferentes para despertar o interesse da criança por uma história inspirada em livros ou, inclusive, inventada.
A criança é facilmente atraída pelas histórias, pelas contações e por seus personagens. Provavelmente, você já viu ou ouviu crianças dizerem: “eu sou o Homem Aranha”, “eu sou a Branca de Neve”. Elas se identificam com as histórias e querem fazer parte da fantasia. Por isso, é interessante inseri-las no meio ou no final da contação de histórias, sempre que der.
Com o domínio da leitura, tem-se a perder, um pouco, a importância do aspecto visual do livro. O adolescente passa a ser motivado por histórias que ampliam a imaginação, com grandes aventuras, mistérios e suspense.
No entanto, ao pensar nas características da literatura destinada aos adolescentes, uma preocupação maior surge e é, frequentemente, apontada: o fato de que muitos perdem o encanto pelo mundo dos livros que tinham quando criança. Muitos pais e professores apontam que adolescentes não leem. Estes, no geral, reclamam das leituras que são indicadas na escola e lidas para a prova em disciplinas específicas, as famosas “leituras obrigatórias”.
Ainda que tudo isso seja verdade e, principalmente nos dias de hoje, com o avanço cada vez maior das possibilidades tecnológicas, uma conhecida pesquisa chama a atenção. Trata-se da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, edição 2016. A maior porcentagem de pessoas entrevistadas, que dizem ler frequentemente ou que estão entre as que mais leem no país, é de pessoas de 11 a 13 anos. 84% dos entrevistados dessa faixa etária se consideram leitores, responderam que gostam de ler. Quando perguntados sobre qual é a principal motivação para leitura, a maioria dos adolescentes respondeu: “por gosto”, enquanto pouquíssimos assinalaram outras opções, por exemplo: “obrigação escolar”.
Com isso, e diversos outros dados obtidos na pesquisa, fica o questionamento: por que ainda insistimos em dizer que adolescentes não leem e que não gostam de leitura? Na verdade, muitos não são motivados, não possuem professores e pais que incentivam e acabam crescendo sem ter o interesse despertado para esse mundo das letras. O fato é que, ao contrário do que muitos costumam dizer por aí, são os adolescentes que mais movem a questão da literatura no mundo! Basta pensarmos em fenômenos atemporais, como a saga escrita pela britânica J. K. Rowling, Harry Potter, cujo último livro da coleção foi lançado há mais de 10 anos e, ainda assim, é muito vendido, lido e desperta paixões por esse mundo nos jovens que o leem.
Outro questionamento importante de ser feito diante desses dados e de tantas pessoas que criticam as leituras dos jovens é: a quais leitores/leituras eles se referem? Estão dizendo que existe um tipo melhor de literatura ou algo assim? Porque, muitas vezes, não consideram como válidas as leituras de um best-seller, por exemplo. O que você acha? Existem leituras melhores que outras? Algumas leituras não possuem valor literário?
São muitas as vantagens de todas as pessoas terem o hábito de ler, especialmente os textos literários, porque estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em relação ao outro (COELHO, 2000).
Como citado por Coelho (2000), a literatura possui muitos benefícios comprovados e dos quais ninguém duvida. Seguem alguns outros: ampliação de vocabulário, promoção do senso crítico, estimulação da criatividade, melhora da ortografia, ajuda da memória etc. Deve-se ter em mente, porém, que ninguém vai começar a ler um livro apenas porque vai ajudar a melhorar a ortografia, por exemplo. As pessoas leem livros porque querem, porque encontram neles passatempo, diversão, fuga da realidade. Ao encontrar um tipo de livro que desperte seu interesse, você continuará lendo outros, o que pode, muitas vezes, se tornar um hábito, um hobbie e, até mesmo, uma grande paixão.
Quando criança, todos gostam dos momentos lúdicos do livro, quando o pai ou a mãe lê para a criança dormir ou quando a professora conta a história de modo diferente. Mas é na adolescência que, no geral, essa paixão deve ser ainda mais despertada.
A leitura, na infância, satisfaz as necessidades e interesses das várias fases de desenvolvimento, de maneira demasiado unilateral. Quando, mais tarde, os interesses se modificam (diminuindo o amor da aventura), muitas crianças param completamente de ler. A motivação para a leitura é demasiado fraca (BAMBERGER, 2000, p. 20).
Ainda na pesquisa Retratos da leitura no Brasil (FAILLA, 2016), os gêneros que se sobressaem nas escolhas dos adolescentes são separados em duas faixas: 11 a 13 anos e 14 a 17; estão inseridos contos, histórias em quadrinhos, gibis, poesias e romances. Vamos falar um pouco mais sobre os diferentes gêneros literários mais lidos por crianças e adolescentes no tópico a seguir.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil traz dados muito interessantes, tanto positivos quanto negativos, relacionados ao perfil de leitura dos brasileiros. Vale a pena a leitura, principalmente para professores que possuem a missão de formar crianças e jovens leitores. Leia-a na íntegra no link disponível em: https://bit.ly/2RHtlRT. Acesso em: 21 jan. 2020.
A literatura infantil não é um gênero e grupo único e homogêneo, pelo contrário, possui algumas diferenciações embasadas, principalmente, na questão das idades específicas de cada um. A respeito das características literárias mais adequadas à cada idade, assinale o que for correto.
Somente é fundamental que se apresente livros a crianças a partir da faixa dos 6 aos 8 anos, pois é o período da alfabetização, em que elas estão aprendendo a decodificar a língua.
Incorreta. Pois muitos estudos apontam a importância de manusear livros, de ver as imagens e, também, da leitura por parte dos pais e professores.
Desde bebês, o trabalho de incentivo à leitura já pode ser adotado. Nessa fase, conhecida como pré-leitura, a criança entra em contato com o livro, manuseando-o, interagindo, vendo imagens e aguçando a curiosidade com esse material.
Correta. Sempre que possível, é importante introduzir a literatura desde cedo. Nos dias de hoje, está cada vez mais fácil, com livros diferenciados para bebês.
A fase interpretativa é compreendida pela faixa etária até os 6 anos, pois as crianças ainda não leem, mas interpretam as imagens que são predominantes nos livros.
Incorreta. Essa fase das imagens é chamada de pré-leitura. A fase interpretativa é partir dos 10 anos.
Após ter o domínio da leitura, a criança entra na chamada fase compreensiva, que conta com histórias fantásticas e mundos diferentes para atrair a atenção do leitor a partir dos 10 anos.
Incorreta. A fase compreensiva abrange crianças dos 6 aos 8 anos, é a fase do início da alfabetização.
Não há especificidades nos livros quanto a materiais diferenciados para cada idade. Os livros infantis apenas contam com imagens grandes e textos curtos.
Incorreta. Pois há sim especificidades. Hoje em dia, há livros com dobraduras, sons, que imitam travesseiros, à prova d’água para a hora do banho, dentre muitos outros.
Caro(a) leitor(a), já falamos bastante sobre o fato de que, por muito tempo, não existia a literatura voltada para as crianças. Quando esta passou a existir, o adjetivo infantil, associado à palavra literatura, ganhou um significado único e generalizante, como se fosse um único gênero textual. Dessa forma, seria como se todas as obras infantis tivessem as mesmas características, ou seja, deixando de lado as especificidades que encontramos nos diferentes gêneros literários que existem.
Lembremos, também, que, inicialmente, havia três grandes gêneros literários que surgiram na antiguidade grega (teorizados por Aristóteles): épico, lírico e dramático. A partir destes, foram surgindo e ramificando diversos outros com o passar do tempo. Basicamente, podemos dizer que, dos citados, se originaram, respectivamente, os narrativos, os poéticos e os teatrais.
Para falar disso, primeiramente, vamos abordar o próprio conceito de gênero textual. Bakhtin (1992) afirma que os gêneros são facilmente mutáveis, ou seja, suas características podem mudar constantemente, inclusive, o próprio gênero pode deixar de existir e outros podem surgir a qualquer momento, de acordo com os usos no dia a dia e com suas funções sociais.
Além disso, gêneros são textos que são agrupados em diferentes categorias, com características em comum, ou com a mesma função social, o mesmo uso. Ainda segundo Bakhtin (1992), gêneros são discursos que podem ser identificados por seus usos e funções sociais quanto à forma, quanto ao estilo e quanto aos temas que apresentam.
Conhecer os principais gêneros e, principalmente, ter em mente quais os tipos que mais agradam a esse público se faz necessário, portanto, na medida em que contribui para uma melhora no processo de formação de leitores.
É uma narrativa ficcional e curta, com personagens, descrições de espaço e tempo, conflitos e aventuras. Há muitos tipos de contos, mas, quando se pensa na literatura infantojuvenil, dois se destacam: o conto de fadas e o conto maravilhoso. Muitas pessoas se confundem, não sabe a diferença entre os dois ou pensa que se trata do mesmo gênero.
Tanto os contos maravilhosos, quanto os contos de fadas são formas de narrativa maravilhosas surgidas de fontes bem distintas, dando expressão à problemática bem diferente, mas que, pelo fato de pertencer ao mundo do maravilhoso, acabaram identificadas entre si como formas iguais (COELHO, 1987, p.11).
Vamos ver um pouco sobre as diferenças dos dois, com base nos estudos de Coelho (1987).
Primeiramente, os contos de fada têm origem celta e possui um herói ou uma heroína que tenta vencer obstáculos para sua autorrealização. Muitas vezes, esses personagens recebem ajuda de encantamentos ou metamorfoses, que podem ou não contar com a presença de uma fada, como é o caso de “Cinderela”, escrito por Perrault. Quase sempre há dualidade entre o bem e o mal, em que o bem sempre vence, demonstrando o caráter moralizante das histórias infantis. Outros exemplos são: Branca de Neve, A pequena sereia etc.
Os contos maravilhosos, por sua vez, têm origem nas narrativas orientais. Geralmente, os heróis ou as heroínas enfrentam obstáculos por alguma problemática social ou histórica, por exemplo, para a conquista de riquezas e ascensão social; vivem aventuras diversas por necessidade de sobrevivência. Nesses contos, temos a presença de alguns elementos mágicos, como em O gato de botas e Aladim e a lâmpada maravilhosa.
Coelho (1987) também aborda as características recorrentes nos contos maravilhosos, uma espécie de ciclo ou trajetória que os autores seguem ao criar suas obras. Resumidamente, temos as seguintes etapas:
São, geralmente, textos mais curtos que os contos. Têm linguagem informal e retratam acontecimentos do dia a dia, com pitadas de humor e/ou críticas. São mais lidos pelos adolescentes, e a linguagem coloquial os cativa. Um exemplo de cronista brasileiro é Luis Fernando Verissimo, com seu conhecido Comédias para se ler na escola, que, ao retratar esse universo, cria-se grande identificação de alunos. Ótimo livro para ser adotado em escolas. Além dele, ainda contamos com Fernando Sabino, Martha Medeiros e tantos outros; até mesmo escritores conhecidos por escrever outros gêneros acabaram se aventurando pelo mundo da crônica, como o poeta Carlos Drummond de Andrade e a contista e romancista Clarice Lispector.
Trata-se de uma narrativa cujos personagens são, normalmente, animais que falam e possuem outras características humanas. Há a clara intenção de difundir, por meio das ações das personagens, mensagens de cunho moral, que podem aparecer de forma explícita ou implícita.
Acredita-se que a fábula teve origem muitos anos antes de Cristo, na Grécia antiga, com Esopo. Os textos mais famosos desse gênero pertencem a ele e foram recontados e adaptados ao longo dos séculos. Quem nunca ouviu a famosa história das formigas trabalhadoras e da cigarra que só queria saber de cantar sem se preocupar com o inverno e que iria ficar sem comida? Ou, ainda, a famosa corrida entre a lebre e a tartaruga, com a vitória desta, que tem a fama de ser lenta? Monteiro Lobato, o famoso escritor de literatura infantil brasileira, além de ter escrito o clássico Sítio do pica-pau amarelo, dedicou-se a escrever fábulas parecidas com as de Esopo.
Muito semelhante à fábula, pelo fato de apresentar sempre personagens não humanos sendo retratados de forma racional e, ainda, ter a lição de moral. O que difere daquela é que, no apólogo, o foco está, basicamente, nos objetos que falam, pensam e possuem algumas ações humanas.
Até agora, só falamos em gêneros narrativos, mas há os escritos em versos e estrofes, muitas vezes, com rimas e outros elementos que conferem ao texto ritmo e musicalidade. Trata-se de um gênero que possui como objetivo expressar, com grande subjetividade, sentimentos do eu lírico.
Alguns autores clássicos da literatura também se enveredaram pelo fazer poético específico para crianças, como é o caso de Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, de quem a grande maioria já deve ter ouvido alguma poesia, pelo menos uma vez na vida. Afinal, quem nunca ouviu aquela música: “Era uma casa / muito engraçada / Não tinha teto / não tinha nada…”, escrita por Moraes e musicada por Toquinho?
Enquanto arte, a literatura se relaciona com outras manifestações artísticas, como é o caso do cinema, que amplifica a ideia da literatura, trazendo, ainda, o contar de uma história, porém com imagens, sons e representações, dando vida aos personagens.
Sabemos que os famosos contos infantis que já citamos ficaram realmente conhecidos por suas adaptações aos cinemas. Na realidade, por não haver a concepção de infância como temos hoje e já discutimos aqui, esses contos de fada não eram para crianças, não possuíam as especificidades adequadas a esse público. Quem se preocupou, de fato, em adequá-los às crianças, trazendo uma linguagem mais adequada, utilizando-se de metáforas para contar as histórias foi justamente a Disney. Muitos nem imaginam o teor macabro, assustador que pode ser encontrado nas narrativas originais de filmes tão clássicos para o público infantil.
Robson Loureiro, no texto Educação, Cinema e Estética (2008), fala sobre a importância de extrapolar os ambientes formais de ensino para facilitar a aprendizagem da criança. Ainda mais nos dias atuais, em que a tecnologia dominou todas as esferas, o conhecimento vem de maneira muito rápida para as pessoas, que são bombardeadas diariamente com informações. Esperar que a sala de aula seja a única transmissora de conhecimentos é ilusão.
Aqui, entra um importante papel que o cinema pode exercer, ajudando a fomentar o interesse em determinados temas ou mesmo para a literatura. Por isso, os filmes destinados à infância e à adolescência têm, muito além do intuito da diversão, o mesmo caráter moralizante e educador que os livros. Além, é claro, do fato de que muitos filmes são baseados na literatura.
Para falar um pouco de produções brasileiras, em 2019, estreou o filme Turma da Mônica - Laços, uma aventura de uma das turmas mais queridas do Brasil, criada por Maurício de Sousa, que há muitos anos encanta e fomenta o prazer pela leitura. Trata-se de um filme infantil que, com certeza, levou muitos adultos aos cinemas para relembrar, com grande saudosismo, os anos da infância, as prazerosas leituras dos gibis.
Nesse filme, dirigido por Daniel Rezende, o cachorro do Cebolinha, o Floquinho, desaparece misteriosamente. O dono elabora um plano infalível para tentar achá-lo. Com isso, algumas rivalidades, por exemplo, entre Mônica e Cebolinha, são deixadas de lado para uma aventura juntos em busca do cachorro, mostrando a união para um bem comum, mesmo entre duas crianças que vivem brigando. Um filme que dá verdadeiras lições de amizade entre as crianças. Outros sucessos literários brasileiros já foram adaptados para os cinemas, como é o caso de O menino maluquinho, de Ziraldo.
Além desses, é importante citar os filmes de animação, preferidos das crianças. São inúmeros exemplos que podem ser citados, que dão lições incríveis aos pequenos (e aos grandes também). Para citar alguns, temos Moana: um mar de aventuras (2017), que traz uma belíssima história que foge um pouco dos padrões dos contos de fadas, apesar de ser da Disney, porque retrata a trajetória de uma heroína cuja aventura não está atrelada ao casamento com um príncipe, e sim com uma missão para livrar a ilha onde a família morava de uma terrível maldição.
Os contos de fada e os maravilhosos possuem mais semelhanças que diferenças, por isso, é frequente que as pessoas se confundam. Assinale a alternativa que demonstra a principal diferença entre esses dois gêneros tão queridos das crianças.
A presença obrigatória do elemento fada nos contos de fadas.
Incorreta. A autora Nelly Coelho demonstra que não há essa obrigatoriedade. O conto Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, é de fadas, mesmo sem ter esse elemento.
Somente no conto maravilhoso há elementos fantásticos, ou seja, que são mágicos. Os contos de fada se pautam mais na realidade, apenas com humanos e suas ações.
Incorreta. Ambos possuem elementos mágicos. O próprio conceito de fada vem trazer esse elemento para ajudar na resolução de conflitos.
Enquanto nos contos de fada as personagens buscam uma realização a nível pessoal e individual, o conto maravilhoso está mais ligado a grandes problemas sociais, como a miséria.
Correta. Nos contos maravilhosos, temos, frequentemente, discussões sobre questões sociais, a busca de ascensão social, o questionamento das desigualdades sociais, e é isso o que o diferencia das ambições individuais dos contos de fada.
No conto de fada, temos apenas a busca pela realização do casamento entre o príncipe e a princesa, enquanto, no conto maravilhoso, há outras temáticas mais ligadas a aventuras.
Incorreta. A relação entre príncipes e princesas não é fundamental. Novamente, temos Chapeuzinho Vermelho, que busca algo individual, salvar a si e a vovozinha do lobo mau.
No conto de fada, há apenas personagens humanos e reais, enquanto, no maravilhoso, há personagens de fantasia, como duendes, animais falantes e elementos mágicos.
Incorreta. Ambos podem ter elementos que fogem da realidade, o que conta mesmo é o objetivo da história e da aventura do herói.
Agora, leremos alguns exemplos de textos para identificação das características estudadas.
Quadro 2.1 - Texto 1
Fonte: Colasanti (2000, p.10-14).
E aí, aluno(a), conseguiu identificar em qual dos dois tipos de contos A moça tecelã se encaixa? Se você respondeu conto maravilhoso, acertou! Percebe-se a presença de um elemento mágico: o tear! Tudo que ela tece se transforma em realidade. Até chegar ao ponto de tecer um marido, mas este faz tantas exigências que ela não o quer mais. Um ótimo conto para se estudar com crianças e jovens, justamente para abordar a questão do consumismo, por exemplo, do querer muitas coisas materiais e acabar não tendo, às vezes, carinho, amor, companheirismo, que são tão importantes para todos!
Trata-se de um conto, ainda, que rompe alguns padrões, pois a moça almejava uma família, porém não se submete às exigências absurdas do marido, percebendo que é melhor ficar só. Nesse sentido, pode-se, até mesmo, com adolescentes, propor metáforas a esse conto, com discussões mais sérias, como uma possível violência simbólica sofrida pela personagem e como ela conseguiu perceber e se livrar de um relacionamento abusivo.
Quadro 2.2 - Texto 2
Fonte: Veríssimo (1994, p. 73-74).
Uma cena de um dia comum: almoço entre uma família, com personagens comuns, nada de fantasioso demais ou imaginário como ocorre em contos e fábulas, se não fosse um acontecimento: o marido chegar em casa usando um nariz postiço e toda a sua vida mudar depois disso. Essa crônica serve para um debate até mesmo das diferenças, afinal, todos achariam estranho, de fato, um homem usando um nariz postiço, porém em que isso alteraria quem ele é, sua dedicação à família e à profissão? As pessoas estão acostumadas a reagir, a estranhar qualquer comportamento que fuja dos padrões, sem dar a devida importância à essência de cada um. Vamos ver, a seguir, outros exemplos de livros de crônicas.
Quadro 2.3 - Texto 3
Fonte: Assis (1983, p. 73-74).
O exemplo de Machado de Assis é bem famoso, embora não se trate de uma história infantil, principalmente devido à linguagem rebuscada. Porém poderia ser facilmente adaptada para uma leitura para as crianças, com encenação utilizando-se de objetos.
Nesse apólogo, temos uma disputa de vaidades que podem ser associadas a perfis humanos e, até mesmo, ao trabalho. Pode ser lido por mais jovens, mostrando a importância de cada um fazer a sua parte, de que tanto a agulha quanto a linha têm funções necessárias e distintas para a roupa ficar pronta. Nenhum trabalho deveria ser inferior a outro. Com os maiores, podem ser trabalhados outros pontos ainda, como o fato de alguns fazerem o trabalho duro enquanto outros levam o crédito maior.
Quadro 2.4 - Texto 4
Fonte: Bandeira (2009, n.p.).
Esse poema faz parte de um livro com o mesmo título. Ele fala sobre uma questão universal: muitas vezes, os adultos se esquecem de que um dia foram crianças, tiveram as mesmas dúvidas e medos. Gostaram do mesmo universo fantasioso e da imaginação. Muito se fala em crianças terem que respeitar os mais velhos, mas não podemos nos esquecer de que as crianças também têm direitos que devem ser respeitados. E o poema de Bandeira nos relembra isso!
Por tanto tempo tendo suas especificidades desconsideradas, as crianças foram sendo tratadas apenas como adultos em miniaturas, por isso, é importante mostrar a elas um poema como este, que se volta para elas, criando muita identificação. O ritmo de leitura faz com que seja atrativo ler em voz alta e declamar, por exemplo. Aliás, concursos de declamação de poesias são frequentes em escolas e um ótimo meio de divulgar este gênero literário, que fica, por vezes, esquecido nas aulas, pois quase sempre se dá preferência aos narrativos.
Vamos ver mais alguns livros infantis de poesia que podem despertar a imaginação dos pequenos?
É sabido que o famoso compositor e cantor brasileiro, Chico Buarque, escreve literatura. Livros como Gota d’água (1974), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e tantos outros fizeram tanto sucesso que conferiram ao autor o Prêmio Camões em 2019, um dos maiores reconhecimentos para autores que escrevem em Língua Portuguesa. No livro infantil Chapeuzinho Amarelo, temos a intertextualidade com Chapeuzinho Vermelho, mas conta a história de uma menina que era muito medrosa, era “amarela de medo”, mas que conseguiu enfrentar seus medos, deixando grandes lições de coragem às crianças por meio da linguagem sensível, rimada e poética. A seguir, veja um trecho do livro:
E de todos os medos que tinha
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.
Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
Mesmo assim a Chapeuzinho
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
Fonte: Buarque (2017, n.p.).
Esse texto é uma ótima ideia para trazer para as crianças personagens conhecidos, mas ressignificados, diverti-las, mas depois cumprir um papel importante da literatura infantil, que é ensinar algo, ou seja, propor uma discussão sobre os medos de cada um e meios de enfrentá-los, como a Chapeuzinho amarelo fez!
Quadro 2.5 - Texto 5
Fonte: A corrida… (on-line).
Esse texto tem o gênero facilmente identificável! A fábula, geralmente, começa com o famoso “era uma vez”, mas não é regra. Além disso, tem a presença frequente dos animais e a moral da história.
No texto lido, temos uma moral um tanto motivadora, a fim de que ninguém desista de seus sonhos e, ainda mais importante, que não dê ouvidos quando alguém (e sempre tem alguém) tenta desanimar e dizer que você não vai conseguir.
Como vimos, esse gênero surgiu há muitos anos, na Grécia Antiga, mas muitos autores continuam se embasando naquele modo de criar histórias com lições de moral, como é o caso de Monteiro Lobato.
No livro Fábulas, Monteiro Lobato uniu os personagens mais famosos dele (Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde e Dona Benta) com as clássicas histórias criadas por Esopo. Dona Benta é a responsável por transmitir esses conhecimentos aos netos e a nós, leitores(as). É um excelente livro para abordar esse gênero de uma maneira um pouco diferente.
E os demais livros de literatura infantil? Como já abordamos, existem os gêneros literários que vimos anteriormente, mas a própria literatura infantil ou a literatura juvenil são vistas como um gênero único quando temos os livros contando histórias narrativas um pouco mais longas que um conto ou crônica, por exemplo, mas que ainda tem predominância das grandes ilustrações, que dominam a página com pouco texto.
É membra da Academia Brasileira de Letras. Recebeu diversos prêmios por seus livros, como o Prêmio Jabuti, por três vezes.
Com apenas 24 páginas, Menina bonita do laço de fita traz uma importante mensagem sobre a Diversidade Étnico-Cultural Brasileira. Apresenta, ainda, elementos importantes à literatura infantil, como a presença do animal que fala, nesse caso, o coelho que admira a beleza da menina negra e para o livro inteiro questionando e tentando descobrir como ela faz para ter essa pele tão linda!
Como diz o título de um dos seus livros, para Ruth Rocha (2007), Toda criança do mundo mora no meu coração. Talvez por isso ela tenha se dedicado tanto à literatura para os pequenos. Recebeu diversos prêmios literários, como da Academia Brasileira de Letras, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, oito prêmios Jabuti e muitos outros. A lista não para por aí!
Além de tantos livros para entreter as crianças e/ou para ensinar grandes lições, no livro Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha, a autora se preocupa em falar dos direitos básicos infantis, com linguagem adequada ao público-alvo, em forma de versos. Além de citar pontos como proteção e cuidado, aborda a importância do brincar, por exemplo.
Segue um trecho desse lindo e tão necessário trabalho.
Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.
Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.
(...)
Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir…
Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.
Fonte: Rocha (2002, p. 45).
Um tipo de texto que é quase unânime entre os jovens é o suspense ou o romance policial. Tratam-se de histórias que possuem algum crime ou tragédia, e alguém é destinado a resolver esse mistério. Espera-se que o desfecho seja surpreendente, o que torna ainda mais interessante o gênero.
Acredita-se que tal gênero teve início em abril de 1841, nas colunas de um periódico da Filadélfia, o Graham's Magazine, com a publicação de The Murders in the Rue Morgue (Assassinatos na Rua Morgue), de Edgar Allan Poe, escritor que ficou famoso não só pelos policiais mas também pelo terror.
Um dos mais famosos detetives da literatura é Sherlock Holmes, idealizado pelo britânico Arthur Conan Doyle, a primeira aparição foi em Um estudo em vermelho (1887). O personagem é extremamente inteligente, usa a lógica como ninguém, mas conta com a ajuda de um amigo, característica recorrente também nos livros dessa temática, dr. Watson, o responsável por narrar as aventuras e sempre se surpreende com a perspicácia do colega de trabalho. Há muitos outros livros que contam as aventuras dos dois, as quais já foram adaptadas, de diversas formas, em séries televisivas e cinema.
Outros escritores que se aventuraram nessa temática são: Agatha Christie, Dan Brown, Stieg Larsson, dentre outros. Vamos ver dois autores contemporâneos que seguiram um pouco das características do gênero policial, mas as adaptaram aos dias atuais.
Com mais de 80 títulos publicados, Bandeira é o escritor de livros juvenis mais vendido no Brasil. É conhecido pela série Os Karas, um grupo de estudantes que se unem para desvendar crimes na cidade de São Paulo. Leituras como esta são extremamente cativantes para jovens. São rápidas, ágeis e dão aquela vontade de não parar de ler para descobrir o que acontece; normalmente, tenta-se resolver os mistérios antes e, quando chega ao final, em geral, se surpreende!
Os livros dessa série são, em ordem cronológica de escrita e das aventuras dos amigos: A Droga da Obediência (1984), Pântano de Sangue (1987), Anjo da Morte (1988), A Droga do Amor (1994), A Droga de Americana (1999) e A Droga da amizade (2014).
Os personagens desse livro são uma espécie de Sherlock Holmes juvenil. Extremamente inteligentes e de raciocínio rápido, desafiam a polícia, descobrem coisas que esta não consegue e salvam vidas em perigo. Unem, ainda, a essas aventuras conflitos comuns de estudantes: o primeiro amor, as dificuldades nas notas, esportes etc.
Além dessa série, o autor possui outros livros de mistério e suspense, tema que, muitas vezes, é o que mais interessa os jovens, como: A prova de fogo (1996) e Descanse em paz, meu amor (1996), que abordam, até mesmo, elementos sobrenaturais.
Há, também, alguns livros inspirados em clássicos famosos. Agora estou sozinha (1984) reconta nada menos que Hamlet (1609), de Shakespeare; enquanto A Marca de uma lágrima (1985) buscou inspiração em Cyrano de Bergerac (1897), de Edmond Rostand.
Apesar de já terem sido publicados há algum tempo, são livros que ainda figuram frequentemente em listas obrigatórias escolares para o Ensino Fundamental, justamente porque são obras universais, atemporais, um conceito muito importante, que significa que elas não ficam paradas no tempo, não se limitam a um contexto histórico. Por retratarem o dia a dia de adolescentes com conflitos que ocorrem, muitas vezes, no ambiente escolar, essas obras podem ser lidas atualmente e gerar muitas identificações com seus personagens.
Muito popular nas listas de livros indicados para o Ensino Fundamental, esse autor é o criador da Turma dos Tigres, semelhante a Os Karas do autor brasileiro, ou seja, há jovens que desvendam grandes mistérios também.
Porém há algo diferente em suas obras que muito instiga os jovens leitores: estes são convidados a participarem da história, a se juntarem à turma. Antes de iniciar as histórias, temos uma ficha de detetive para colocar os principais dados sobre você e as suas habilidades. Ao longo da narrativa, surgem mistérios e cabe ao leitor adivinhá-los; caso consiga, marcar a resposta numa ficha de detetive. Caso não consiga adivinhar as respostas, é só buscar o decodificador do seu kit detetive e olhar a resposta.
Realmente, dá vontade de participar dessa aventura, não? Ainda há muito o que explorar desse universo tão vasto e encantador que é a literatura infantojuvenil. Poderíamos ficar horas falando de autores e livros que marcaram nossa vida. Tenho certeza de que todos se lembram de uma história que leu ou que ouviu em uma contação e te marcou.
O mais interessante desse tipo de literatura é que, na verdade, não há idade! É uma delícia ler livros infantis e ter a chance de modificar vidas levando esse gosto aos pequenos, podem ser nossos filhos, sobrinhos ou alunos.
Leia o texto a seguir.
Melhor Amigo - Fernando Sabino
A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
– Meu filho? – gritou ela.
– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.
– Que é que você está carregando aí?
Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido, tentou ainda ganhar tempo.
– Eu? Nada…
– Está sim. Você entrou carregando uma coisa.
Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la. Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
– Olha aí, mamãe: é um filhote…
Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?
Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:
– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.
– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado:
A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!
– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou esperando a reação da mãe.
– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não faço mais nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
– Sua alma, sua palma.
Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois… ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: – Meu melhor amigo, não tenho mais ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.
Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa
– Pronto, mamãe!
E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.
– Eu devia ter pedido cinquenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.
Fonte: Sabino (2011, p. 81).
Sobre o texto lido, assinale a resposta correta quanto ao gênero textual a que ele pertence.
É uma fábula, pois há a presença de animais, com uma lição de moral ao final, a partir da fala do menino.
Incorreta. Na fábula, os animais conversam e são os responsáveis pela lição de moral. Nesta, é apenas um animal doméstico mesmo.
Trata-se de uma crônica, pois aborda uma cena do dia a dia, com personagens comuns e, ainda, conta uma certa ironia e humor.
Correta. Resposta correta. A crônica aborda um pequeno instante do dia de uma mãe e de um filho, sem nada de fantasia ou mágica.
É um apólogo, pois há a presença de animais interagindo com os humanos.
Incorreta. O apólogo é quase parecido com a fábula, porém, geralmente, temos a presença de objetos animados, o que não acontece nesse texto.
Trata-se do conto maravilhoso, que põe em discussão um problema social: os animais abandonados e seu resgate.
Incorreta. O conto maravilhoso tem como foco a busca do herói ou da heroína, tendo em vista algum problema social. Não é o foco desse texto.
É uma releitura atual de um conto de fadas, pois, neste, temos sempre um herói em busca de algo pessoal, como o menino querendo salvar o cachorro.
Incorreta. Para ser conto de fadas, há a presença de elementos mágicos que o ajudam no feito. Além do mais, neste texto, não temos um final esperado pelos contos de fada. E finais inesperados também fazem parte das características da crônica.
Nome do livro: A psicanálise dos contos de fadas
Editora: Paz e Terra
Autor: Bruno Bettelheim
ISBN: 8577530388
Um livro muito instigante para quem gosta de boas histórias infantis, mas quer entender as origens e as várias simbologias por trás dos contos originais. Além disso, aborda quanto os contos de fadas podem ser grandes aliados em termos emocionais para as famílias.
Nome do filme: A viagem de Chihiro
Gênero: Animação
Ano: 2001
Direção: Hayao Miyazaki
O conflito desse filme é bem comum a filmes infantis: perder-se por algum motivo e a tentativa de voltar para casa. Já vimos esse tema em clássicos como Alice no país das maravilhas e O mágico de Oz. Porém é importante conhecer filmes que vão além do cinema estadunidense. O diretor é japonês e esse filme ganhou 35 prêmios, dentre os quais está o Óscar de melhor filme de animação.