A Psicologia do Desenvolvimento é uma área do saber que tem colaborado muito com a área educacional; afinal, para se educar, é preciso conhecer o educando e, nesse sentido, essa abordagem teórica oferece contribuições valiosas. A partir de seus achados, permite à escola uma melhor compreensão acerca do processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis de desenvolvimento humano, possibilitando, assim, a criação de estratégias pedagógicas que favoreçam a aprendizagem em sala de aula. Além disso, permite que os atores do contexto escolar repensem novas maneiras de lidar com os alunos, considerando as particularidades e necessidades de cada um, a partir de sua faixa etária. Nesta unidade, apresentaremos a você um pouco da história da Psicologia do Desenvolvimento, partindo da construção da Psicologia enquanto área científica. Destacaremos, ainda, a importância e a ampla aplicabilidade da Psicologia do Desenvolvimento, assim como as variáveis que influenciam o desenvolvimento e as características entendidas como universais nas diferentes fases da vida.
Estudante, para compreendermos a Psicologia do Desenvolvimento Humano, inicialmente é importante conhecermos um pouco sobre a própria Psicologia, enquanto área científica. Você já deve ter ouvido falar sobre a Psicologia ou então já ouviu alguém dizer que usa a “psicologia” para educar os filhos, conseguir entender melhor as pessoas, vender um produto, conquistar alguém, enfim, que faz uso da psicologia em seu dia a dia a fim de alcançar determinado objetivo, não é mesmo? Mas será que esse tipo de psicologia mencionado pelas pessoas na vida cotidiana, é de fato, Psicologia? Se sim, todos seriam psicólogos.
Não podemos negar, no entanto, que as pessoas usam certas estratégias emprestadas da ciência psicológica em seu benefício, como os exemplos mencionados anteriormente. Esse tipo de psicologia utilizado pelas pessoas de forma geral, é chamada de senso comum. É um tipo de conhecimento que as pessoas vão adquirindo ao longo da vida a partir das experiências cotidianas. Ele é produzido de forma intuitiva, espontânea e costuma ser passado de geração para geração. Apesar de o senso comum ser importante porque facilita o dia a dia, pois nos permite agir de forma assertiva frente às pessoas, ele acaba se apropriando de outros conhecimentos de uma forma muito simplista e, assim, pode reduzir o significado dos saberes especializados.
Conheça alguns exemplos de senso comum: “quando utilizamos termos como ‘rapaz complexado’, ‘menina histérica’, ‘ficar neurótico’, estamos usando termos definidos pela Psicologia Científica” (BOCK et al., 2018, p. 5). Nesse caso, não temos preocupação em definir os termos utilizados, mas, mesmo assim, as pessoas a nosso redor entendem o que estamos dizendo, certo? Podemos até nos aproximar do conceito científico; no entanto, na maioria das vezes, nem sequer o conhecemos. Essas, portanto, são algumas maneiras que o senso comum se apropria do saber científico.
A Psicologia como ciência se utiliza de procedimentos sistematizados, controlados e programados para a verificação de um determinado conhecimento. Esse conjunto de conhecimentos produzidos sobre fatos ou aspectos da realidade é que chamamos de ciência. E é nesse aspecto que a Psicologia científica se diferencia da psicologia do senso comum, pois, na ciência, é necessário o uso de linguagem rigorosa; técnicas, métodos e objetos de estudo específicos e objetividade.
Entretanto a compreensão sistematizada do ser humano como um homem autônomo, completo, multideterminado, que leva em consideração os diferentes elementos de sua constituição (assim como vemos na ciência psicológica contemporânea) nem sempre esteve presente nessa área, uma vez que a ciência psicológica originou-se da Filosofia da Grécia antiga (período anterior à Era Cristã), cujo foco era compreender a “alma” humana. Vale lembrar que, até o século XIX, Psicologia e Filosofia andavam de mãos dadas nas escolas de pensamento filosófico, buscando compreender apenas a subjetividade do ser humano, sem levar em consideração os demais aspectos que influenciam seu desenvolvimento.
A busca pela compreensão do homem integral passou por um processo histórico de questionamentos, criação de tendências, descobertas, desenvolvimento de ideias e diferentes abordagens teóricas, influenciados pelas diversas ideologias e culturas. Desse modo, a história do desenvolvimento da Psicologia como área científica (atrelada aos métodos e princípios científicos) teve como protagonista Wilhelm Wundt (1832-1920), criador do primeiro laboratório de experimentos em Psicologia, na Alemanha em 1879 (PILETTI et al., 2014).
É nesse contexto que a Psicologia se “liberta” da Filosofia e assume seu caráter científico reconhecido, atraindo muitos pesquisadores e estudiosos que, com novos conhecimentos, passam a:
definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a consciência);
delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;
formular métodos de estudo desse objeto;
formular teorias como um corpo consistente de conhecimentos na área (BOCK et al., 2018, p. 30-31).
Esse desenvolvimento da Psicologia só foi possível a partir de uma série de transformações históricas ocorridas na sociedade, que mudou a forma de pensar e se relacionar das pessoas, entre elas: a descoberta de novas terras; o acúmulo de riquezas (que demandou uma nova organização econômica e social); novas demandas de consumo, de valorização e emancipação; a descoberta da ciência e da possibilidade de solucionar problemas cotidianos etc.
No contexto histórico e social do século XIX, a Psicologia surge no cenário moderno, período em que o ser humano é percebido como provido de controle interno e constituído a partir do intercâmbio de suas vivências e experiências. Assim, a Psicologia passa a se comprometer “com os valores prescritos que, sob alento do Iluminismo, enfatizam o papel da razão e postulam a ideia de emancipação do homem” (PILETTI et al., 2014, p. 17).
A Psicologia surge, portanto, na busca por respostas a inúmeras questões levantadas pelo homem moderno: “quem ele é de fato?”; “o que pode ser?”; “qual é seu destino?”; “como resolver seus conflitos?”; “qual é realmente a verdade e o que se deve estudar?” (sua subjetividade, seu mundo externo etc.). Para isso, ela se ancorou em outras teorias, como a do Evolucionismo de Darwin; Fisiologia; Neurologia; Neurofisiologia; Comunicação; além de realizar pesquisas de caráter qualitativo e quantitativo e propagar os métodos experimentais e clínicos. Desse modo, ao longo dos anos, a Psicologia, passou por várias modificações, o “que ampliou, amplia e delimita suas áreas de conhecimento, a fim de investigar e explicar os processos que engendram o fazer-se humano, como seus processos afetivos, de aprendizagem, de desenvolvimento” (PILETTI et al., 2014, p. 17-18).
Na área da Psicologia, o objeto de estudo não tem uma definição muito simples, assim como em outras áreas do conhecimento. Por exemplo: na Biologia, o objeto de estudo são os seres vivos, na Astronomia são os astros. Como ela é considerada uma ciência nova, desvinculada da Filosofia há pouco tempo, sua área de conhecimento ainda se encontra em processo de construção, trazendo várias concepções sobre o homem e seus fenômenos psicológicos. Por essa razão, não podemos definir um único objeto de estudo da Psicologia, antes compreender a existência de uma diversidade deles, já que também existem inúmeras ciências psicológicas.
Apesar dessa dificuldade em estabelecer um único objeto de estudo da Psicologia, de forma geral, as teorias psicológicas buscam um mesmo caminho, que é o entendimento do ser humano, de suas ações, pensamentos e sentimentos, tentando responder quem somos e como nos construímos. Ou seja, o trabalho do psicólogo é tentar compreender como as pessoas agem, pensam e sentem diante de situações diversas (BOCK et al., 2018).
Desse modo, a Psicologia pode ser vista como o estudo sistematizado dos processos mentais e do comportamento, que busca compreender não apenas o motivo que leva as pessoas a fazerem o que fazem, sentirem o que sentem, mas também seus pensamentos, sensações, percepções, memória e raciocínio. Além disso, essa ciência busca entender os grupos e as relações sociais, e não somente o indivíduo.
Uma referência comum utilizada pelas abordagens psicológicas para o estudo do homem, independentemente do objeto e da metodologia utilizada, é a pesquisa sobre a subjetividade, que representa a maneira de pensar, sentir, sonhar, fantasiar, amar e fazer de cada pessoa, isto é, é a maneira particular de ser do homem, é o seu mundo de ideias, significados e emoções.
Esse mundo individual e singular do sujeito não é inato. Ele é um processo de construção particular, construído por meio do desenvolvimento e suas experiências com a vida social e cultural. Dessa forma, o mundo interior do sujeito vai se constituindo a partir dessa relação com o mundo social e, ao mesmo tempo em que atua sobre esse mundo, cria e transforma a si próprio. A subjetividade é construída ao longo da vida do sujeito, estando em constante movimento e transformação. Por isso, não podemos afirmar que nascemos de um jeito e vamos ser sempre igual. Estamos o tempo todo em processo de aprendizagem, e cada experiência vivida nos proporciona a possibilidade de mudar e nos renovar.
Para compreender e estudar a subjetividade, é preciso analisar as relações que o sujeito estabelece com o mundo, abrangendo os aspectos sociais, históricos, culturais, políticos e econômicos, ou seja, uma variedade de fatores que constroem o ser humano e seu universo particular. Por fim, é essa aprendizagem sobre a subjetividade humana que torna a Psicologia diferente de outras ciências e, a partir dessa construção de conhecimentos, esta consegue contribuir com as outras áreas do saber, ajudando a entender o homem em sua totalidade. A Psicologia atual possui diversas áreas de atuação, podendo ser aplicada no contexto organizacional, da saúde, escolar, hospitalar, clínico, esportivo, enfim, como diz o ditado “onde tem pessoas, tem psicologia”. Ela se subdivide em áreas: Psicologia da Saúde, Psicologia da Educação, Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia do Esporte, Psicologia Hospitalar, Psicologia Jurídica, entre outras. A Psicologia também está presente como disciplina em vários cursos de graduação, oferecendo um entendimento sobre quem é o homem, servindo de base formativa a muitos profissionais, sendo muito útil para aqueles que trabalharão com pessoas e precisam entendê-las.
As primeiras pesquisas na área da Psicologia do Desenvolvimento Humano se iniciaram entre a metade do século XIX e começo do XX. Anteriormente, nos séculos XVII e XVIII, alguns filósofos já questionavam alguns aspectos do desenvolvimento humano e, desse modo, influenciaram o campo da Psicologia científica. Um desses influenciadores foi John Locke, que acreditava que a mente do homem poderia ser comparada a uma tábula rasa, ou seja, a um quadro em branco, que só começava a se desenvolver após o nascimento e a partir da estimulação do meio ambiente. Em contrapartida, outros estudiosos como Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant consideravam que a mente humana já trazia consigo algumas características inatas, isto é, que o homem não nascia como um quadro em branco, assim como acreditava Locke, mas que ele já trazia certos conhecimentos que posteriormente eram aprimorados.
Atualmente, existem várias teorias que foram se construindo por meio de pesquisas, observações diretas do comportamento, entrevistas e questionários, seguindo uma linha metodológica baseada no positivismo e nas ciências naturais. Com isso, a Psicologia do Desenvolvimento contemporânea busca explorar, descrever e explicar os padrões comportamentais de estabilidade e mudança durante todo o curso de vida do ser humano. Esse processo de desenvolvimento é dividido em estágios evolutivos que enfatizam os seguintes aspectos: orgânicos, motores, cognitivos, afetivos, sexuais, morais, sociais, históricos e culturais.
A Psicologia do Desenvolvimento busca compreender como ocorre o desenvolvimento humano nas distintas fases da vida, por meio dos estudos sobre o percurso humano em uma perspectiva de continuidades e rupturas, buscando integrar os diferentes aspectos: físico-motor, afetivo-emocional, intelectual e social, e considerando as influências sociais, físicas, biológicas e culturais. Esse campo científico foca seus estudos nos procedimentos sistemáticos de mudanças e estabilidades ocorridos nos seres humanos ao longo da vida. Os pesquisadores dessa área observam os aspectos mutáveis e aqueles que permanecem estáveis desde o nascimento até a maturidade, buscando responder a perguntas como: quais são as características das pessoas com maior chance de perdurar? Quais são as com maior probabilidade de mudar e por quê? Entre outras questões (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Os estudos acerca do Desenvolvimento Humano, ao longo dos anos, priorizaram o entendimento sobre o período da infância e da adolescência. Tanto que, ao buscarmos a produção literária dessa área do conhecimento de forma geral, encontramos mais materiais que focam essas fases da vida, em detrimento de outras.
O estudo do desenvolvimento infantil é considerado uma das mais antigas especialidades da Psicologia, em que se procurava descrever e explicar o indivíduo desde o seu nascimento até a adolescência. Esse interesse se inicia com a preocupação com os cuidados, os hábitos alimentares, o sono e a educação das crianças - e com o próprio conceito de infância como um período peculiar do desenvolvimento. Depois vemos os estudos da infância apresentarem uma conotação mais abstrata, como os que envolvem a linguagem, a ansiedade, a motivação, o afeto etc. (PILETTI et al., 2014, p. 18)
No entanto estudos mais atuais têm mostrado maior tendência a apresentar o trajeto completo do desenvolvimento humano ao longo da vida, como, por exemplo, o conteúdo apresentado no livro de Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldman, intitulado Desenvolvimento Humano, que destaca todas as etapas da vida humana (da infância à velhice). Pesquisas que envolvem todas as fases do desenvolvimento são relevantes; afinal, o homem nunca para de se desenvolver. Embora o desenvolvimento ocorra de maneira particular em cada fase da vida, todas as pessoas encontram-se em constantes transformações. Desse modo, estudar os vários períodos da vida humana pode contribuir para o autoconhecimento e o desenvolvimento de estratégias que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas.
A Psicologia como ciência se utiliza de procedimentos sistematizados, controlados e programados para a verificação de um determinado conhecimento. No entanto, durante muitos anos, ela esteve vinculada a uma outra área do conhecimento. Nesse sentido, leia as afirmativas a seguir e assinale a alternativa que corresponde à área à qual a Psicologia estava atrelada antes de ganhar status científico.
Filosofia.
Correta. Pois, a busca pela compreensão do homem integral passou por um processo histórico de muitos acontecimentos até ganhar status de ciência. Antes disso, durante muito tempo, ela esteve vinculada à Filosofia.
Medicina.
Incorreta. Pois a área do conhecimento que a Psicologia esteve vinculada antes de ganhar status científico foi a Filosofia. Um longo caminho precisou ser percorrido até que ela alcançasse posição de ciência autônoma.
Religião.
Incorreta. Pois não foi à religião que a Psicologia se vinculou antes de ganhar caráter científico, mas, sim, à Filosofia. A busca pela compreensão do homem integral passou por um processo histórico de muitos acontecimentos até ganhar status de ciência.
Misticismo.
Incorreta. Pois, antes de assumir um caráter científico, a Psicologia esteve ligada à Filosofia, e não ao misticismo. A busca pela compreensão do homem integral passou por um processo histórico de muitos acontecimentos até alcançar status de ciência.
Anatomia.
Incorreta. Pois não foi à Anatomia que a Psicologia esteve vinculada por muito tempo, mas, sim, à área da Filosofia. Desde os tempos antigos, o homem já buscava entender mente e corpo.
Você pode estar se perguntando: qual a importância de se estudar a Psicologia do Desenvolvimento? Como esses estudos podem contribuir com outras áreas do saber? As pesquisas dessa área são muito importantes, pois são amplamente aplicadas na vida cotidiana das pessoas, em especial no âmbito educacional. É inegável a relação que a educação possui com o campo psicológico; afinal, é imprescindível que o profissional da educação aprenda sobre o desenvolvimento de seu aluno, a fim de ser capaz de produzir suas práticas pedagógicas. Por exemplo: os métodos de ensino utilizados com uma criança de cinco anos não podem ser os mesmos para uma criança de dez, pois cada uma está em uma etapa do desenvolvimento e irá aprender de forma diferenciada.
Nesse sentido, é importante que o professor compreenda qual é a etapa de desenvolvimento de seu aluno, como ele irá apreender os conteúdos que estão sendo ensinados, qual é a melhor tecnologia utilizada em sala, qual a linguagem mais adequada a utilizar, ou seja, é necessário toda uma adequação dos seus métodos e técnicas de ensino de acordo com as diferentes faixas etárias. Compreender o desenvolvimento do aluno também ajudará o educador a identificar possíveis problemas de aprendizagem e entender por que seu aluno não aprende, se ele apresenta uma aprendizagem avançada ou defasada para sua faixa etária etc. De forma geral, o entendimento da Psicologia do Desenvolvimento serve de apoio para a produção de práticas de ensino adequadas e coerentes com o processo de ensino e aprendizagem do aluno e auxilia no desenvolvimento do potencial humano.
Papalia e Feldman (2013) destacam que os estudos nessa área podem acarretar grande impacto na vida das pessoas, contribuindo assim para melhor qualidade de vida dos envolvidos. Por exemplo:
pesquisadores em Boston descobriram que alunos que iam para escola com fome ou sem os nutrientes essenciais em sua dieta tinham notas mais baixas e mais problemas emocionais e comportamentais do que seus colegas. Depois que as escolas começaram um programa que incluía café da manhã, os alunos participantes melhoraram suas notas de matemática, faltaram e se atrasaram com menor frequência e tiveram menos problemas emocionais e comportamentais [...] Pesquisas mostrando que o cérebro dos adolescentes ainda é imaturo motivaram propostas de que adolescentes acusados de crimes sejam isentos da pena de morte. A compreensão do desenvolvimento adulto pode ajudar as pessoas a entender e lidar com as transições da vida: a mulher que volta ao trabalho depois de sair da maternidade, a pessoa que muda da carreira, a viúva ou o viúvo lidando com sua perda, alguém que enfrenta uma doença terminal (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 36).
Os resultados das pesquisas na área da Psicologia do Desenvolvimento favorecem a compreensão do homem acerca daquilo que percorrerá ao longo da vida, como pode resolver seus problemas, quais são os seus limites e suas capacidades, entre outros. À medida que o Desenvolvimento Humano foi se tornando uma disciplina científica, seus objetivos passaram a contemplar explicação, descrição, previsão e possibilidade de intervenção. Por exemplo:
para descrever quando a maioria das crianças pronuncia sua primeira palavra ou qual o tamanho de seu vocabulário numa certa idade, os cientistas do desenvolvimento observam grandes grupos de crianças e estabelecem normas, ou médias, para o comportamento em várias idades. Eles procuram assim explicar como as crianças adquirem a linguagem, e por que algumas crianças aprendem a falar mais tarde do que o usual. Com esse conhecimento podem-se prever comportamentos futuros, tais como a possibilidade de uma criança ter sérios problemas com a fala. Finalmente, o conhecimento de como a linguagem se desenvolve pode ser utilizado para intervir no desenvolvimento, por exemplo, disponibilizando terapia fonoaudiológica para a criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 37).
Assim como as demais ciências, o estudo do Desenvolvimento Humano está em constante evolução. As questões levantadas pelos cientistas, as explicações propostas e os métodos utilizados são mais diversificados e sofisticados do que há dez anos, por exemplo. Essas mudanças representam progresso na compreensão à medida que novos questionamentos e investigações se ancoram naquelas que os antecederam.
As novas tecnologias têm auxiliado muito nesse sentido. Graças aos equipamentos sofisticados e altamente sensíveis existentes hoje, é possível medir o ritmo cardíaco, o movimento dos olhos, a tensão muscular etc., aspectos que apresentam importantes conexões entre inteligência infantil e funções biológicas. Os computadores e a tecnologia digital permitem aos estudiosos escanear as expressões faciais na busca pelos primeiros sinais emocionais e analisar como bebês e mães se comunicam. Os avanços ocorridos nos equipamentos de imageamento possibilitaram comparar o cérebro de uma pessoa idosa com o de uma com demência e sondar os mistérios do temperamento humano. Essa área do conhecimento, entre vários outros fatores relevantes, busca ainda o entendimento dos padrões de mudanças e de crescimento ocorridos ao longo da vida, que permitem que ela discuta várias questões relevantes aos seres humanos. Essas questões variam desde novas maneiras de concepção dos filhos, transitando pelas novas formas de criá-los, até chegar à compreensão sobre os marcos da vida humana, vividos por todos de maneira universal (FELDMAN, 2015).
A Psicologia do Desenvolvimento tem buscado responder aos inúmeros questionamentos sobre os desdobramentos da vida, que, na maioria das vezes, são pensados a partir do senso comum. Como na vida cotidiana, é possível constatar mudanças ocorridas na estatura, no crescimento e demais aspectos físicos (por exemplo, quando comparamos fotos de diversos momentos da vida). Muitos podem considerar desnecessário estudar o desenvolvimento humano, mas nem sempre é possível observar as transformações ocorridas na forma de pensar, agir e se relacionar com o mundo que ocorrem de maneira mais lenta, com rupturas, continuidades e por saltos.
O conhecimento do dia a dia nem sempre é suficiente para se compreender a complexidade do ser humano e, portanto, necessita de uma análise mais sistematizada, que vai além da sabedoria popular. Ao acolher o Desenvolvimento Humano como seu objeto de estudo, a Psicologia procurou e procura compreender os processos de transformações ocorridas no homem, de modo a conjecturar em que momentos e condições podem ocorrer e por que são mais propensos em certas etapas vida. Além disso, ela busca promover debates sobre os fatores que determinam ou influenciam as mudanças comportamentais ao longo da vida (PILETTI et al., 2014).
O estudo do Desenvolvimento Humano envolve o conhecimento de uma diversidade de fatores e aspectos, que, apesar de serem apresentados didaticamente separados, envolvem uma rede complexa de variáveis que estão em constante relação e que produzem o próprio desenvolvimento humano. Vale destacar que é preciso compreender que as pessoas são diferentes e, por isso, também se desenvolvem em ritmos diferentes. Esse é um aspecto de extrema importância no âmbito educacional; afinal, a escola pode cometer o erro de realizar comparações entre crianças da mesma idade, sem considerar o ambiente em que estão inseridas. Desse modo, é essencial que o educador, ao trabalhar com um grupo de crianças da mesma faixa etária, compreenda o modo particular de ser de cada um e entenda e respeite o seu ritmo de desenvolvimento.
Outro aspecto a ser considerado é que o desenvolvimento acontece de forma gradual e relativamente ordenada. Algumas habilidades precisam ser desenvolvidas para que outras possam ser produzidas; assim, o desenvolvimento de certos comportamentos funciona como pré-requisito para o aparecimento de outros novos. Nesse ponto, também é preciso respeitar o processo de desenvolvimento de cada um, pois o ser humano não nasce completamente desenvolvido. Ele não nasce andando, falando, interagindo com as pessoas de maneira perfeita, não é mesmo? Tudo vai acontecendo gradualmente e de forma sucessiva, sendo que algumas habilidades são desenvolvidas antes de outras e cada uma em seu próprio ritmo.
Entre os vários aspectos estudados pela Psicologia do Desenvolvimento, está a busca pelo entendimento dos padrões de mudanças e de crescimento ocorridos ao longo da vida, que permite que ela discuta várias questões relevantes. Nesse sentido, a seguir assinale a alternativa que corresponda a uma contribuição dessa área do conhecimento para a educação.
Destaca a diferença das classes sociais.
Incorreta. Pois identificar a diferença das classes sociais não é uma contribuição da Psicologia do Desenvolvimento para a área da educação. Uma delas (entre muitas) é o apoio que oferece às práticas de ensino, para que sejam coerentes com cada faixa etária.
Esclarece sobre os transtornos mentais.
Incorreta. Pois a Psicologia do Desenvolvimento não tem como foco principal o estudo dos transtornos mentais. Desse modo, uma de suas contribuições para a área da educação é dar apoio para a produção de práticas de ensino mais adequadas e eficazes.
Apoia as práticas de ensino.
Correta. Pois a Psicologia do Desenvolvimento serve de apoio para a produção de práticas de ensino adequadas e coerentes com o processo de ensino e aprendizagem do aluno e auxilia no desenvolvimento do potencial humano.
Destaca as principais doenças infantis.
Incorreta. Pois o foco da Psicologia do Desenvolvimento não é o estudo das doenças infantis, mas, sim, o desenvolvimento humano nos diferentes ciclos da vida. Desse modo, uma de suas contribuições para a área educacional é oferecer apoio para a produção de práticas de ensino.
Foca os problemas do contexto escolar.
Incorreta. Pois a Psicologia do Desenvolvimento não foca o estudo de problemas escolares, mas, sim, no desenvolvimento humano nos diferentes ciclos da vida. Assim, uma de suas contribuições é apoiar a produção de práticas de ensino no âmbito educacional.
Estudante, você já parou para refletir sobre o que o torna uma pessoa única? Quais são as variáveis que permitem que você seja diferente das outras pessoas? Esse é um importante questionamento que os estudiosos do Desenvolvimento Humano têm feito ao longo dos anos. Apesar de se preocuparem com os processos universais do desenvolvimento, eles também buscam compreender as diferenças individuais entre os seres humanos.
Há inúmeros fatores que diferenciam os homens uns dos outros, certo? Pense comigo: as pessoas se diferem em peso corporal, altura, gênero, personalidade, temperamento, reações emocionais. Se diversificam, ainda, de acordo com as sociedades, os lares e as comunidades em que vivem; pelos relacionamentos (em casa, na escola, no trabalho etc.) que estabelecem; pela forma como passam seu tempo livre etc. Para Papalia e Feldman (2013), as diferenças humanas podem estar vinculadas a três fatores distintos: hereditariedade, ambiente e maturação. A hereditariedade (características herdadas dos pais ou traços inatos) é um fator responsável por grande parte da influência sobre o desenvolvimento. Outras influências são advindas boa parte do ambiente externo do sujeito (que se inicia no útero) e da aprendizagem vinculada à experiência. Mas, afinal, quais desses fatores possuem maior impacto sobre o desenvolvimento humano? Esse é um assunto que historicamente gerou debates entre os pesquisadores da área.
Atualmente, os cientistas encontraram meios de medir com mais precisão, numa determinada população, o papel da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento de traços específicos. Quando, porém, consideramos uma determinada pessoa, a pesquisa relativa a quase todas suas características aponta para uma combinação de hereditariedade e experiência. Assim, embora a inteligência seja fortemente influenciada pela hereditariedade, a estimulação parental, a educação, a influência dos amigos e outras variáveis também a afetam. Teóricos e pesquisadores contemporâneos estão mais interessados em descobrir meios de explicar como genética e ambiente operam juntos do que argumentar sobre qual dos fatores é mais importante. (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 42)
Muitas transformações ocorridas durante a primeira e a segunda infância, como, por exemplo, a capacidade da criança de falar, andar etc., estão vinculadas à maturidade do cérebro e do corpo. À medida que as crianças se tornam adolescentes e, depois, adultas, distinções individuais das características inatas e experiências de vida da pessoa assumem um papel mais relevante. No entanto, durante toda a vida, os aspectos da maturidade continuam interferindo em alguns processos fisiológicos como o desenvolvimento do cérebro do sujeito.
Vale destacar, ainda, que as reações cerebrais de bebês frente a estímulos diferentes também sofrem interferência das distinções individuais de características inatas, conforme apresentado no quadro a seguir.
Quadro 1.1 - Reação a estímulos e o córtex frontal
Fonte: Kail (2004, p. 115-116).
Como vimos, as características próprias de cada bebê influenciam nas reações cerebrais e, portanto, cada sujeito se desenvolve de forma distinta. Até mesmo nos processos que são universais, ou seja, em que todas as pessoas são submetidas da mesma maneira, os momentos e ritmos do desenvolvimento variam. Alguns eventos ocorrem em uma média de idade, como, por exemplo, a primeira palavra, o primeiro passo, o desenvolvimento do pensamento lógico, a primeira menstruação, a menopausa etc. No entanto esses eventos ocorrem em uma idade média, pois há uma grande variação entre eles. E é apenas quando essa média é muito discrepante, que consideramos o desenvolvimento adiantado ou atrasado em demasia, caso contrário, não.
Para compreender o desenvolvimento humano, é necessário considerar as características herdadas que oferecem a cada indivíduo um impulso (ponto de partida especial) na vida. É preciso considerar, ainda, os vários fatores ambientais ou as vivências que afetam o desenvolvimento, em especial os contextos considerados importantes para as pessoas, como família; raça/etnia e cultura; vizinhança, nível socioeconômico etc. Desse modo, faz-se necessário compreender como o ambiente e a hereditariedade interagem e quais dos processos de desenvolvimento são predominantemente maturacionais, e quais não são. Além disso, é preciso observar as influências que têm maior impacto nas pessoas em certas idades e determinados momentos históricos; aquelas que influenciam somente algumas pessoas e outras não; e, finalmente, observar em que medida o momento do fato ocorrido pode interferir na influência.
Outro dado importante para o estudo do desenvolvimento são os aspectos envolvidos nesse processo: físico-motor; intelectual, afetivo-emocional e social. Esses elementos estão em constante relação e devem ser entendidos como indissociáveis, envolvendo um olhar globalizado sobre o indivíduo, apesar de que, muitas vezes, são apresentados por alguns autores separadamente ou com ênfase em um deles. Vamos entender um pouco mais esses quatro aspectos. Veja cada um deles no quadro a seguir.
Quadro 1.2 - Aspectos do Desenvolvimento Humano
Fonte: Bock et al. (2018, p. 123-124).
Além desses aspectos, vale destacar as influências normativas e não normativas no desenvolvimento humano. Para que possamos compreender as diferenças e semelhanças no desenvolvimento, é preciso olhar para dois modelos de influências normativas: “eventos biológicos ou ambientais que afetam muitas pessoas ou a maioria delas em uma sociedade, e eventos que atingem apenas certos indivíduos” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 47).
Influências normativas reguladas pela faixa etária costumam ser muito semelhantes para indivíduos de uma certa idade. O período de ocorrência de alterações biológicas é relativamente previsível dentro de uma mesma idade. Por exemplo: ninguém passa pela experiência da puberdade aos 40 anos e nem da menopausa aos 12, não é mesmo? Já as influências normativas reguladas pela história são fatos marcantes, como guerras, pandemias, etc., que modelam as atitudes e o comportamento de uma geração, ou seja, um grupo de pessoas que vivenciam o mesmo evento significativo em um período formativo de suas vidas.
Pessoas que se tornaram maiores de idade durante a Segunda Guerra Mundial ou a grande Depressão formam uma geração que tende a demonstrar forte senso de confiança social e independência, o que não ocorreu com pessoas das gerações posteriores.
Dependendo de quando e onde vivem, gerações inteiras podem sentir o impacto da escassez de alimentos, das explosões nucleares ou dos ataques terroristas. Nos países ocidentais, os avanços da medicina, bem como os aperfeiçoamentos na nutrição e no saneamento reduziram dramaticamente a mortalidade infantil. Hoje, à medida que as crianças vão crescendo, são influenciadas por computadores, televisão digital, internet e outras inovações tecnológicas. As mudanças sociais, como o aumento da presença de mães no mercado de trabalho e de lares de pais ou mães solteiros alteraram, e muito, a vida familiar (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 48).
Não podemos considerar uma geração histórica como uma coorte etária, ou seja, um grupo de pessoas que nasceu praticamente no mesmo período. “Uma geração histórica pode conter mais de uma coorte, mas as coortes fazem parte de uma geração histórica somente se passarem pela experiência de importantes eventos históricos em um momento formativo de suas vidas” (FELDMAN; PAPALIA, 2013, p. 48).
Influências não normativas são fatos incomuns que impactam na vida das pessoas, por perturbar a lógica esperada do ciclo da vida. Podem ser situações típicas que ocorrem em um período atípico da vida, como o falecimento de um dos pais quando a criança ainda é pequena, ou situações atípicas, como sobreviver a um acidente de avião. Algumas dessas influências podem apresentar sérios desafios ou particulares oportunidades; afinal, estão além do controle do indivíduo e, por isso, são entendidas como momentos decisivos da vida. Muitas vezes, as próprias pessoas criam suas situações não normativas, por exemplo: quando decidem ter um filho, praticar esportes perigosos etc. e, desse modo, mesmo que de forma intencional, participam desse processo de desenvolvimento.
Esses três tipos de influências (normativa regulada pela faixa etária, normativa regulada pela história e a não normativa) juntos favorecem os desafios vividos pelas pessoas na construção de suas vidas e o complexo processo de desenvolvimento humano.
Atualmente, a presença da mídia acarreta uma influência normativa em crianças pequenas, que hoje utilizam com habilidade aplicativos de Iphone desenvolvidos especialmente para elas. Como isso poderá moldar seu desenvolvimento? Esse é um assunto intrigante e importante, que deve ser refletido, especialmente por profissionais da área educacional (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 48).
Estudante, vimos que algumas influências afetam o processo de desenvolvimento humano, não é mesmo? Mas o que dizer da cronologia das influências, ou seja, dos períodos críticos ou sensíveis que passamos na vida? Para entendermos melhor esse assunto, vale destacar um estudo realizado por um zoólogo austríaco chamado Konrad Lorenz (1957), que fez patos recém-nascidos o acompanharem, como teriam feito com a mãe pata. É isso mesmo! Esse estudioso provou que patos recém-nascidos seguem de forma instintiva o primeiro estímulo que veem se mover à sua frente, independentemente de ser de sua espécie ou não.
Esse fenômeno chama-se imprinting, e Lorenz acreditava e fosse automático e irreversível. Geralmente, a ligação instintiva é com a mãe; quando o curso natural dos eventos for perturbado, porém, outros vínculos, como aquele estabelecido com Lorenz - ou nenhum vínculo - podem se formar. O imprinting dizia Lorenz, é o resultado de uma predisposição à aprendizagem: a prontidão do sistema nervoso de um organismo para adquirir certas informações durante um breve período crítico no começo da vida (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 48, grifo nosso).
O período crítico é um período de tempo específico em que um determinado acontecimento, ou a ausência dele, causa um impacto específico no desenvolvimento humano. Se um evento essencial não ocorrer no período crítico da maturação, o desenvolvimento natural não ocorrerá e o desenvolvimento anormal poderá ser irreversível. Porém, a duração de um período crítico não é totalmente fixa: “se as condições de criação de patinhos forem alteradas para desacelerar seu crescimento, o período crítico usual para o imprinting poderá ser estendido o próprio imprinting talvez seja até revertido” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 49).
Estudante, você pode estar se perguntando: os seres humanos também passam por períodos críticos assim como os patinhos? A resposta é sim. Por exemplo, se uma mulher ingere certos medicamentos, é submetida a Raio X ou contrai algumas doenças durante certo período da gestação, o bebê poderá ter consequências nocivas específicas, dependendo do momento do acontecimento, da natureza do choque e das características do próprio feto. Além disso, se uma alteração muscular que impeça o bebê de focar os dois olhos em um único objeto não for reparada durante um período crítico no começo da infância, os procedimentos do cérebro necessários para a percepção binocular profunda possivelmente não se desenvolverão.
O conceito de períodos críticos em humanos é bastante polêmico. Uma vez que muitas variáveis do desenvolvimento, incluindo o domínio físico, mostraram plasticidade (desempenho passível de mudança), é mais adequado considerar os períodos sensíveis, quando um sujeito em fase de desenvolvimento é particularmente receptivo a determinados tipos de experiências.
A plasticidade cerebral é a capacidade do cérebro de modificar sua estrutura a partir das experiências advindas do meio. Ela pode ser comparada a um GPS. Pense comigo: quando você está caminhando em uma estrada com o GPS ligado e erra o caminho, o que ocorre? Ele traça uma nova rota, certo? Da mesma forma, à medida que nosso cérebro se depara com novas experiências, vai criando novas conexões, modificando sua estrutura funcional. Para saber mais, fique por dentro acessando o link a seguir: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/plasticidade-cerebral-e-possivel-aprender/23333. Acesso em: 22 jun. 2020.
Os estudos sobre a plasticidade cerebral vêm mostrando cada vez mais que ela não se trata apenas de uma característica geral do desenvolvimento humano que pode ser aplicada a todos os membros de uma mesma espécie. Há diferenças individuais na plasticidade nas respostas aos estímulos do ambiente.
Estudos sugerem que algumas crianças, principalmente aquelas altamente reativas, de temperamento difícil e portadoras de certos tipos de genes, são afetadas de maneira mais profunda pelas experiências infantis, tanto positivas como negativas, do que as demais crianças. Essas novas pesquisas destacam que características negativas, como temperamento difícil ou reativo, são significativamente adaptativas (positivas) quando o meio apoia o desenvolvimento. Por exemplo:
um estudo recente descobriu que crianças que eram altamente reativas à eventos do ambiente apresentavam, como era de se esperar, respostas negativas como agressão e problemas comportamentais quando diante de fatores estressores como o conflito conjugal em suas famílias. Surpreendentemente, contudo, quando os níveis de adversidade da família eram baixos, crianças altamente reativas apresentavam perfis ainda mais adaptativos que as crianças de baixa reatividade. Essas crianças altamente reativas eram mais pró-sociais, mais participativas na escola e demonstravam níveis menores de externalização de sintomas (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 49).
Esses estudos demonstraram que é preciso rever a definição da natureza da neuroplasticidade das primeiras fases do desenvolvimento humano e considerar os aspectos do risco e da resiliência. Veja no quadro a seguir como os conceitos de períodos sensíveis e críticos se aplicam ao desenvolvimento da linguagem.
Quadro 1.3 - Período crítico da linguagem
Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 50).
Estudante, por acaso você aprendeu a falar uma nova língua na fase adulta? Se sim, encontrou dificuldades? Como apresentado no quadro anterior, o cérebro infantil e o adulto aprendem novas línguas de maneira diferente. Desse modo, quanto mais cedo a criança for estimulada na área da linguagem, melhor será seu desempenho futuro.
No que se refere ao estudo do Desenvolvimento Humano, existem alguns elementos importantes envolvidos no processo, a saber: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social. Esses aspectos estão em constante relação e precisam ser considerados indissociáveis em uma perspectiva integrada do sujeito. Nesse sentido, assinale a alternativa que corresponde ao aspecto social.
A sexualidade faz parte desse aspecto.
Incorreta. Pois esse aspecto é o afetivo-emocional, e não o aspecto social. Ele engloba a forma como as pessoas vivenciam suas experiências, seu modo de sentir e reagir ao mundo.
Envolve reações do sujeito frente à outras pessoas.
Correta. Pois o aspecto social é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Por exemplo: em um grupo de crianças no parque, é possível observar que algumas buscam espontaneamente outras para brincar, enquanto outras permanecem sozinhas.
Engloba raciocínio e aprendizagem.
Incorreta. Pois é o aspecto intelectual e não o social que envolve raciocínio e aprendizagem. Ele se refere às mudanças da capacidade mental, ou seja, pensamento, raciocínio, memória, linguagem e aprendizagem.
Relaciona-se ao crescimento orgânico.
Incorreta. Pois o aspecto que se relaciona ao crescimento orgânico é o físico-motor, e não o social. Ele se refere à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo.
Nele são analisadas as mudanças do cérebro.
Incorreta. Pois não é o aspecto social que analisa as transformações do cérebro, mas, sim, o aspecto físico-motor. Nele, são analisadas as mudanças no corpo físico, no cérebro, sua capacidade sensorial e habilidades motoras.
Estudante, desde o útero da mãe até o túmulo, nossa vida é uma longa jornada, não é mesmo? Pense comigo: desde a concepção, inicia-se um processo de transformação que perdura ao longo da vida. Impressionante é que uma única célula pequenina vai se desenvolvendo até se tornar um ser que respira, fala e anda. E, apesar dessa célula se transformar em um ser único, as mudanças experimentadas pelas pessoas ao longo da vida possuem padrões comuns.
O recém-nascido cresce e se torna uma criança, que cresce e torna-se um adulto. Do mesmo modo, as características das pessoas também possuem alguns padrões comuns. Por exemplo: estudos mostram que uma média de 10% a 15% das crianças são bastante ousadas e que 10% a 15% são tímidas. Embora outras interferências possam alterar essas características, elas costumam persistir e manter uma certa média de probabilidade.
Para facilitar o estudo acerca do desenvolvimento humano, os pesquisadores fizeram uma divisão do ciclo de vida por fases. Essa divisão é uma construção social, criada por determinada cultura ou sociedade e, por isso, não pode ser considerada um processo totalmente óbvio e natural. Como mencionamos, embora alguns padrões costumem se apresentar comuns entre as pessoas, outras variáveis influenciam nesse processo, como ambiente de criação, cultura, genética etc.
Nesse sentido, apresentaremos a você na sequência, os oito períodos que costumam ser adotados pelas sociedades industriais ocidentais. Apesar de saberem que existem diferenças individuais entre as pessoas na forma como lidam com os eventos nos diferentes períodos da vida, os pesquisadores da área sugerem que algumas atividades e necessidades básicas sejam universais. Veja no quadro a seguir os principais desenvolvimentos típicos em oito fases do desenvolvimento humano.
Quadro 1.4 - Períodos do ciclo da vida
Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 40-41).
Conforme mencionado, apesar de existirem diferenças na maneira como as pessoas pensam, agem e se comportam nas diferentes fases da vida, conhecer os períodos do ciclo da vida torna-se essencial para a compreensão acerca de fatores do desenvolvimento humano que são considerados universais em todos os seres humanos.
Estudos mostram que as mudanças experimentadas pelas pessoas ao longo da vida possuem certos padrões comuns. O recém-nascido cresce e se torna uma criança, que cresce e se torna um adulto, assim como as características das pessoas possuem padrões comuns. Nesse sentido, leia as afirmativas a seguir e assinale a alternativa que corresponde a uma característica cognitiva da terceira infância.
Diminuição do egocentrismo.
Correta. Pois, nessa fase, a criança diminui o egocentrismo. Além disso, começa a pensar com lógica, no entanto de forma concreta, e suas habilidades de linguagem e memória aumentam.
Tem ideias ilógicas sobre o mundo.
Incorreta. Pois essa característica corresponde à fase da segunda infância, devido à imaturidade cognitiva. Nesse período, a criança se apropria da linguagem e da memória.
A compreensão da linguagem se desenvolve rapidamente.
Incorreta. Pois essa característica corresponde à fase da primeira infância, e não à da terceira. Nesse período, as capacidades de lembrar e aprender já estão presentes.
Desenvolve-se a capacidade do pensamento abstrato.
Incorreta. Pois a fase que o pensar em termos abstratos se desenvolve é a da adolescência. Nesse período, o jovem é capaz de usar o raciocínio científico e, desse modo, a educação foca a preparação para a faculdade.
Julgamentos morais se tornam mais elaborados.
Incorreta. Pois essa é uma característica da fase do início da vida adulta. Nela, tanto o pensamento como os julgamentos morais se tornam mais elaborados. É quando ocorre as escolhas vocacionais e educacionais.
Nome do livro: Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem
Editora: Intersaberes
Autor: Christiane Martinatti Maia
ISBN: 9788559725636.
Comentário: Essa obra apresenta aspectos relevantes do desenvolvimento humano que possibilitam reflexões acerca do processo de ensino e aprendizagem. Ela apresenta o histórico da Psicologia, analisando as ideias de estudiosos como Skinner, Piaget, Rogers e Vygotsky sobre o desenvolvimento humano e a aprendizagem. Para acessá-lo em sua biblioteca virtual, o livro está disponível no link a seguir: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/130298.
Boa leitura!
Nome do filme: O garoto selvagem
Gênero: Drama
Ano: 1970
Elenco principal: François Truffaut, Pierre Fabre e Jean Gruault
Comentário: Baseado em uma história real, o filme discorre sobre um menino que foi capturado aos 11 anos de idade em uma floresta. Ele havia sido criado por lobos e era incapaz de falar, andar, ler ou escrever. Foi atendido por um médico que buscou desenvolver seu potencial cognitivo para que conseguisse adquirir as habilidades próprias dos seres humanos. Trata-se de um filme muito interessante para refletirmos sobre o processo de ensino e aprendizagem, a plasticidade cerebral e a influência que o meio social tem no desenvolvimento cognitivo e afetivo dos seres humanos.