Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade, você vai compreender a Ginástica em suas diferentes formas de expressão, as instituições e organizações que fazem seus regulamentos e estimulam seu desenvolvimento, o seu desenvolvimento ao longo do tempo, os principais métodos no mundo e no contexto brasileiro, os campos de atuação da Ginástica, além das possibilidades de atuação do profissional de Educação Física. O principal objetivo dessa unidade é compreender a Ginástica como uma manifestação da Educação Física em todos os seus aspectos: histórico-culturais, sociais e técnico-pedagógicos. Para isso, esse material foi desenvolvido mostrando o percurso da ginástica, desde a sua origem até seu desenvolvimento na atualidade, perpassando as instituições que passaram a regê-la.
Caro(a) aluno(a), nesse tópico, vamos conhecer o universo da Ginástica e compreendê-la como forma de expressão na atualidade. Veremos no decorrer da unidade que em cada momento da história a Ginástica possuiu uma função que remetia e simbolizava conceitos e objetivos da época em que era praticada. A Ginástica se constituiu a partir de diferentes conceitos, com funções, significados e objetivos distintos, de acordo com a comunidade em que estava inserida na época.
Por se tratar de um conhecimento historicamente construído, a Ginástica se estabeleceu como uma forma de expressão por se integrar e se aliar a outras formas de expressão, como a dança, música, circo, folclore e mímica. Essa interação levou a Ginástica a ser um campo vasto e rico em conteúdos, sendo uma inesgotável possibilidade de expressão, criação e transformação (MARCASSA, 2004). Além disso, a Ginástica possibilita o aluno vivenciar, conhecer, compreender e problematizar algumas questões sociais por meio de sua prática (AYOUB, 2003).
A Ginástica Geral trabalhada no contexto escolar além de ser uma rica forma de expressão e manifestação corporal, destaca-se como sendo uma possibilidade de criação e participação efetiva do educando por meio da sua experiência de vida. O trabalho com a Ginástica também contribuiu significativamente para o desenvolvimento do aluno, pois, partindo do que a criança já sabe sobre esse tema, poderá propor novos conhecimentos e desafios.
Nesse sentido, a prática de Ginástica no contexto educativo é uma ferramenta usada para que os alunos construam um espaço em que todos possam participar e vivenciar o universo de conhecimento da Ginástica, possibilitando a integração individual e social. Cada aluno contribui com a sua experiência e isso os leva a entrar em contato com realidades sociais diferenciadas, que colaboram para o seu próprio desenvolvimento.
Essas experiências individuais podem ser socializadas em uma aula de Ginástica Geral (GG) por meio da fala, que se apresenta como meio auxiliar no processo de desenvolvimento infantil. Assim, a prática da GG possibilita a troca de experiências individuais e colabora para o desenvolvimento da aula e da produção do conhecimento. Segundo Souza (1997, p. 17), a GG possui
[...] um alto valor educacional, por seus aspectos sociais, recreativos e de saúde, esta atividade permite que, através de sua prática, se possa abrir um espaço para a criatividade, estimulando a participação de qualquer ser humano, independente de raça, nível social, idade, sexo, condição física ou técnica.
A seguir, veremos como a Ginástica é constituída e dividida atualmente, de acordo com a Federação Internacional de Ginástica (doravante FIG).
Ginástica Artística: é uma modalidade regulamentada pela FIG, que está presente no programa oficial dos Jogos Olímpicos. É caracterizada por ser uma modalidade na qual o ginasta se expressa com o próprio corpo por meio de um conjunto de movimentos que exigem força, potência, flexibilidade, agilidade, precisão, coordenação e equilíbrio.
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) define essa modalidade como um conjunto de exercícios corporais sistematizados, aplicados com fins competitivos, em que se conjugam a força, a agilidade e a elasticidade. É disputada utilizando aparelhos de grande porte, sendo que as provas masculinas são compostas por seis aparelhos: o solo (sem música), o cavalo com alças, o salto sobre a mesa, a barra fixa, as argolas e as barras paralelas. Já as provas femininas são compostas por quatro aparelhos: o solo (com acompanhamento musical), a trave, as barras paralelas assimétricas e o salto sobre a mesa.
Ginástica Rítmica (GR): modalidade também presente no programa dos Jogos Olímpicos, que combina elementos corporais ao manejo de aparelhos e acompanhamento musical, conferindo sua característica única. Essa modalidade combina elementos da dança e do balé com movimentos acrobáticos ao ritmo de uma música. Fazem parte dessa modalidade os aparelhos: arco, bola, maças, fita e corda.
Na GR, os elementos corporais devem ser realizados com o maior número de direções, sentidos e planos, sempre aliando os movimentos ginásticos com a maior graça e fluidez possível. Os principais elementos corporais executados com os aparelhos são: a onda, o moinho, o pivô e o aviãozinho. Esses elementos serão trazidos com detalhes ao longo desse conteúdo ginástico.
Uma curiosidade é que, apesar de ser competitiva, ser regulamentada pela FIG e participante dos Jogos Olímpicos, trata-se de uma modalidade exclusivamente feminina. A modalidade masculina já é comum em alguns países, principalmente orientais, onde competições nacionais e internacionais são realizadas. Os atletas masculinos competem de maneira individual ou em grupos de seis indivíduos. As séries são compostas por aparelhos de pequeno porte, como arcos, bastão, corda, maças e a mãos livres.
A figura anterior apresenta os aparelhos ginásticos utilizados na Ginástica Rítmica e algumas possibilidades de manipulação. Nas próximas unidades, especificaremos e explicaremos como esses aparelhos podem ser manipulados.
Ginástica Acrobática: é uma modalidade que se caracteriza pela formação de figuras acrobáticas dinâmicas e/ou estáticas, além de elementos de solo, podendo ser apresentada em pares, trios ou grupos, conforme a habilidade e tamanho de cada atleta. Além disso, é uma modalidade que requer habilidades como agilidade, coordenação, força, flexibilidade e equilíbrio. Tem semelhanças e influências dos movimentos de outras Ginásticas, como a Ginástica Artística. Da mesma forma que a GR, as rotinas são realizadas com acompanhamento musical e exige expressão e movimentos corporais sincronizados com a música.
Os exercícios e elementos ginásticos devem incluir a formação de pirâmides humanas que devem ser mantidas por três segundos. Nos Jogos Olímpicos, essa modalidade é apresentada por pares de mulheres, pares de homens, par misto (um homem e uma mulher), grupo de mulheres (três) e grupo de homens (quatro).
Os principais elementos ginásticos nessa modalidade são os equilíbrios, os voos e a flexibilidade. Em todas as rotinas, os ginastas devem trabalhar em equipe, aproveitando as facilidades de cada um para a melhor execução dos movimentos. Cada ginasta pode ter uma posição específica nas pirâmides, de acordo com seu biotipo corporal, fazendo parte da posição de base, intermediário ou volante.
Note, na Figura 1.4, à direita, que os dois ginastas que estão com os pés no solo são chamados de base, o ginasta que está apoiado na base está na posição intermediária, e o ginasta acima de todos é o volante.
Ginástica Aeróbica: é uma modalidade competitiva, mas não olímpica, que surgiu na década de 70, a partir da popularização do exercício aeróbico no mundo. Somente em 1996, a Federação Internacional de Ginástica a reconheceu como uma modalidade competitiva, porém ela ainda não está inclusa no calendário Olímpico.
A principal característica dessa modalidade é o seu dinamismo com movimentos e expressões corporais diversificadas ao acompanhamento do rítmico musical. Nessa modalidade, há competições individuais, em pares mistos, em trios, em grupos de cinco pessoas e em grupos de oito pessoas. Em todas essas formas de competição, os ginastas devem realizar movimentos contínuos em todo o espaço de competição, com movimentos aéreos e no solo, com acompanhamento musical.
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG, 2020, on-line) define essa modalidade como
[...] uma modalidade onde se executam padrões de movimentos aeróbicos complexos, de forma continuada e com alta intensidade, originários da dança aeróbica tradicional, utilizando a estrutura e o estilo da música, e interpretando-a. Padrões de Movimentos Aeróbicos são a combinação simultânea de passos básicos e movimentos de braços executados de forma consecutiva, respeitando a característica da música para assim criar sequências dinâmicas, rítmicas e contínuas, de movimentos de alto e baixo impacto.
Nessa modalidade, há competições individuais, em pares mistos, em trios, em grupos de cinco pessoas e em grupos de oito pessoas. Em todas essas formas de competição, os ginastas devem realizar movimentos contínuos em todo o espaço de competição, com movimentos aéreos e no solo, com acompanhamento musical.
Trampolim Acrobático: modalidade inserida recentemente nas Olimpíadas (Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000), consiste em realizar saltos e acrobacias no ar, pulando em um trampolim. De todas as modalidades olímpicas, essa é a que mais contempla o lema Olímpico, seguindo os princípios de sempre ir mais alto, mais rápido e mais forte. Atualmente, os atletas conseguem ultrapassar a altura de 10 metros quando utilizam o trampolim.
Em mundiais, a modalidade é disputada em quatro categorias: trampolim individual, trampolim sincronizado (dois atletas realizam a mesma apresentação, ao mesmo tempo em trampolins diferentes), duplo minitrampolim (prova semelhante ao salto sobre a mesa da Ginástica Artística onde o ginasta percorre uma distância em máxima velocidade e realiza duas sequências de movimentos até a aterrissagem fora do aparelho) e o tumbling (o ginasta deve realizar sequencialmente oito elementos de saltos. Nos Jogos Olímpicos, essa modalidade é disputada somente na modalidade individual (FIG, 2020).
Todos os movimentos são realizados em um trampolim com 5,05 metros de comprimento por 2,91 metros de largura, conforme exemplificado na figura a seguir.
Ginástica para Todos: é uma modalidade não competitiva que oferece uma variedade de atividades adequadas a todos os gêneros, faixas etárias, habilidades e formatações culturais. É por meio de eventos da Ginástica para Todos que a Ginástica é contemplada como uma atividade que pode ser praticada por todas as pessoas, além de seguir os princípios “Diversão, Fitness, Fundamentos e Amizade”. Sua principal característica é relacionar todos os fundamentos da Ginástica e ser um fenômeno cultural e educacional, uma vez que reflete aspectos sociais, características de um povo e suas tradições. A Ginástica para Todos é uma prática voltada para a criatividade e estimula a participação de todos, independente de idade, condições físicas ou técnicas. O objetivo dessa atividade é realizar os movimentos ginásticos com prazer e originalidade, mostrando os benefícios da prática, respeitando a individualidade e incentivando a autossuperação.
A Ginástica para Todos é o centro de dois eventos exclusivos da FIG: o The World Gymnaestrada e o The World Gym for Life Challenge. Ambos são realizados em intervalos de quatro anos, em anos alternados, para garantir que haja um evento internacional a cada dois anos. Em essência, são uma celebração das infinitas possibilidades do desempenho da Ginástica, destinada a participantes de todas as faixas etárias.
Uma curiosidade sobre isso, é que o evento The World Gymnaestrada dura uma semana e é um dos maiores encontros de ginastas de todos os cantos mundo. É realizado em uma cidade diferente a cada quatro anos. Nesse evento, os grupos de ginastas se reúnem para realizar rotinas criativas de exibição e participar de grandes apresentações em grupo, desfrutando de uma atmosfera que enfatiza a diversão, a boa forma, os fundamentos da Ginástica e promove a amizade internacional. Jovens e idosos, iniciantes ou avançados, eles vêm em massa: o The World Gymnaestrada de 2019, realizado na cidade de Dornbirn, na Áustria, reuniu mais de 623 ginastas brasileiros e teve mais de 20.000 participantes de todo o mundo.
A Ginástica para Todos reúne nações através de um mundo de movimento e atividade física e contribui para a saúde global, condicionamento físico e amizade.
Parkour: modalidade que recentemente foi contemplada pela FIG com um comitê e que irá realizar a sua primeira participação nos Jogos Olímpicos de 2020. A filosofia desse esporte é estar constantemente em movimento e nunca parar.
O Parkour tem influência direta da Ginástica francesa e também é originário das ruas. Pode ser resumido como a arte de ir de um ponto para outro, respeitando os princípios-chave da eficiência e da fluidez. O Parkour foi desenvolvido como um método de treinamento, mas ao longo do tempo tem inspirado diversos eventos esportivos e filmes de ação, ganhando muitos seguidores.
Nos eventos da FIG, a área Parkour está repleta de uma variedade de blocos, paredes e barras, projetados para espelhar os diferentes obstáculos encontrados em áreas urbanas. Para superá-los, os atletas devem fazer uso de uma gama de técnicas: salto do gato (saut de chat), salto no braço (saut de bras), drop jump (saut de fond) e corrida de parede (passe-muraille).
Há duas categorias de competição: Speed-run e Freestyle. No evento Speed-run, os atletas devem superar obstáculos para chegar à linha de chegada no tempo mais rápido possível. Já no Freestyle, os atletas fazem uso dos obstáculos para mostrar seu estilo e criatividade. Nessa categoria o desempenho técnico é julgado (FIG, 2020).
Além dessas modalidades contempladas pela FIG, existem outras formas de expressão da Ginástica pelo mundo, por exemplo, a Ginástica Rítmica Masculina, a Roda de Ginástica Alemã, o Rope Skipping, a Ginástica Estética em Grupo, dentre outras.
A Roda de Ginástica Alemã é uma modalidade competitiva, porém não olímpica, que consiste em realizar movimentos dentro de uma roda. Com campeonatos nacionais, a Ginástica de Roda pode ser disputada em três modalidades: competição em linha reta, competição em espiral e salto.
Na competição da linha reta, os ginastas rolam suas rodas para a frente e para trás ao longo de uma linha reta ao executar inversões e rolamentos complicados. Na competição em espiral, os atletas fazem com que a roda gire e balance como uma grande moeda. Para a competição de salto, as ginastas estão em cima de suas rodas e fazem giros e voltas voadoras antes de pisar no patamar.
O Rope Skipping é uma modalidade Ginástica que consiste em pular corda. Nessa modalidade, são utilizadas as mais variadas técnicas de se pular cordas. As apresentações podem ser realizadas individualmente e combinam diferentes formas para criar uma série. Podem seguir o estilo livre ou em velocidade. Os eventos são frequentemente separados por sexo e idade. Existem centenas de equipes competitivas em todo o mundo.
Cada uma dessas modalidades, competitivas e não competitivas, possuem suas peculiaridades, objetivos, funções, elementos obrigatórios e regras específicas que serão apresentadas ao longo desse material didático.
A Ginástica é uma a arte da expressão corporal que envolve a prática de uma série de movimentos que exigem força, flexibilidade e coordenação motora. Praticada de forma competitiva, a Ginástica é dividida em modalidades: Ginástica Artística, Ginástica Acrobática, Ginástica Geral, Ginástica Aeróbica, Ginástica Rítmica, Trampolim Acrobático e Parkour. De acordo com essas modalidades, identifique a alternativa correta.
Na Ginástica Rítmica, homens e mulheres realizam as mesmas provas.
Incorreta. Os homens competem em grupos de seis atletas e sem aparelhos. Na modalidade feminina, as ginastas utilizam aparelhos como a corda, o arco, a bola, as maças e a fita.
Na Ginástica Acrobática, as séries de exercícios são realizadas com movimentos que acompanham um ritmo musical.
Correta. Na Ginástica Acrobática, as rotinas são realizadas com acompanhamento musical e exige expressão e movimentos corporais sincronizados com a música
O Trampolim Acrobático e o Parkour são modalidades em que são realizados saltos e acrobacias a partir do chão.
Incorreta. No Trampolim Acrobático, os saltos e as acrobacias são realizados em um trampolim. Já no Parkour, os saltos são usados para superar os obstáculos.
A Ginástica Geral é a modalidade competitiva mais antiga dos Jogos Olímpicos.
Incorreta. A Ginástica Geral é uma modalidade não competitiva.
A Ginástica Artística é uma modalidade na qual todos os atletas (femininos e masculinos) utilizam os mesmos aparelhos.
Incorreta. As provas femininas são compostas por quatro aparelhos e as provas masculinas por seis aparelhos.
Caro(a) aluno(a), nesse tópico, compreenderemos a estrutura organizacional da Ginástica, as instituições e as organizações que fazem seus regulamentos e estimulam seu desenvolvimento, tanto em nível nacional quanto mundial.
Só houve interesse em organizar e institucionalizar a Ginástica após um grande progresso da modalidade, principalmente na Europa do século XIX, sob a influência dos grandes filósofos e pedagogos dos Métodos Ginásticos. O histórico da Ginástica e sua consolidação será apresentada ao longo dessa unidade.
O reconhecimento fez com que a Ginástica fosse incluída nos currículos escolares e passasse a ser considerada como um elemento importante e essencial para a manutenção da saúde. A partir disso, vários festivais de Ginástica começaram a ser realizados. Inicialmente, eles visavam à confraternização e à ludicidade, como o festival Deutsches Turnfest, com primeira edição em 1860 e realizado até hoje (SANTOS et al., 2006).
A popularização do movimento ginástico na Europa levou à criação de várias federações nacionais, sendo a primeira a Sociedade Federal de Ginástica (Suíça, 1832), seguida pelas federações nacionais da Alemanha (1860), da Bélgica (1865), da Polônia (1867), da Holanda (1868) e da França (1876). Devido ao surgimento dessas federações, houve a necessidade de se criar um órgão único para o intercâmbio, definição e resolução dos temas relacionados à Ginástica. Dessa forma, sob a orientação de Nicolas Cupérus e com a participação da Bélgica, França e Holanda, em 1881, foi fundada a Federação Europeia de Ginástica (FEG).
A ideia inicial de Cupérus era fundar a primeira entidade regulamentadora do esporte gímnico desvinculada de uma concepção de competição:
Meu ideal será sempre o mesmo, e eu sonho com o momento no qual as competições serão supérfluas e que os ginastas se contentarão em ganhar como prêmio pelos seus esforços o equivalente exato em saúde, força, agilidade e tenacidade (CUPÉRUS, 1881 apud PÚBLIO, 2005, p. 22).
Porém seus ideais foram aos poucos vencidos pelo processo de esportivização da Ginástica que ocorreu ao longo do século XX, o que fez com que a Ginástica se instituísse como uma modalidade voltada ao processo de alto rendimento.
Devido ao processo de esportivização da Ginástica, sete anos após o seu surgimento, a FEG organizou o primeiro Campeonato Mundial, em 1903, sob influência do presidente da Federação Francesa de Ginástica, Charles Gazalet:
Foi graças ao seu pensamento e a de alguns ginastas, que a primeira modalidade, a Ginástica Artística, tornou-se competitiva. Primeiramente a prática em campeonatos era exclusivamente masculina e somente em 1928, que mulheres tiveram suas primeiras participações olímpicas e em 1934, suas primeiras disputas em Campeonatos Mundiais (CUPÉRUS, 1881 apud PÚBLIO, 2005, p. 22).
Em 1921, no Congresso de Bruxelas, por proposição do Dr. Schreiner, a FEG passou à denominação de Federação Internacional de Ginástica (FIG), quando os dezesseis países não europeus foram admitidos na entidade. Desde então, a FIG é a entidade responsável pela Ginástica mundial.
A Federação Internacional de Ginástica é, portanto, o órgão máximo para a Ginástica em todo o mundo. É a mais antiga federação internacional estabelecida de um esporte olímpico e tem participado dos Jogos Olímpicos desde o seu renascimento em 1896. A FIG governa oito esportes: Ginástica para Todos, Ginástica Artística Masculina e Feminina, Ginástica Rítmica, Trampolim (incluindo Minitrampolim duplo e Tumbling), Aeróbica, Acrobática e Parkour. Conta com 146 federações membros nacionais e tem sua sede na Capital Olímpica de Lausanne (Suíça).
A FIG tem por objetivo regulamentar, controlar e promover eventos referentes às Ginásticas, além de deter autoridade para decidir as regras e os calendários de competições. É, portanto, a entidade de maior poder e influência sobre o esporte em nível mundial. Além disso, a FIG responde diretamente ao Comitê Olímpico Internacional (COI), organização responsável pelas modalidades competitivas dos Jogos Olímpicos.
A filosofia da FIG está pautada nos direitos humanos e na não discriminação racial, política, religiosa ou qualquer outra que infrinja tais direitos. As comissões e os ginastas devem respeitar as relações em equipe, suas federações e seus membros, que também devem corresponder às especificações de uma disputa limpa (fair play) e ao código de ética elaborado pelo comitê executivo (FIG, 2019).
Embora o esporte de competição tenha ganhado a maior atenção da FIG, que acaba gerando grande parte de seu orçamento, políticas de desenvolvimento da Ginástica não competitiva continuaram presentes na organização. Isso se traduz na convivência de modalidades competitivas e demonstrativas, como o ex-presidente da instituição, Yuri Titov (1976-1996) elucida: “Nós somos a primeira federação internacional que se dedica tanto ao esporte competitivo como ao esporte recreativo” (FIG apud VIEIRA, 2013, p. 01). Além disso, a FIG organiza, desde a década de 50, o festival Gymnaestrada Mundial que visa estimular a prática da Ginástica Para Todos a partir de seus quatro fundamentos: Fun (diversão), Fitness (boa forma), Fundamentals (fundamentos) e Friendship (amizade). Esse é um fator que aproxima a FIG de sua origem, apesar da sua relação com o esporte competitivo.
Uma curiosidade a esse respeito é que, no ano 2000, a FIG criou uma Fundação Solidária para amparar ginastas vítimas de acidentes durante o seu período de treinamento ou competições. Infelizmente, alguns acidentes sérios decorrentes de quedas resultaram em paralisia. Casos foram relatados em todos os continentes. Até agora, 15 ginastas foram financeiramente ajudados pela Fundação. Além disso, A Fundação Solidária já forneceu aparelhos e pisos adequados para o treinamento, bolsas de estudo para jovens ginastas promissores de todas as disciplinas olímpicas e em todos os continentes (FIG, 2020).
Ao longo da história da FIG, alguns fatos marcaram a visão e a estrutura da entidade. Dentre os principais encontram-se:
Outras federações internacionais coexistem com a FIG e regulamentam modalidades gímnicas não abrangidas por ela, são elas: a Federação Internacional de Trampolim, responsável pelo Trampolim Acrobático e Duplo Minitrampolim (ambas competitivas, porém não olímpicas); a Federação Internacional de Esportes Acrobáticos, responsável pela Ginástica Acrobática.
Além dessas, existem organizações regem a Ginástica no âmbito continental, nacional e regional e respondem à FIG. Em âmbito continental, coexistem a União Pan-americana de Ginástica (1971), União Europeia de Ginástica (1982), União Africana de Ginástica (1990) e União Asiática de Ginástica (1982).
A organização continental que rege o Brasil é a União Pan-Americana de Ginástica (UPAG), foi fundada em Cali, Colômbia, em 1971. É a fundação que rege a Ginástica em toda a América, englobando todas as confederações ginásticas nacionais do continente. Esse órgão organiza o “Campeonato Pan-Americano de Ginástica”, sendo um campeonato oficial para as Américas (América do Norte, América do Sul, América Central e Caribe). Além disso, organiza o “Campeonato Sul-Americano de Ginástica”, campeonato continental oficial para a América do Sul.
Em âmbito nacional, cada país possui sua confederação. No caso do Brasil, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é o órgão regulador do esporte no país, responsável pela organização de eventos e apresentação dos atletas e líderes da Ginástica. A história da CBG iniciou em 1951, com a oficialização da Ginástica olímpica como esporte, devido às Federações do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo que, no mesmo ano, filiaram-se à Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Nesse ano, também ocorreu o primeiro campeonato brasileiro de Ginástica em São Paulo e a filiação da CBG à FIG. Em 1978, a CBG foi oficialmente fundada. Atualmente, a CBG está localizada na cidade de Aracajú, Sergipe, e organiza anualmente em torno de 25 eventos nacionais, considerando as seis modalidades sob sua responsabilidade. É encarregada pela formação e pelo treinamento da equipe brasileira nas modalidades competitivas e nos eventos gerais. Além disso, a CBC tem a missão de administrar, fomentar e expandir a prática da Ginástica em todo o território nacional, contribuindo para o desenvolvimento da cidadania e da Ginástica brasileira ao nível de excelência esportiva mundial.
A CGB possui vinte e quatro federações associadas por todo o país, que englobam clubes estaduais e municipais, que disputam competições nacionais em todas as modalidades e categorias da Ginástica, tendo um total estimado de 25 mil ginastas praticantes das diversas modalidades (SANTOS et al., 2006).
Dentre as federações associadas estão: Federação Alagoana de Ginástica, Federação Amazonense de Ginástica, Federação Bahiana de Ginástica, Federação Brasiliense de Ginástica, Federação Cearense de Ginástica, Federação Espírito Santo de Ginástica, Federação Goiana de Ginástica, Federação Maranhense de Ginástica, Federação Mineira de Ginástica, Federação de Ginástica do Mato Grosso do Sul, Federação Paraense de Ginástica, Federação Paraibana de Ginástica, Federação Paranaense de Ginástica, Federação Paulista de Ginástica, Federação Pernambucana de Ginástica, Federação de Ginástica do Piauí, Federação de Ginástica do Estado do Rio de Janeiro, Federação Norte-Riograndense de Ginástica, Federação Rondoniense de Ginástica, Federação Roraimense de Ginástica, Federação de Ginástica Artística, Rítmica, Trampolim, Aeróbica e Acrobática do Rio Grande do Sul, Federação de Ginástica de Santa Catarina, Federação Sergipana de Ginástica e Federação de Ginástica do Tocantins.
A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é uma entidade responsável pela Ginástica mundial e, atualmente, gere as modalidades: Ginástica para Todos, Ginástica Artística feminina e masculina, Ginástica Rítmica, Aeróbica Esportiva, Trampolim, Esportes Acrobáticos e Parkour. Sobre a FIG, identifique a alternativa correta.
A FIG é uma instituição que rege e regulamenta exclusivamente o esporte Olímpico Competitivo.
Incorreta. A FIG também regulamenta a Ginástica Geral, uma modalidade não competitiva, e rege campeonatos mundiais, não somente olímpico.
A FIG possui como membros apenas países europeus.
Incorreta. Atualmente, a FIG possui 129 federações nacionais filiadas a ela, inclusive do Brasil.
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é o órgão regulador do esporte no Brasil e responde diretamente à FIG.
Correta. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é o órgão regulador do esporte, responsável pela organização de eventos e apresentação dos atletas e líderes da Ginástica.
Apesar dos ideais do seu fundador, Nicolas Cupérus, a principal filosofia da FIG é o esporte exclusivo de competição,
Incorreta. Embora o esporte de competição tenha ganhado a maior atenção da FIG, políticas de desenvolvimento da Ginástica não competitiva continuaram presentes na organização.
O escândalo de favorecimento de notas, em 2004, fez com que a FIG se dissolvesse como intuição organizadora e reguladora da Ginástica.
Incorreta. Após o escândalo, a FIG modificou seu Código de Pontuação em 2006, adicionando notas de partida e notas de execução.
Caro(a) aluno(a), neste tópico, vamos aprender sobre a constituição da Ginástica e compreender como a sua história e os fatores culturais e sociais a influenciaram. Além disso, vamos falar sobre os Métodos Ginásticos e os desdobramentos para as práticas culturais.
A Ginástica surgiu na pré-história e evoluiu junto com o homem, adquirindo significados, técnicas e formatos diferentes entre nações e contextos históricos. Podemos afirmar que a história da Ginástica se confunde com a história do próprio homem, pois “vem da Pré-história, afirma-se na Antiguidade, estaciona na Idade Média, fundamenta-se na Idade Moderna e sistematiza-se nos primórdios da Idade Contemporânea” (RAMOS, 1983, p. 15).
Na pré-história, a atividade física em geral, incluindo a Ginástica, tinha o papel utilitarista de manter o homem vivo, relacionando-se com sua sobrevivência, traduzida na necessidade de atacar e defender. Nesse período, os saberes eram transmitidos de forma rudimentar através de gerações e as atividades mais comuns eram os jogos, rituais e festividades.
Na Antiguidade, a Ginástica era sinônimo de um conjunto de atividades físicas, com base em massagem e movimentos respiratórios, que possuíam finalidades médicas e morais. Quase todas as civilizações antigas a praticavam, mas mantinham suas peculiaridades, por exemplo, a Egípcia, a Hindu e a Chinesa. Mais especificamente, podemos afirmar que os hindus tratavam a Ginástica como parte do método do Yoga. Já os Chineses, por meio do Kung-fu, consideravam a Ginástica terapêutica e necessária para a manutenção da saúde, refletindo na qualidade de vida do cidadão (BONORINO et al., 1931; OLIVEIRA, 1983). Já na comunidade grega, a Ginástica aparece como parte da formação do cidadão (física, estética e moral). É nesse período que o homem passa a refletir sobre o corpo e seus movimentos, compreendendo o significado de prática corporal. É, então, com os estudiosos gregos, que surge o primeiro conceito de Ginástica.
A Ginástica foi definida como a arte de exercitar o corpo nu, influenciada pela visão grega de harmonia entre o corpo e o espírito. Essa definição foi consequência da forma com a qual a Ginástica era praticada: em um ginásio, com o corpo nu e banhado com óleo, sob orientação de preparadores físicos e filósofos (SOARES, 1996). Realizada nessa época e dessa forma, o objetivo da Ginástica era a formação do ser humano no seu aspecto físico, intelectual, filosófico, artístico (vinculado à estética e à música) e moral. Naquele período, a
[...] Ginástica foi dividida em dois grupos: a orquestrica (formação cultural e moral dos jovens, atitudes por meio de gestos, música, caráter, dignidade do cidadão, danças rítmicas); e a palestrica (preparo de atletas para os jogos públicos, diversas modalidades de exercícios físicos e eram realizados nos ginásios) (BONORINO et al., 1931, p. 19-20).
Até esse período, a Ginástica era sinônimo de atividade física, era considerada um conjunto de exercícios com uma finalidade específica (higiênica, moral, guerreira, médica, formativa etc.) e como parte de um processo metodológico, no caso do Yoga. No Oriente, por outro lado, os exercícios ginásticos apareceram na forma de natação, luta, remo, arte de atirar e tinham o objetivo de preparar o homem para a guerra ou para os rituais religiosos.
O advir da Idade Média, período marcado pela sociedade feudal, pelo imperialismo e pela soberania dos papados, influenciou o papel que o exercício físico possuía até então. A Ginástica passou a ser base para a preparação militar dos soldados que lutavam nas Cruzadas empreendidas pela igreja. Entre os nobres, os exercícios físicos praticados eram a esgrima e a equitação, requisitos para participar das Justas e dos Torneios. Os jogos tinham como objetivo enobrecer o homem e fazê-lo forte e apto (FUGIKAWA, 2006).
Com o Renascimento, outras atividades foram praticadas: manejo do arco e flecha, luta, escalada, marcha, corrida, salto, caça e pesca, jogos simples, jogos de pelota (um tipo de futebol) e jogos de raquete. Essa visão abrangente dos componentes das Ginásticas permaneceu por muito tempo entre as civilizações, de forma que o atletismo, as lutas, a natação e o hipismo foram considerados Ginásticas até por volta do século XVIII.
Na Europa, no século XIX, a Ginástica passou a ter um caráter científico, afirmando-se como parte significativa dos novos códigos de civilidade. A Ginástica passou a visar a “educação do corpo”, pois reformava completamente o corpo, o qual passou a ostentar uma simetria como nunca vista antes. Para aquele momento histórico, interessava o corpo disciplinado, educado e modelado para as novas necessidades sociais (FUGIKAWA, 2006).
De acordo com Soares (1996, p. 08):
O corpo reto e o porte rígido comparecem nas introduções dos estudos sobre a Ginástica no século XIX. Estes estudos, carregados de descrições detalhadas de exercícios físicos que podem moldar e adestrar o corpo imprimindo-lhe este porte, reivindicam com insistência seus vínculos com a ciência e se julgam capazes de instaurar uma ordem coletiva. Com esses indícios, a Ginástica assegura, neste momento, o seu lugar na sociedade burguesa.
Com isso, a Ginástica passou por um processo de sistematização e estruturação dos saberes que permitiam compreendê-la. Essa sistematização e estruturação de práticas e saberes, que objetivava modificar as desigualdades sociais, consolidou-se como “Movimento Ginástico Europeu” cujo objetivo era romper os vínculos com as práticas populares, além de disciplinar a população moral e fisicamente.
O Movimento Ginástico Europeu, surgido no século XIX, pode ser considerado como responsável por organizar e sistematizar a Ginástica, o que proporcionou o seu desenvolvimento. Foi a partir desse movimento que surgiram as quatro principais Escolas Ginásticas: Alemã, Sueca, Francesa e Inglesa. Apenas três dessas escolas influenciaram a maneira como as práticas gímnicas são realizadas atualmente. Para entendermos como esse movimento deu origem a essas escolas, precisamos, primeiramente, compreender como as práticas gímnicas eram praticadas pela população e como era vista pelo Estado.
No século XIX, na Europa, as apresentações eram realizadas nas ruas por acrobatas, artistas e funâmbulos (equilibristas que andam na corda bamba) por meio de manifestações lúdicas de caráter popular e eram realizadas principalmente em datas festivas e em feiras. Essas apresentações reuniam uma grande concentração de pessoas, principalmente aquelas marginalizadas e esquecidas pelo Estado; por isso, essas manifestações passaram a ser consideradas um objeto de fascínio pelas populações mais pobres. Esse fato trouxe preocupações para o Estado e acarretou a sistematização da Ginástica e de suas apresentações com o intuito de moralizar os indivíduos. Esse processo exigiu o afastamento com vínculos populares, proibindo as apresentações públicas para os mais pobres e o uso dessa prática para o entretenimento.
Dessa forma, com influência da Revolução Industrial e dos princípios higienistas, a Ginástica foi sistematizada com base nas ciências biológicas, pela técnica e pelas condições políticas da época, além de pedagogos. Isso fez com que a Ginástica fosse reconhecida pelos círculos científicos e aceita pela burguesia, sendo devolvida à população como um conjunto de preceitos e normas de bem viver:
É a partir deste reconhecimento que, de fato, a Ginástica passa a ser vista como prática capaz de potencializar a necessidade de utilidade das ações e dos gestos e de ensinar o indivíduo a internalizar uma noção de economia de tempo, de gasto de energia e de cultivo à saúde como princípios organizadores do cotidiano (SOARES, 1996, p. 45).
Esses fatores são cruciais para estabelecer uma construção da sociedade que estava no processo de Revolução Industrial: se o corpo era dominado, era possível construir uma sociedade por meio de corpos dóceis. Assim, a sistematização do Movimento Ginástico Europeu foi um produto do mundo urbano industrializado. A sociedade precisava ser organizada por meio de princípios higienistas (devido ao grande número de doenças e falta de saneamento) e por meio de corpos dóceis (poder do estado). Segundo Quitzau (2014, p. 502), era necessário:
[...] regenerar a raça (não nos esqueçamos do grande número de mortes e doenças); promover a saúde (sem alterar as condições de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver (para servir à pátria nas guerras e na indústria) e, finalmente, desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas tradições e nos costumes dos povos).
Assim, a Ginástica se consolidou no século XIX e desse processo resultaram os Métodos Ginásticos.
Os Métodos Ginásticos oriundos do Movimento Ginástico Europeu foram desenvolvidos simultaneamente. Eles eram difundidos com o objetivo de melhorar a organização social e realizar a manutenção da saúde, por um viés higiênico das populações; e para preparar a população masculina para as guerras da época. Como comentamos anteriormente, o Movimento Ginástico Europeu deu origem às “Escolas Ginásticas”, dentre as quais podemos citar as quatro principais: Escola Alemã, Escola Sueca, Escola Francesa e Escola Inglesa. As três primeiras serviram de suporte para o surgimento dos principais Métodos Ginásticos e resultaram nos três grandes movimentos ginásticos da Europa: o Movimento do Oeste na França; o Movimento do Centro na Alemanha, Áustria e Suíça, bem como o Movimento do Norte, englobando os países da Escandinávia. Já a Escola Inglesa voltou-se para as atividades desportivas (SOUZA, 1997).
A Escola Inglesa (representada pela figura de Thomas Arnold) não se ateve ao desenvolvimento da Ginástica, dedicando-se mais diretamente aos jogos e às atividades atléticas, configurando um movimento que veio favorecer a consolidação do Esporte Moderno. O método inglês de Ginástica se ocupou unicamente da elaboração de jogos e atividades atléticas, fazendo com que a educação fosse promovida por meio dos jogos esportivos, os quais possuíam regras, técnicas e padrões de conduta. Esse método difundiu os principais esportes da atualidade.
A seguir, serão apresentados os principais Métodos Ginásticos das Escolas Ginásticas, contemplando seus influenciadores, suas características e a sua importância na sociedade atual.
Na Alemanha, a Ginástica teve como ideologia incitar o espírito nacionalista e formar corpos saudáveis e foi construída a partir de bases científicas: a Ginástica “[...] incorporará e veiculará a ideia da hierarquia, da ordem, da disciplina, da fixidez, do esforço individual, da saúde como responsabilidade individual” (SOARES, 1994, p. 14).
O método foi inspirado nas ideias de doutrinas pedagógicas de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), John Locke (1632-1704) e Johann Bernard Basedow (1723-1790). Basedow, destaca-se como o precursor do método Alemão. Porém o método foi difundido e conhecido por meio dos trabalhos de Johann Christoph Friedrich Guts-Muths (1759-1839), Adolph Spiess (1810-18540 e Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852).
Spiess preocupou-se com a inserção da Ginástica nas escolas e procurou colocá-la no mesmo plano das demais disciplinas escolares.
O pedagogo alemão Guts Muths associou a Ginástica à educação escolar e é considerado o pai da Ginástica pedagógica e impulsionador da Educação Física, que defendia uma Ginástica para todos (homens, mulheres e crianças). Para ele, a prática de Ginástica deveria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias e para todos.
No final do século XVIII, Guts Muths publicou o primeiro manual de Ginástica, sob o título Gymnastik für die Jugend (Ginástica para a Juventude). Essa obra e as ideias filantrópicas de Muths tiveram repercussão em outros países da Europa, influenciando a elaboração de outro manual de Ginástica que ganharia grande destaque na Alemanha ao longo do século XIX: Die Deutsche Turnkunst (A Ginástica Alemã), escrito por Friedrich Ludwig Jahn com a colaboração de Ernst Eiselen, cujo conteúdo apresenta-se explicitamente mais ligado a ideais políticos (QUITZAU, 2014).
Dessa forma, outro nome que se destaca no método alemão é Friedrich Ludwig Christoph Jahn (1778-1852), considerado por muitos o pai da Ginástica por sistematizar a sua prática e transformá-la em modalidade esportiva. Para Jahn, o principal objetivo da Ginástica para a nação alemã era a formação total do homem (QUITZAU, 2014). Os pensamentos nacionalistas de Jahn fizeram com que a palavra gimnasia fosse substituída para turnkunst, palavra de origem alemã que possui o significado de arte da Ginástica. Jahn acreditava que a Ginástica é algo inerente ao povo alemão e, como tal, deveria ser banida de possíveis estrangeirismos.
Os exercícios nesse método ginástico deveriam transcender a forma física e tinham o objetivo moral de alcançar autoconfiança, autodisciplina, independência, lealdade e obediência. De acordo com os estudos feitos por Ramos (1983, p. 188):
Os exercícios ginásticos, coordenados paulatinamente, foram agrupados em dezessete famílias: marchar, correr, saltar, tomar impulso (no cavalete e no cavalo), equilibrar, exercícios de barra, exercícios de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, transportar, esticar, lutar braço a braço, saltar arco e pular corda. [...] Além dos exercícios citados, quando as atividades podiam ser realizadas ao ar livre, a natação, a marcha, a equitação, a esgrima, a luta e os exercícios bélicos eram previstos nos programas. A corrida, o arremesso e o salto realizados sob variadas formas constituíam, com suas práticas, a verdadeira escola de atletismo.
As figuras a seguir ilustram desenhos de aparelhos ginásticos desenvolvidos nos manuais de Ginástica de Jahn e Guts Muths.
Ambas as obras, Ginástica para a Juventude, de Guts Muths, e A Ginástica Alemã, de Friedrich Jahn, apresentam exercícios detalhados e introduzem obstáculos artificiais, denominados, hoje, de aparelhos ginásticos. Observe nas Figuras 1.14 (anterior) e 1.15 (a seguir).
Analisando as obras, fica claro que Jahn foi fortemente influenciado pela metodologia de Muths (QUITZAU, 2015) e que ambos inspiraram a forma como a Ginástica é realizada atualmente, em especial, ao que se refere à utilização dos aparelhos. Na Ginástica Artística, por exemplo, os obstáculos para os exercícios da escola alemã de Jahn serviram como base para a confecção de aparelhos mais modernos que fazem parte das competições da atualidade.
Dessa forma, podemos perceber que a Escola Alemã de Ginástica resultou na modalidade competitiva atual da Ginástica Artística e foi a base da estruturação da Ginástica Moderna, que hoje é nomeada como Ginástica Rítmica.
Muths e Jahn influenciaram a forma como a Ginástica Olímpica é realizada atualmente. Os aparelhos propostos por ambos sofreram adaptações e mudanças com o tempo, chegando ao seu formato atual. No vídeo “Por Dentro Das Olimpíadas #27 - Ginástica Artística” do canal do YouTube “Esporte Interativo”, o jornalista esportivo e youtuber Alexandre Strachan apresenta os aparelhos utilizados em competições olímpicas e explica as regras e desafios que envolvem a Ginástica. Além disso, faz um breve relato sobre a história da Ginástica Artística e sobre as conquistas brasileiras. Assista ao vídeo, acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=hioLPlPtjeg. Acesso em: 14 jan. 2020.
O método ginástico francês teve como principal representante o espanhol, naturalizado francês, Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848). Suas ideias foram baseadas nas dos alemães Guths Muths e Jahn e tinha como objetivo a prática não apenas para a área militar, mas para toda a população civil.
Amorós acreditava que as práticas da Ginástica “tendem a tornar o homem mais corajoso, mais intrépido, mais inteligente, mais sensível, mais forte, mais trabalhador, mais hábil, mais rápido, mais flexível e mais ágil” (SIRVENT, 2017, p. 22) e as ações corporais praticadas por seus alunos eram determinadas pela utilidade e precisão e deviam ser muito próximas da vida real. A prática da Ginástica iria predispor o homem a
[...] resistir a todas as intempéries das estações, a todas as variações dos climas, a suportar todas as privações e contrariedades da vida, a vencer todas as dificuldades, a triunfar de todos os perigos e de todos os obstáculos que encontre, a prestar, enfim, serviços assinalados ao Estado e a humanidade (SIRVENT, 2017, p. 22).
Para demonstrar a proximidade da Ginástica com a utilidade da vida real, Amorós desenvolvia um trabalho mensal com atividades em campo, fazendo com que as ações corporais aprendidas por seus alunos dentro dos ginásios fossem colocadas em prática nos bosques, nos rios, nas cachoeiras e nos terrenos acidentados. Ele buscava, dessa maneira, estabelecer a relação dos exercícios com sua utilização na vida cotidiana.
Em 1830, Amorós publicou o seu primeiro livro, intitulado Manual de Educação Física, Ginástica e Moral, sendo considerada uma obra com uma sólida estrutura científica, técnica e filosófica. Nesse livro, dividiu a Ginástica em: civil, industrial, militar, médica e cênica; e apresentou dezessete itens considerados essenciais em sua obra. A reunião desses itens forma o que se chamou de “Ciência da Ginástica Geral”. São eles:
Além de Amorós, George Demeny (1850-1917) e o Método Natural pensado por Georges Hébert (1875 - 1957) também representaram e influenciaram a Escola Francesa.
Demeny trouxe uma proposta de movimento que se opunha ao do sueco Per Henrik Ling (veremos a seguir no método Sueco) e propôs exercícios ginásticos completos, arredondados e contínuos. Além disso, seus exercícios eram voltados para a saúde da mulher e se opunha e combatia hábitos que eram considerados elegantes e necessários para as mulheres da época, como a utilização de cintas para parecer mais magras, salto alto e porta-seios.
No método Francês de Demeny, os trabalhos ginásticos eram desenvolvidos por meio de sete formas: jogos, flexionamentos, exercícios educativos, exercícios mímicos, aplicações, desportos individuais e coletivos (RAMOS, 1983). Esses trabalhos eram desenvolvidos por meio de exercícios de marcha, corrida, salto, lançamentos, lutas, esgrimas, utilização de pesos e halteres, Ginástica de aparelhos, remo, ciclismo, natação e salvamento e desportos coletivos.
Já o trabalho desenvolvido por Hébert, que mais tarde acabou sendo denominado de Método Natural de Hébert, priorizava a execução de movimentos e gestos naturais, como um programa de exercícios voltados para a resistência corporal ao frio, exercícios utilitários e nudez controlada. Hébert dividiu os exercícios em 10 grupos fundamentais, de acordo com as funções úteis da vida cotidiana, como marcha, corrida, salto, movimento quadrúpede, escalada, equilíbrio, arremesso, levantar, defesa e natação. Todos esses exercícios tinham um foco especial na corrida, pois esta era considerada o elemento-base de todos esses 10 exercícios. As sessões de treinamento deveriam ser realizadas ao ar livre, com o objetivo de submeter o corpo à diferentes temperaturas. Em geral, o método Francês influenciou principalmente o que chamados de Ginástica de condicionamento físico, pois tinha um caráter utilitário que empregava movimentos de contração muscular prolongada enquanto realizava movimentos de grande amplitude muscular.
O método sueco de Ginástica teve como fundador Per Henrik Ling (1776-1839), que propôs a Ginástica pedagógica, cujo objetivo era contribuir para uma educação integral. O método surgiu da necessidade de extirpar os vícios da sociedade, como o alcoolismo, tendo como missão regenerar a população. Seu método era baseado na ciência e se pautava essencialmente na anatomia, na fisiologia, nas ciências naturais, morais e sociais e na pedagogia, sendo considerado por alguns como o precursor da Ginástica Científica. Ling estudou as leis, princípios e regras
[...] que pudessem explicar e orientar o movimento humano e, por conseguinte, a ginástica. Meticulosamente estudado, pensado e avaliado, o método sueco de ginástica primava por seus detalhes – e de tão racional e pormenorizado recebia a crítica de ser extremamente monótono (MARINHO, 1980, p. 57).
A finalidade da Ginástica sueca, além de desenvolver a saúde, era a de transformar o corpo humano em um instrumento dócil e corajoso, sempre à disposição da vontade moral:
Sua proposta de ginástica submetia o corpo à vontade, considerada educativa e social, com preocupação de satisfazer as necessidades, tanto da alma quanto do corpo. Destinavam-se a ambos os sexos, independentemente da idade e qualidades físicas (MARINHO, 1980, p. 57).
Esse método queria assegurar a saúde, por ser fundamentalmente respiratório, e a beleza, por seus efeitos corretivos e ortopédicos.
Ling apresentou seu método extremamente detalhado no livro Gymnastikens Allmänna Grunder (Princípios Gerais de Ginástica). Nele, Ling divide a Ginástica em quatro dimensões: pedagógica, militar, médica e estética, de acordo com o seu objetivo. Temos, então:
Quadro 1.1 - As quatro dimensões da Ginástica
Fonte: Soares (1994, p. 65).
Baseado nas ciências Biológicas, Ling criou exercícios livres de aparelhos, de fácil execução e com boa estética. Além disso, faziam parte da sessão de treinamento os saltos no cavalo, a cambalhota, os jogos ginásticos, a patinação, a esgrima, todos associados à disciplina militar e aos cantos alegres.
A seguir, apresentamos um modelo de uma sessão de exercícios desenvolvidos nas aulas de Ginástica no Método Sueco:
Ao analisarmos o Método Sueco e as propostas de exercícios, percebemos que a escola voltou-se mais para a saúde física e mental da população e com um caráter mais médico e pedagógico que militar. Além disso, o método Sueco influenciou a maneira como a Ginástica rítmica é realizada atualmente.
Mas, afinal, qual a diferença entre o Método Francês, Método Alemão e Método Sueco? O método alemão tinha um espírito nacionalista tendo como base a Biologia, a Fisiologia e a Anatomia, para tornar o corpo forte, sendo o Friedrich Ludwig seu principal influenciador. O método Francês associava a Ginástica ao corpo belo, seu objetivo era se sentir esbelto. Já no método sueco predominava a rigidez, com exercício simétricos e tinha como base a coordenação ao ritmo da música.
Até agora, percebemos que os métodos apresentados foram influenciados pelo contexto social e momento histórico no qual foram constituídos. Podemos perceber, ainda, a similaridade e principais diferenças entre eles. Além dos três métodos apresentados, outros foram desenvolvidos como o Método Austríaco e o Método Dinamarquês, porém com menor repercussão mundial e influência no Brasil. Dentre os métodos que tiveram maior penetração no Brasil destacam-se as Escolas Alemã, Sueca e Francesa, que foram apresentadas anteriormente.
A partir do século XIX e sob influência dos métodos europeus, a Ginástica se consolidou como instrumento educacional e competitivo no Brasil. Podemos afirmar que a história da Ginástica no Brasil se inicia com os imigrantes alemães, instalados no Rio Grande do Sul, que conservaram e inseriram seus costumes culturais no Brasil.
Entretanto considera-se que o método Alemão chegou oficialmente ao Brasil na metade do século XIX, por meio dos soldados contratados por Dom Pedro II, com o objetivo de melhorar a aptidão física do exército brasileiro. Dessa forma, em 1980, o método ginástico alemão torna-se o método oficial de treinamento dos soldados no país. A partir disso, o método se difundiu baseado nos moldes de formação de uma raça forte, como acontecia na Europa.
Em 1882, Rui Barbosa, defensor da prática de atividades físicas nas escolas, realizou uma reforma na qual recomendava que a Ginástica fosse obrigatória nos currículos escolares, para ambos os sexos, e que fosse oferecida nas Escolas Normais (MORENO, 2003). Em 1870, foi realizada a regulamentação do método ginástico alemão no ensino primário por meio do documento conhecido como “Novo guia para o ensino da Ginástica nas Escolas da Prússia”, sendo o primeiro manual oficial de Ginástica, traduzido e divulgado por ordem do Ministro do Império (MORENO, 2003).
Assim, o método Alemão foi disseminado a partir de uma visão que privilegiava a seleção de raças, o higienismo e a disciplinas dos corpos, indo ao encontro dos ideais políticos vigente da época, os quais visavam a ordem e o progresso da nação. Esse método perdurou nas escolas brasileiras e na Escola Militar até aproximadamente o ano de 1920, quando então foi substituído pelo Método Francês.
Por sua vez, o método Francês manteve-se como o método oficial até aproximadamente os anos 60. Esse método só perdeu sua força quando foi substituído pelo processo de esportivização da Educação Física, consequência da visibilidade do time do país em disputas internacionais (DARIDO, 2003).
Vale ressaltar que ambos os métodos, Alemão e Francês, possuíam objetivos similares que incluíam a construção de uma sociedade forte e saudável, apta para desenvolver o seu país com ordem e progresso.
Podemos perceber que, por meio da influência do Movimento Ginástico Europeu, a Ginástica esteve presente durante muito tempo nos currículos escolares brasileiros enquanto seu principal conteúdo. A Ginástica, então, consolidou-se na educação brasileira como um instrumento educacional que objetivava a promoção da saúde e melhora postural dos alunos por meio da perspectiva higienista. Nesse sentido, a Ginástica se tornou parte integrante da sociedade e dos currículos educacionais, uma vez que almejava a construção de corpos saudáveis e fortes, sendo capaz de impulsionar o processo de industrialização do século XIX (SOARES, 1996).
Entretanto a forma como a Ginástica era ensinada nas escolas foi criticada por muitos estudiosos, por exemplo, Fernando de Azevedo, que acreditava que a prática de Ginástica nas escolas era feita de maneira arcaica, voltada para os antigos moldes da Educação Física, pois tinha o único objetivo de desenvolver a força e a destreza do corpo, por meio de exercícios ginásticos aplicados de maneira empírica, utilizando práticas que reduziam a Ginástica a um treinamento militar. Azevedo via a Ginástica sendo aplicada de maneira massificadora e não voltada ao individualismo.
A Ginástica como currículo da Educação Física teve um papel hegemônico durante o século XIX, considerado muitas vezes sinônimo de disciplina. Porém a Ginástica acabou se tornando uma disciplina regida pelo empirismo, ou seja, vista somente como um conteúdo que deveria ser realizado e sentido e não discutido e desenvolvido. Assim, devido ao empirismo pelo qual a Ginástica estava sendo tratada e a falta de conhecimento sobre os objetivos educacionais que a sua prática propunha, a prática da Ginástica nos espaços escolares se tornou cada vez mais escassa, sendo substituída em meados da década de 60 pela prática esportiva (SOARES, 1996).
A Educação Física escolar tornou-se sinônimo de esporte, com práticas sistematizadas que visavam somente a descoberta e a revelação de futuros atletas, tornando-se uma prática excludente para aqueles alunos que não possuíam destrezas e habilidades motoras suficientes para se destacar em algum esporte. A Ginástica passou a ser praticamente inexistente e subordinada a outros conteúdos da Educação Física. Por exemplo, atualmente, a Ginástica se materializa nas aulas de Educação Física somente na forma de alguns exercícios de alongamento e relaxamento muscular. Podemos dizer que “a Ginástica como conteúdo de ensino, praticamente não existe mais na escola brasileira. A aula de Educação Física tem sido sinônimo de aula de esporte” (AYOUB, 2003, p. 81).
Na atualidade, a Ginástica está apresentada nos documentos oficiais da Educação Física. Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Ginástica está apresentada e subdividida em Ginástica geral, Ginástica de condicionamento físico e Ginástica de conscientização corporal. Essa subdivisão se deve ao fato de a Ginástica ser vista como uma unidade temática com formas de organização e significados muito diferentes.
Na BNCC, a Ginástica para Todos reúne “práticas corporais que têm como elemento organizador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo, a interação social, o compartilhamento do aprendizado e a não competitividade” (BRASIL, 2017, p. 27). Já a Ginástica de condicionamento físico “se caracteriza pela exercitação corporal orientada à melhoria do rendimento, à aquisição e à manutenção da condição física individual ou à modificação da composição corporal” (BRASIL, 2017, p. 27). Por seu turno, a Ginástica de conscientização corporal reúne "práticas que empregam movimentos suaves e lentos, tal como a recorrência a posturas ou à conscientização de exercícios respiratórios, voltados para a obtenção de uma melhor percepção sobre o próprio corpo” (BRASIL, 2017, p. 28).
As Ginásticas competitivas (Ginástica acrobática, aeróbica esportiva, artística, rítmica e de trampolim), por outro lado, foram consideradas como práticas esportivas e, dessa forma, foram alocadas na unidade temática Esportes juntamente com outras modalidades técnico-combinatórias. No entendimento da BNCC, as modalidades competitivas fazem parte de um conjunto de esportes que se caracterizam pela comparação de desempenho centrada na dimensão estética e acrobática do movimento, dentro de determinados padrões ou critérios técnicos.
Reflita a forma como a Ginástica está empregada na Educação Física atualmente: as escolas e os contextos educativos nos quais você estudou ou trabalhou concebem a Ginástica como um conteúdo reduzido e utilizam-na como alongamento, aquecimento e relaxamento das práticas?
Os Métodos Ginásticos advindos da Europa que mais influenciaram a educação escolar brasileira foram o Método Alemão, o Método Francês e o Método Sueco. O Método Ginástico Inglês também influenciou a concepção de Ginástica. Esses métodos possuem diferenças e semelhanças. Sobre esses métodos é possível afirmar que:
o Método Francês de Ginástica tinha como principal objetivo incitar o espírito nacionalista e formar corpos saudáveis, além de ser focado só em homens.
Incorreta. Essa descrição refere-se ao Método Alemão.
os principais nomes que deram origem ao Método Alemão de Ginástica são Guts Muths e Friedrich Ludwig Jahn, que criaram os aparelhos ginásticos.
Correta. A afirmação correta. Ambos são considerados os precursores do Método Alemão.
não há diferença entre os exercícios e objetivos dos Métodos Inglês, Alemão, Francês e Sueco, pois todos originaram do Movimento Ginástico Europeu.
Incorreta. Os quatro métodos propunham exercícios e objetivos diferentes.
o método mais popular no Brasil no início século XIX foi o Método Sueco, pois era relacionado ao esporte.
Incorreta. O Método mais popular nesse contexto foi o Alemão.
no currículo escolar, o Método Alemão de Ginástica foi substituído pela esportivização da Educação Física.
Incorreta. O Método Francês que foi substituído pela esportivização.
Caro(a) aluno(a), neste tópico, conheceremos os campos de atuação da Ginástica, bem como as possibilidades para o profissional de Educação Física. Para isso, utilizaremos o modelo proposto por Souza (1997), que divide as possibilidades de atuação da Educação Física na Ginástica em cinco grandes áreas. São elas: a) Ginástica de Condicionamento Físico; b) Ginástica de Competição; c) Ginástica Fisioterápica; d) Ginástica de Conscientização Corporal; e) Ginástica de Demonstração.
Essa Ginástica engloba todas as modalidades que têm por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo, como manutenção da boa forma e do bom desempenho das funções orgânicas. Caracterizam-se pela exercitação corporal orientada à melhoria do rendimento, à aquisição e à manutenção da condição física individual ou à modificação da composição corporal. Tem como principal referência os exercícios resistidos, conhecidos como exercícios de musculação. Praticada em academias, ou na forma de atividade física livre, em sessões planejadas de exercícios preestabelecidos e repetidos, definindo a frequência e a intensidade do exercício (OLIVEIRA, 2013).
É interessante ressaltar que as modalidades de Ginástica de Condicionamento Físico variam de acordo com as tendências do mercado, mídias e publicidade. Por exemplo, podemos citar a modalidade Crossfit, que teve grande visibilidade entre os anos de 2015 e 2016.
O campo de atuação do profissional de Educação Física pode ser como personal trainer, em academias de ginástica ou musculação, em empresas que oferecem ginástica laboral ou de forma autônoma.
A Ginástica de Competição reúne as modalidades que envolvem eventos competitivos e, para tanto, seguem regras preestabelecidas internacionalmente, como a Ginástica Artística, Ginástica Rítmica, Aeróbica Esportiva, de Trampolim e Esportes Acrobáticos, Parkour, Cheerleader, Roda de Ginástica, dentre outros. O papel do profissional de Educação Física nesse campo de atuação é por meio de orientação no preparo físico e nas rotinas de treinamento, por meio de prescrição de exercícios físicos.
É importante destacar que cada uma das modalidades competitivas existentes na atualidade não tive sua sistematização de forma linear, traçando caminhos de maneiras diferentes e sendo influenciados pelas escolas de Ginástica europeias (OLIVEIRA, 2013).
Essa Ginástica é responsável pela prevenção ou tratamento de doenças por meio do exercício físico. Além disso, é uma área da Ginástica que está relacionada à recuperação de quedas, fraturas, doenças ou problemas físicos e procedimentos cirúrgicos. Essa Ginástica também está preocupada em melhorar as dores ocasionadas por algum trauma agudo ou de doenças crônicas. O papel do profissional de Educação Física nesse campo de atuação é na orientação de treinamentos após o sujeito passar pelo profissional de Fisioterapia. Sendo assim, a Ginástica de Recuperação é um campo principalmente do fisioterapêutico.
Foi no século XIX, a partir da Ginástica Científica, e, principalmente, pelo fato da Ginástica Fisioterápica receber influência da Medicina, da Anatomia e da Fisiologia que ela passou a ter um vínculo mais forte com a Medicina do que com a própria Ginástica (OLIVEIRA, 2013). Além dessa influência, a Ginástica Fisioterápica utiliza técnicas advindas da Índia, China, Japão e outros países do oriente que usam massagens e movimentos respiratórios há séculos para o restabelecimento da saúde.
Com origem nas práticas corporais milenares da cultura oriental, a Ginástica de Conscientização Corporal é constituída por movimentos corporais suaves e lentos, com a observação da postura e realização de exercícios respiratórios com o objetivo de maior conscientização e percepção do próprio corpo.
Novamente, o campo de atuação do profissional de Educação Física é na orientação e prescrição dessas modalidades. Alguns exemplos dessas práticas são a Ioga, o Tahi Chi Chuan, a Ginástica Chinesa, a Biodança e a Bioenergética,
Essa Ginástica tem sua característica voltada para a abordagem de solução de problemas físicos e visa fornecer soluções para questões de saúde e de postura por meio de uma visão integral do ser humano. As técnicas utilizadas são diversas, mas, o objetivo é único, ou seja, conhecer o próprio corpo, sua constituição, seu funcionamento, suas possibilidades de movimento e seus limites (OLIVEIRA, 2013).
A Ginástica de Demonstração (também denominada como Ginástica para Todos, ou Ginástica Geral, ou Ginástica Básica) é constituída por movimentos corporais com possibilidades acrobáticas e expressivas que contribuírem com a integração social, compartilhamento de aprendizagem e a não competição. É constituída por exercícios em solo, por saltos com a utilização de aparelhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira individual ou em grupo. Esses exercícios podem ser combinados com rolamentos, piruetas, pontes, pirâmides humanas, dentre outros.
Essa modalidade está presente principalmente no ambiente escolar, sendo mais difundida nesse campo de trabalho. Porém podemos encontrar a Ginástica de Demonstração em academias ou escolas específicas para esse fim. Dessa forma, o campo de atuação do profissional de Educação Física na Ginástica de Demonstração é dentro da escola e em academias especializadas.
O Quadro 1.2 ilustra os campos de atuação da Ginástica e exemplifica as modalidades que os constituem.
Quadro 1.2 - Campos de atuação da Ginástica
Fonte: Elaborado pela autora.
Nesse quadro, podemos ver o vasto campo de atuação dos profissionais de Educação Física e as diferentes áreas que compõem a Ginástica.
Os campos de atuação da Ginástica se dividem em: Ginástica de Condicionamento Físico; Ginástica de Competição; Ginástica Fisioterápica; Ginástica de Conscientização Corporal, e Ginástica de Demonstração. Cada um desses campos possui objetivos específicos para a sua prática. Sobre eles, podemos afirmar que:
a Ginástica de Competição engloba exclusivamente as modalidades regulamentadas pela Federação Internacional de Ginástica.
Incorreta. A Ginástica de Competição engloba outras modalidades que possuem regras e eventos, não exclusivamente as modalidades reguladas pela FIG.
Yoga e Tai Chi Chuan são modalidades advindas da Ginástica Fisioterápica e de Reabilitação.
Incorreta. Ambas são Ginásticas de Conscientização Corporal.
a Ginástica de Demonstração e a Ginástica de Competição possuem os mesmos objetivos.
Incorreta. Os objetivos das práticas são opostos.
a Ginástica de Condicionamento Físico tem por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo.
Correta. A Ginástica de condicionamento tem por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo, bem como a manutenção da boa forma e do bom desempenho das funções orgânicas.
a Ginástica de Reabilitação reúne as práticas corporais que têm como elemento organizador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo.
Incorreta. A Ginástica de Reabilitação utiliza o exercício físico para a prevenção ou tratamento de doenças.
Nome do livro: Manual de Ginástica Rítmica
Editora: Porto
Autores: Eunice Lebre e Carlos Araújo
ISBN: 978-972-0-04144-9
A obra aborda como a Ginástica Rítmica é trabalhada como modalidade olímpica, apresentando os principais elementos da técnica corporal envolvida, análise dos movimentos dos cinco aparelhos oficiais (arco, bola, corda, maças e fita). Além disso, apresenta a relação entre a importância do trabalho em outras áreas, como a música e a dança; também trata da importância do balé na construção da Ginástica Rítmica. Os autores apresentam algumas propostas de intervenções em Ginástica Rítmica que podem ser realizadas na escola.
Nome do livro: Educação Física: raízes européias e Brasil
Editora: Autores Associados
Autor: Carmen Lúcia Soares
ISBN: 8574960187
Esse livro traz a discussão de como a Educação Física é uma ferramenta para a sujeição e domesticação mais eficaz da sociedade moderna, incluindo a forma como a Ginástica era e ainda é trabalhada nas escolas brasileiras. É um livro que faz o leitor pensar criticamente sobre a produção de conhecimento da Educação Física historicamente e na atualidade, voltando o olhar para a liberação desses corpos domesticados. Vale a pena a leitura.
Nome do filme: Virada Radical (Stick It, nome em inglês)
Gênero: Comédia
Ano: 2007
Elenco principal: Jeff Bridges, Missy Peregrym, e Vanessa Lengies
Esse filme conta a história de Haley Graham, uma ex-ginasta que depois de ter problemas com a justiça é sentenciada a trabalhar em uma academia de ginastas de elite e coordenada por um treinador durão. O problema é que Haley odeia o trabalho, pois ele faz com que ela retorne ao mundo de regras rígidas que tenta esquecer. Além disso, ela não é bem recebida pelas outras ginastas. A trama principal acontece quando o técnico começa a treinar Haley de uma maneira peculiar para fazê-la voltar a competir.
Nome do filme: No Ritmo da Vitória (Full out: the Ariana Berlin movie, nome em inglês)
Gênero: Dramas/Filme de Esporte
Ano: 2015
Elenco principal: Ana Golja, Jake Epstein, Lamar Johnson, Sarah Fisher, Art Hindle, Jennifer Beals, Ramona Milano e Trevor Flannagan-Tordjman
Esse filme, baseado em uma história real, conta a narrativa de uma ginasta talentosa de 14 anos que treinou muito para alcançar o seu objetivo: conseguir participar das olimpíadas e entrar na prestigiada universidade UCLA, para seguir sua carreira como ginasta. Antes de atingir seu objetivo, ela sofre um acidente de carro e precisa desistir dos Jogos Olímpicos. Após recuperar seus movimentos, Ariana encontra esperança no mundo do hip-hop e no atletismo universitário.