O termo esgoto diz respeito aos despejos provenientes dos diversos usos da água pelos seres humanos, a exemplo do doméstico, industrial, comercial, agrícola, dentre outros. Em geral, apresentam características físicas, químicas e biológicas danosas ao meio ambiente e à saúde dos seres vivos.
Sistemas de tratamento de esgoto são um conjunto de unidades interligadas por canalizações, nas quais ocorre a separação dos constituintes e a conversão dos poluentes presentes, com vistas à disposição nos corpos hídricos receptores.
Portanto, nesta terceira unidade do material de “Saneamento Ambiental”, estudaremos sobre os sistemas de tratamento de esgotos, uma importante atividade constituinte do sistema de saneamento básico.
A partir da Figura 3.1, podemos ver que o ciclo artificial da água engloba as etapas de captação de água superficial, tratamento e distribuição; coleta, tratamento e disposição dos esgotos nos corpos receptores; purificação natural do corpo receptor; e repetição do ciclo pelas cidades a jusante.
Esse ciclo é explicado por Brasil (2004) da seguinte forma: uma determinada cidade capta e trata a água superficial para a distribuir às residências e indústrias. Os esgotos gerados por estas são coletados e transportados para uma estação de tratamento e, em seguida, há o despejo do efluente tratado no corpo hídrico receptor. Uma outra cidade, a jusante da primeira, captará a água para abastecimento público antes que ocorra sua completa recuperação. Este processo repete-se por várias vezes.
Mas o que é esgoto? Esgoto é a terminologia utilizada para caracterizar todos aqueles despejos resultantes dos diversos usos da água, a exemplo do doméstico, industrial, comercial, agrícola, dentre outros. Por sua vez, o termo esgoto sanitário é utilizado para definir os despejos líquidos constituídos da somatória dos esgotos domésticos, industriais e águas de infiltração (VON SPERLING, 1996).
Dessa forma, na presente Unidade, aprofundaremos nossos conhecimentos no que diz respeito aos sistemas de tratamento de esgoto, os quais destinam-se à coleta e ao tratamento, com vistas à remoção dos poluentes ali presentes, antes de sua disposição final no corpo hídrico receptor.
Como já estudado anteriormente, a devolução direta de esgotos nos corpos d’água pode transmitir doenças aos seres humanos e animais, devido aos patógenos presentes nos dejetos humanos e, ainda, acarretar diversos problemas ambientais, conforme Quadro 3.1.
Quadro 3.1 - Efeitos do lançamento do esgoto no ambiente
Fonte: Adaptado de Brasil (2015, p. 175).
Por meio do Quadro 3.1, nota-se que a disposição final adequada dos esgotos é importante, em termos ambientais, econômicos e sanitários. No aspecto ambiental, é importante, uma vez que os poluentes podem prejudicar a qualidade da água, diminuindo a concentração de oxigênio dissolvido e provocando a mortandade da vida aquática; além do mais, podem conferir odor, gosto e coloração desagradável à água.
No aspecto econômico e sanitário, o correto destino dos esgotos é essencial, com vistas à promoção da saúde pública; ainda, reduz a mortalidade, diminui despesas com tratamento de doenças, reduz custos com tratamento de água, dentre outros.
De acordo com a Lei nº 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente:
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente (BRASIL, Lei nº 9.605, 1998).
Assim, além da importância da correta disposição dos esgotos, nos aspectos destacados, o lançamento de esgotos sem tratamento nos corpos hídricos receptores é considerado crime ambiental.
A eutrofização dos corpos d'água é um fenômeno de crescimento exacerbado de algas, o qual pode ocorrer devido ao despejo de esgotos sem tratamento. Assinale a alternativa que contenha os poluentes responsáveis por causarem tal fenômeno.
Metais pesados.
Incorreta, pois metais pesados podem causar problemas de toxicidade, inibição do tratamento biológico dos esgotos, problemas de disposição do lodo na agricultura e contaminação da água subterrânea.
Nutrientes.
Correta, o lançamento de esgotos ricos em nutrientes, como fósforo e nitrogênio, é responsável pelo crescimento exacerbado de algas, causando o que é conhecido por eutrofização do corpo d’água.
Compostos não biodegradáveis.
Incorreta, pois compostos não biodegradáveis podem causar problemas de toxicidade, espumas, redução de transferência de oxigênio, não biodegradabilidade e maus odores.
Organismos patogênicos.
Incorreta, pois as consequências dos organismos patogênicos relacionam-se com doenças relacionadas às águas.
Sólidos flutuantes.
Incorreta, pois sólidos flutuantes podem acarretar em problemas estéticos.
Como já vimos, os esgotos sanitários são resultantes da somatória dos esgotos domésticos, esgotos industriais e águas de infiltração.
Esgotos domésticos são aqueles provenientes das atividades domésticas para fins higiênicos (sanitários, lavanderias, cozinhas, etc.), seja nos domicílios ou nos estabelecimentos comerciais, de empresas e instituições.
Os esgotos domésticos possuem características bem definidas, contendo essencialmente matéria orgânica, sendo compostos basicamente por urina, fezes, águas de banho, restos de alimentos e águas de lavagem. São divididos em: águas negras (provenientes das instalações sanitárias, contendo urina e fezes) e águas cinzas (provenientes dos demais usos domésticos) (BRASIL, 2015; VON SPERLING, 1996; MENDONÇA; MENDONÇA, 2001).
Por sua vez, os esgotos industriais são aqueles provenientes das mais diversas atividades industriais, como de alimentos, químicas, de tintas, dentre outras, cuja composição varia de matéria orgânica à mineral. Para esses esgotos, a sua natureza deverá ser avaliada, a fim de verificar se estes poderão ser lançados in natura, na rede de esgotos, ou se haverá necessidade de tratamento.
Quanto aos esgotos industriais, Brasil (2015) destaca que o lançamento in natura é proibido para aqueles que possam interferir no sistema de tratamento, obstruir tubulações e equipamentos, oferecer riscos à segurança e problemas na operação das redes coletoras, que sejam agressivos às tubulações ou que tenham temperatura acima de 45ºC.
Os esgotos, além da classificação quanto à origem, podem ser classificados em fresco ou séptico. Esgoto fresco é aquele que contém oxigênio dissolvido e permanece fresco enquanto existir decomposição aeróbia. Já no esgoto séptico, o oxigênio dissolvido foi esgotado, estabelecendo-se a decomposição anaeróbia dos sólidos e a produção de gases (MENDONÇA; MENDONÇA, 2017).
Para fins de projeto de um sistema de tratamento de esgotos, é importante o conhecimento de suas características qualitativas e quantitativas. Atente-se que, em nosso estudo, uma ênfase será dada aos domésticos, visto que os industriais apresentam características variáveis, de acordo com a atividade industrial.
De modo geral, os esgotos contêm, aproximadamente, 99,93% de água, cuja fração restante é proveniente dos sólidos orgânicos e inorgânicos (Figura 3.2). Atente-se que é devido a essa pequena fração que devemos tratá-los (VON SPERLING, 1996).
Os esgotos domésticos são compostos de diferentes constituintes físicos, químicos e biológicos, os quais vão determinar suas características, conforme Quadro 3.2.
Quadro 3.2 - Principais características físicas, químicas e biológicas dos esgotos domésticos
Fonte: Adaptado de Von Sperling (1996, p. 61-63).
Dependendo da concentração destes constituintes, os esgotos podem ser classificados em diluído, médio ou forte, conforme Quadro 3.3.
Quadro 3.3 - Composição típica do esgoto doméstico
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003); Mendonça e Mendonça (2017, p. 27).
No que diz respeito às características quantitativas dos esgotos, pode-se avaliar a contribuição per capita e a vazão.
A contribuição dos esgotos domésticos depende diretamente do sistema de abastecimento de água. Como já estudado anteriormente, o consumo per capita de água é variável e dependente de vários fatores, como renda familiar, hábitos higiênicos e culturais da população, abundância ou escassez de mananciais, temperatura da região, entre outros.
De acordo com Mendonça e Mendonça (2017), a relação água/esgoto é conhecida como coeficiente de retorno “C”, que estabelece uma relação entre o volume de água fornecido à população e o volume de esgoto recebido na rede de esgotamento.
Normalmente, o coeficiente situa-se na faixa de 50 a 90% e, nos projetos, de modo geral, o valor utilizado é de 0,8 (80%), uma vez que, do total de água distribuída, parte não vai para o sistema de esgotamento. No caso dos domésticos, a água é desviada para encher piscinas, lavar calçadas, veículos, irrigar jardins, entre outros. Já no caso dos industriais, parte da água é empregada nos processos de fabricação e na alimentação de caldeiras a vapor.
As vazões dos esgotos podem apresentar variações horárias, diárias e sazonais, de acordo com alguns fatores, como hábitos da população, precipitação atmosférica e temperatura da região.
As equações 3.1, 3.2 e 3.3 fornecem o cálculo das vazões mínimas, médias e máximas, respectivamente.
\[{{Q}_{min}}=C\cdot \frac{P\cdot q\cdot {{K}_{3}}}{86.400}+{{q}_{inf}}\cdot L+{{Q}_{ind}}~~~~~~(3.1)\]
\[{{Q}_{med}}=C\cdot \frac{P\cdot q}{86.400}+{{q}_{inf}}\cdot L+{{Q}_{ind}}~~~~~~(3.2)\]
\[{{Q}_{med}}=C\cdot \frac{P\cdot q\cdot {{K}_{1}}\cdot {{K}_{2}}}{86.400}+{{q}_{inf}}\cdot L+{{Q}_{ind}}~~~~~~(3.3)\]
Em que:
\(Q_{min}\) = vazão mínima do esgoto (L/s).
\(Q-{med}\) = vazão média do esgoto (L/s).
\(Q_{max}\) = vazão máxima do esgoto (L/s).
C = coeficiente de retorno.
P = população a ser atendida (hab.).
q = consumo médio diário de água per capita (L/hab.dia).
K1 = coeficiente de máxima vazão diária.
K2 = coeficiente de máxima vazão horária.
K3 = coeficiente de mínima vazão horária.
\(q_{inf}\) = taxa de infiltração na rede de esgotamento (L/s.m).
L = extensão total da rede de esgotamento (m).
\(Q_{ind}\) = vazão da indústria (L/s).
É fundamental a medição dos parâmetros in loco. No entanto, na inexistência desses dados, a ABNT (NBR 9.649/1986) recomenda a utilização dos seguintes valores: C = 0,80; \(K_1\) = 1,2; \(K_2\) = 1,5; \(K_3\) = 0,5; \(q_{inf}\) = 0,00005 - 0,001.
Atente-se, também, que, ao se projetar um sistema de esgotamento, é importante saber da existência ou não de indústrias contribuintes e que uma outra contribuição do esgoto pode ser adicionada às vazões: as águas pluviais.
Exemplo 3.1: Determine a vazão de esgoto mínima (\(Q_{min}\)), sabendo os seguintes dados de projeto:
Solução: vamos utilizar a equação 3.1, logo:
\[{{Q}_{min}}=0,8\cdot \frac{20000\cdot 200\cdot 0,5}{86400}=18,52 L/s\]
Esgotos sanitários é a terminologia adotada para definir despejos líquidos constituídos de esgotos domésticos, industriais e águas de infiltração. Sobre os esgotos, assinale a alternativa correta.
Esgotos industriais possuem características bem definidas e são compostos essencialmente por matéria orgânica.
Incorreta, pois esgotos domésticos são aqueles compostos essencialmente por matéria orgânica, com características bem definidas.
Os esgotos domésticos podem apresentar variações em função dos costumes e condições socioeconômicas da população.
Correta, pois os esgotos domésticos variam em qualidade e em quantidade, em função dos costumes e condições socioeconômicas da população e, no geral, apresentam características bem definidas.
Esgotos domésticos apresentam temperaturas mais baixas do que as águas de abastecimentos.
Incorreta, pois esgotos domésticos possuem temperaturas mais elevadas do que as águas de abastecimento, devido à contribuição daqueles que tiveram suas águas aquecidas.
Esgoto fresco é aquele que apresenta odor de mofo e coloração preta.
Incorreta, pois esgoto fresco é aquele que apresenta odor de mofo e coloração acinzentada.
Esgotos domésticos são aqueles constituídos pela mesma quantidade de água e de matéria sólida.
Incorreta, pois esgotos domésticos apresentam uma média de 99,9% de água e o restante de matéria sólida.
De modo geral, as soluções de esgotamento sanitário podem ser: individuais e coletivas, conforme Figura 3.3.
Segundo Brasil (2015), no que diz respeito às soluções individuais, os domicílios e estabelecimentos providos de instalações prediais de água devem contemplar um conjunto composto por tanque séptico, seguido de unidades complementares de tratamento e/ou disposição final de efluentes líquidos.
Brasil (2015) ainda afirma que tanques sépticos são unidades de tratamento à nível primário, onde ocorre a sedimentação dos sólidos sedimentáveis e a digestão anaeróbia do lodo, que permanece acumulado no fundo até a sua estabilização. Na superfície, ficam retidos sólidos não sedimentados (como óleos, graxas e gorduras), formando a escuma, que também é decomposta anaerobiamente (Figura 3.4). De modo geral, a eficiência dos tanques sépticos situa-se na ordem de 60% de redução de sólidos em suspensão, 30 a 45% de remoção de DBO e 25 a 75% de remoção de coliformes termotolerantes.
Por sua vez, as soluções coletivas são aquelas que podem ser adotadas para um pequeno agrupamento de estabelecimentos e/ou domicílios, sendo, neste caso, chamadas de descentralizadas, cujas soluções utilizadas no tratamento podem ser as mesmas descritas anteriormente.
No entanto, cabe destacar que as soluções coletivas de tratamento normalmente são projetadas para abranger, no mínimo, uma bacia ou sub-bacia hidrográfica dentro do quadro urbano da cidade (BRASIL, 2015), podendo ser do tipo unitário, misto, separador convencional e separador condominial.
Em países de clima tropical e em desenvolvimento, é mais vantajoso adotar o sistema separador, devido aos recursos disponíveis serem escassos. Ainda, em locais com intensa precipitação atmosférica, os custos seriam mais altos, devido ao aumento dos fluxos de águas pluviais.
Neste estudo, daremos ênfase ao sistema separador convencional, por ser o sistema público mais utilizado em nosso país. As partes constitutivas do referido sistema são (Figura 3.5):
Como já estudado, na concepção do sistema de esgotamento sanitário, as características quantitativas e qualitativas dos esgotos deverão ser consideradas. Assim, estudos preliminares devem considerar (VON SPERLING, 1996):
Ainda, a escolha do sistema de tratamento de esgoto a ser adotado deverá levar em conta os critérios técnicos e econômicos, atendendo aos padrões de lançamento do efluente tratado. No Brasil, a Resolução CONAMA nº 357/2005 classifica os corpos d’água de acordo com os parâmetros de qualidade que devem apresentar, de modo que os efluentes (tratados ou não) só poderão ser lançados desde que não causem alterações que ultrapassem os valores máximos permissíveis estabelecidos na referida resolução, alterada e complementada pela Resolução CONAMA nº 430/2011.
Consulte a “Seção II - das condições e padrões de lançamento de efluentes”, da Resolução CONAMA nº 430/2011, e fique por dentro das condições e padrões de lançamentos de efluentes nos corpos hídricos receptores. Disponível em: mma.gov.br
Segundo Calijuri e Cunha (2013), de modo geral, um sistema sustentável de tratamento de esgotos deve atender aos requisitos:
Enunciado
Assinale a alternativa que diz respeito à unidade constituinte do sistema convencional de esgotamento sanitário responsável pelo transporte dos esgotos gerados na sub-bacia, evitando que sejam lançados nos corpos d’água.
Correta, pois interceptores são canalizações que recebem os coletores de esgoto ao longo de seu comprimento, responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados na sub-bacia, evitando que sejam lançados nos corpos d’água.
Emissário.
Incorreta, pois emissários são canalizações que conduzem esgotos a um destino, sem receber contribuições ao longo do percurso.
Poço de visita.
Incorreta, pois poços de visita são câmaras visitáveis, que permitem a inspeção e manutenção das canalizações.
Coletor tronco.
Incorreta, pois coletor tronco é uma tubulação do sistema coletor, que recebe apenas as contribuições de outros coletores.
Estação elevatória.
Incorreta, pois a elevatória objetiva bombear os esgotos a uma cota mais elevada.
Os processos de tratamento dos esgotos podem ser classificados de duas formas: de acordo com o grau de eficiência das unidades ou em função dos meios empregados na remoção dos poluentes (BRAGA et al., 2005).
Processos de tratamento em função da eficiência das unidades:
Processos de tratamento em função dos meios empregados na remoção dos poluentes:
É importante destacar que o nível de tratamento dos esgotos a ser adotado deverá levar em consideração alguns pontos importantes: a capacidade assimilativa do corpo hídrico receptor, a qualidade de água requerida para o uso consuntivo ou não consuntivo e a legislação ambiental vigente.
O artigo 16 da Resolução CONAMA nº 430/2011 estabelece que os efluentes de qualquer fonte poluidora poderão ser lançados diretamente no corpo receptor, desde que atenda aos parâmetros elencados no Quadro 3.4.
Quadro 3.4 - Condições de lançamento de efluentes
Fonte: Adaptado de Brasil (2011).
Na sequência, veremos as principais fases do tratamento dos esgotos.
Estudaremos, aqui, as principais fases do tratamento dos esgotos domésticos: tratamento preliminar, primário, secundário e terciário. A Figura 3.6 apresenta um fluxograma esquemático de um sistema completo de tratamento de águas residuais.
O tratamento preliminar é empregado para a remoção de sólidos suspensos grosseiros e fixos (principalmente areias), com vistas à proteção das demais unidades do tratamento e dos corpos hídricos receptores. Para este fim, normalmente, são utilizadas grades que impedem a passagem dos sólidos grosseiros; desarenadores (caixas de areia) para a retenção de areia; e, em alguns casos, tanques de flutuação, com vistas à retirada de óleos e graxas.
Além dessas unidades descritas, também é utilizada uma unidade de medição da vazão, normalmente constituída por uma calha de dimensões padronizadas, como a calha Parshall (Figura 3.7).
No tratamento primário, a remoção dos sólidos em suspensão sedimentáveis e dos sólidos flutuantes é feita em unidades de sedimentação. Logo, os esgotos fluem vagarosamente por decantadores primários, o que permite a gradual sedimentação dos sólidos em suspensão de maior densidade no fundo, formando o lodo primário bruto (Figura 3.8).
Ainda, nesta etapa, partículas suspensas podem ser removidas por meio da flotação, promovendo, assim, suas separações e remoções.
A seguir, veremos sobre o tratamento secundário. Vamos lá?!
No tratamento secundário, é realizada a degradação biológica dos compostos carbonáceos, viabilizando a decomposição de carboidratos, proteínas e lipídios em compostos mais simples, como gás carbônico (CO2), amônia (NH3), metano (CH4), sulfeto de hidrogênio (H2S), entre outros (MENDONÇA; MENDONÇA, 2017).
Segundo Von Sperling (1966), na etapa do tratamento secundário, a matéria orgânica apresenta-se na forma dissolvida (DBO solúvel) e em suspensão (DBO suspensa ou particulada). A DBO solúvel não é removida nos processos físicos, como o de sedimentação, que ocorre no tratamento primário, enquanto que a DBO suspensa é, em grande parte, removida no tratamento primário, mas cujos sólidos de decantabilidade mais lenta persistem na massa líquida.
O tratamento secundário geralmente inclui unidades de tratamento preliminares, podendo ou não incluir unidades de tratamento primário. Há uma grande variedade de métodos de tratamento, a nível secundário, sendo os mais comuns: lagoas de estabilização, lodos ativados, sistemas aeróbios, sistemas anaeróbios e disposição sobre o solo. O Quadro 3.5 sintetiza esses principais sistemas de tratamento de esgotos domésticos.
Atente-se ser pouco provável que um único reator biológico resulte em uma remoção desejável de matéria carbonácea, nitrogênio e fósforo. Assim, de modo geral, os sistemas de tratamento de esgoto são compostos por vários reatores biológicos, que desempenham funções específicas (CALIJURI; CUNHA, 2013).
Quadro 3.5 - Descrição sucinta dos principais sistemas de tratamento de esgotos a nível secundário
Fonte: Adaptado de Von Sperling (1996, p. 175-176).
É importante destacar que, nesses processos biológicos, são geradas biomassas na forma de lodo biológico. Em alguns sistemas, este é separado em decantadores secundários e retorna ao reator; em outros, o lodo é removido e submetido à tratamento complementar para acondicionamento e destinação final (CALIJURI; CUNHA, 2013).
Em alguns casos, o tratamento secundário é suficiente para a disposição final do esgoto nos corpos hídricos receptores, atingindo os padrões de lançamento aceitáveis. No entanto, em outros casos, o efluente do tratamento secundário pode, ainda, possuir macronutrientes (como fósforo e nitrogênio) em grandes concentrações, necessitando, assim, de tratamento terciário.
Segundo Mendonça e Mendonça (2017), esse tipo de tratamento costuma ser empregado, quando se requer um efluente final, com elevado grau de polimento, com valores muito baixos de DBO e sólidos suspensos. Normalmente, a nível industrial, o tratamento terciário é empregado quando se objetiva a reutilização da água.
O tratamento dos subprodutos sólidos gerados nas unidades de tratamento de esgotos é uma etapa muito importante. Como vimos, no geral, são gerados: material gradeado, areia, escuma, lodo primário e lodo secundário.
Os lodos são gerados em grandes volumes. Em alguns casos, conforme observado no quadro exposto mais anteriormente sobre eles, já saem estabilizados, em outros, necessitam de tratamento. As etapas de tratamento mais empregadas para os lodos são, com os respectivos objetivos:
Assista ao vídeo que trata das etapas do tratamento de esgotos, desde a coleta até a disposição final no corpo hídrico receptor. Link de acesso: culturalivre.com
Assinale a alternativa que diz respeito às unidades de tratamento preliminar de esgotos, cujo emprego visa a proteção dos equipamentos de bombeamento, evitando sedimentos incrustáveis e abrasões nas canalizações.
Decantador primário.
Incorreta, pois decantador primário é uma unidade de tratamento primária dos esgotos.
Reator anaeróbio de fluxo ascendente.
Incorreta, pois filtros biológicos são uma unidade de tratamento secundário dos esgotos.
Gradeamento e desarenador.
Correta, pois gradeamento e desarenador são empregados no tratamento preliminar dos esgotos, objetivando a proteção dos equipamentos de bombeamento, evitando sedimentos incrustáveis e abrasões nas canalizações.
Filtros biológicos.
Incorreta, pois filtros biológicos são uma unidade de tratamento secundário dos esgotos.
Lagoa anaeróbia.
Incorreta, pois lagoa anaeróbia é uma unidade de tratamento secundário dos esgotos.
As águas residuárias englobam os efluentes líquidos industriais, agroindustriais e da agropecuária, assim como os esgotos e as águas descartadas, sejam eles tratados ou não, de modo que o reúso das águas residuárias tem-se revelado como uma potencial alternativa para racionalização e conservação dos recursos hídricos.
Para Mendonça e Mendonça (2017), as formas e possibilidades de reuso dependem de características, condições e locais, como decisões políticas, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais e culturais.
Existem três tipos de reúso da água: indireto não planejado, indireto planejado e direto:
No Brasil, a Resolução CNRH nº 54/2005 estabelece modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reúso direto não potável de água. Em seu artigo 3º, a resolução cita que o reúso direto abrange as seguintes modalidades:
I - logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área urbana;
II - reúso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
III - reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;
IV - reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos, atividades e operações industriais; e,
V - reúso na aqüicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos (CNRH, Resolução nº 54, 2005).
Assim, dentre as possibilidades de reúso, sendo que, neste processo, pode ou não haver um tratamento prévio, cita-se:
Especificamente, no que diz respeito à utilização de água residuária em edificações, existem algumas exigências mínimas à qualidade desta água, como (ANA e MMA, 2005):
Assista aos vídeos a seguir e fique por dentro dos processos de tratamento de efluentes líquidos, assim como o reúso de água, seja em uma indústria de produção de gesso agrícola, localizada na cidade de Uberaba, Minas Gerais, ou a reciclagem e desmineralização de água na indústria de autopeças, respectivamente. Disponível em: capacitacao.ead.unesp.br e grupoep.com.br
Nome do livro: Sistemas sustentáveis de esgotos
Editora: Blucher
Autor: Sérgio Rolim Mendonça e Luciana Coêlho Mendonça
ISBN: 9788521209614
O livro traz orientações técnicas importantes para projeto e o dimensionamento de redes coletoras, emissários, canais, estações elevatórias, tratamento e reúso na agricultura dos esgotos sanitários.