As economias de mercado foram responsáveis pelo rápido avanço no desenvolvimento da sociedade nos últimos séculos, principalmente após a Revolução Industrial, que aumentou a produtividade dos agentes econômicos fazendo uso de máquinas e equipamentos. Já nas últimas décadas, o avanço da globalização e maior integração econômica por meio de blocos econômicos permitiu o crescimento do comércio entre países do mesmo bloco e das negociações internacionais.
Por outro lado, novos desafios começaram a surgir nas últimas décadas também, como o problema da poluição gerada pela sociedade em seu processo produtivo, sendo uma externalidade negativa da produção de bens e serviços. Consequentemente, nos últimos anos diferentes medidas têm sido tomadas no âmbito nacional e internacional para que a economia seja voltada para a produção de bens e serviços sustentáveis, permitindo o avanço do desenvolvimento sustentável.
Após a Segunda Guerra Mundial, dois grandes blocos econômicos se formaram: I) capitalista (liderado pelo Estados Unidos — EUA); II) socialista (liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas — URSS). Contudo, com a deterioração do regime socialista nas últimas décadas do século XX e o avanço da globalização comercial e financeira nas economias capitalistas desde a década de 1970, os países passaram a optar por formação de blocos econômicos regionais e avanço na integração econômica com as demais nações.
Como ressalta Seitenfus (2013), a globalização comercial conseguiu promover o avanço no comércio de produtos entre as economias, permitindo um maior número de negociações entre os países.
Por outro lado, a integração econômica regional proporcionou o surgimento de blocos econômicos e comerciais entre países, aumentou o comércio entre países pertencentes ao bloco, impactando as relações comerciais guiadas pelo livre comércio.
O comércio entre os países da União Europeia, que alcançava 25% do total do comércio exterior em 1948, já atinge mais de 60% das trocas. O caso do Mercosul é igualmente significativo, pois o comércio no interior do bloco triplicou após a assinatura do Tratado de Assunção (SEITENFUS, 2013, p. 160).
O processo que envolve maior sinergia de atuação entre diferentes países tem relação com a integração comercial e econômica, permitindo tomadas de decisão conjuntas de países. Por meio da integração entre países, até mesmo decisões políticas e econômicas podem ser tomadas conjuntamente, reduzindo assimetrias e fricções no comércio, política e atuação dos agentes econômicos (SEITENFUS, 2013).
Em termos estritamente econômicos, a integração econômica entre diferentes Estados permite uma alocação dos fatores de produção e recursos econômicos escassos de forma superior, levando à diminuição dos custos de produção decorrentes da elevação das escalas de produção, por exemplo (SEITENFUS, 2013).
Um dos aspectos mais importantes da nova realidade é a tendência de formação dos blocos econômicos regionais – o regionalismo –, que aponta para uma nova reorganização do espaço político global até aqui dominado pela onipresença dos Estados-Nações. A tendência mundial de formação dos blocos econômicos integra uma nova divisão internacional do mercado dentro de uma perspectiva globalizada, na qual o aumento da competição contribui para acelerar o processo de regionalização. Os blocos econômicos constituídos empreendem um esforço concentrado pela liderança política, econômica, comercial e tecnológica das regiões onde estão inseridos [...] (DIAS, 2010, p. 192).
Desse modo, existem diferentes blocos que possuem diversos níveis de integração comercial e econômica entre os países. São exemplos de blocos dos dias atuais: União Europeia (UE), Mercado Comum do Sul (Mercosul), Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), Associação para a Cooperação Regional do Sul da Ásia (Saarc), Comunidade Andina das Nações (CAN) e União Africana, dentre outros blocos econômicos existentes nas economias de mercado.
Nos últimos anos, outro bloco que ganhou relativa importância política e econômica — em decorrência do crescimento econômico, economia com grandes áreas territoriais e densidade demográfica — foi o BRICS. Esse grupo é formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, esses países procuram atuar com certa sintonia para ter maior poder nas negociações existentes no âmbito global. Inclusive, nos últimos anos foi desenvolvido o banco dos BRICS, para auxiliar nos projetos de investimentos dos países, por exemplo.
Como ressaltado, quando os blocos são analisados, cada um possui diferentes tipos de integração para sua formação e estão em diferentes estágios evolutivos. Cada um desses estágios possui vantagens e desvantagens que devem ser levadas em consideração em sua montagem. Os principais modelos de integração são apresentados pelo Quadro 4.1.
Quadro 4.1 - Tipologia dos processos de integração
Fonte: Seitenfus (2013, p. 169-170).
A partir do Quadro 4.1 é possível observar como cada nível de integração econômica possui suas características próprias que acabam por resultar em vantagens e desvantagens para todos os agentes econômicos que estão inseridos em cada tipo de integração econômica.
Dentre esses blocos apresentados, segundo Lins (2013), a integração econômica com maior profundidade e importância para a relação política, econômica e social é a União Europeia (UE), criada efetivamente em 1993, pois chegou a criar até mesmo uma moeda única para todos os países pertencentes ao bloco (Zona do Euro). Atenção estudante, vale destacar que nem todos os países que pertencem à UE também fazem parte da Zona do Euro.
Para maior compreensão do tamanho da UE, os Estados-membros dessa integração econômica são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Suécia (COMISSÃO EUROPEIA apud LINS, 2013).
Esses 27 países que compõem a UE representam praticamente 30% do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países do planeta; contudo, existem diferenças no tocante ao peso de cada economia para a composição do PIB da UE. Por exemplo, países como Alemanha, França e Itália têm participação relativa muito maior do que Luxemburgo, Portugal e Bulgária (LINS, 2013).
A UE foi sendo construída logo após a Segunda Guerra Mundial, passando por um longo processo de integração entre as economias e países e criando regras comuns para todos os membros do país. Os países integrantes da UE possuem liberdade de movimentação de produtos, mercadorias, serviços, pessoas e trabalhadores e de capital (LINS, 2013).
A União Europeia passou por um longo processo de formação que durou décadas até o Tratado de Maastricht em 1993, que resultou na formação da União Europeia. Até os dias atuais é o bloco com maior nível de desenvolvimento e integração entre as economias de mercado. Fique por dentro acessando o link disponível em: https://europa.eu/european-union/about-eu/history_pt. Acesso em: 14 jul. 2020.
Apesar de todos esses pontos positivos ressaltados de uma integração política, econômica e social tão aprofundada, também existem “custos” de atuar como um bloco na economia global. Por exemplo, a adoção de uma moeda única para todo o bloco (Euro) facilitou as transações e movimentos de de produtos e capital entre os países ao custo de menor liberdade de adoção de políticas econômicas para os países domésticos.
Prezado(a) estudante, a política monetária é um importante instrumento de política econômica para períodos de instabilidades e crises econômicas e/ou financeiras, como é o caso da redução da taxa de juros, por exemplo. Contudo, como na UE a moeda dos países é o Euro, as economias domésticas não podem simplesmente expandir sua base monetária, impedindo a atuação da política monetária.
No continente americano, mais precisamente na parte norte, também existiu o processo de maior integração econômica entre países como Canadá, Estados Unidos e México. Contudo, diferentemente da União Europeia, a ideia do Nafta é promover uma área de livre comércio para os produtos dos três países, sem existir livre circulação de pessoas pelos três países. Esse tratado foi negociado durante o início da década de 1990, passando a vigorar a partir de 1994.
Por meio de uma área de livre-comércio, é possível ampliar a sinergia produtiva entre os países pertencentes ao bloco. Especificamente sobre essa temática, Seitenfus (2013, p. 168) explica que o Nafta é uma “conjunção das riquezas naturais do Canadá, da tecnologia e do capital dos Estados Unidos com a mão de obra mexicana”. Desse modo, o acordo atua até como uma forma de os EUA manterem seu poder sobre a região.
Nesse contexto, o Nafta não teve negociações para criação de instituições comunitárias, políticas comuns ou orçamento comum. Assim, nunca teve a intenção de evoluir na integração econômica, sendo apenas uma integração comercial. Em relação às tarifas externas e livre circulação, como já ressaltado, não existiram diretrizes para avançar nessa direção. Portanto, o foco foi na área de livre comércio, com apontamentos na direção de política de comércio exterior a regra de origem, ou seja, foco na origem dos produtos que são negociados no Nafta (NIEMEYER; COSTA, 2013).
O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi a tentativa de avançar na integração comercial e econômica de alguns países da América do Sul, são eles: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O bloco foi criado em 1991, a partir da assinatura do Tratado de Assunção, para existir uma Tarifa Externa Comum (TEC) entre os países ligados ao bloco (DIAS, 2010).
Ainda, com o passar dos anos, outros países da América do Sul entraram para o bloco como membros associados, como Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru (BAIA, 2013). A Venezuela também passou pelo processo de aderência (2012) ao bloco, contudo, em decorrência de problemas políticos no país, este acabou sendo suspenso do grupo no período recente.
Desse modo, o Mercosul, no tocante ao nível de integração econômica, é mais avançado do que o Nafta, por exemplo, mas está muito atrás de uma integração ao nível europeu. Dias (2010) ressalta que o relativo avanço na integração do Mercosul é pela intenção de existir um projeto de desenvolvimento para a região que vai além de questões puramente comerciais, por exemplo.
O nível de integração do Mercosul permite que exista certa liberdade para os países no tocante à relação com o mercado internacional e desenvolvimento de políticas econômicas ao nível nacional. Portanto, não existe interferência direta nas escolhas de atuação e desenvolvimento econômico pelos países. A ideia do bloco é ampliar as negociações comerciais entre os países do bloco, mas preservando a liberdade de desenvolvimento estratégico de cada um e tentando diminuir as assimetrias existentes (DIAS, 2010).
O bloco dos países ligados ao BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na realidade não foi iniciado como os demais, tampouco é formado por países com proximidade, dado que os países pertencem a diferentes continentes. Na realidade, BRIC (África do Sul entrou apenas em 2010) foi um termo cunhado por Jim O’Neill em 2001 para designar os países com crescente importância na geopolítica internacional. Assim, a partir da década de 2000, passaram a atuar no mercado internacional com maior sinergia.
Prezado(a) estudante, como é possível observar, o Brasil é um país atuante na questão de integração econômica com outros países por participar de diferentes blocos no mercado internacional. Em relação a sua política econômica externa, o país possui uma estratégia de exportação voltada para a venda de commodities no mercado externo, assim como a Rússia, enquanto países como China e Índia têm maior produção industrial.
Como ressalta Stuenkel (2017), existem muitas diferenças entre os países que compõem o BRICS, desde questões políticas — com governos em diferentes níveis democráticos e de atuação militar (Índia, China e Rússia possuem armas nucleares, por exemplo) — até econômicas — dado que Brasil e Rússia possuem pouca relação comercial, enquanto Brasil e China são grandes parceiros comerciais.
Nas últimas décadas, os países em diferentes continentes passaram por um processo de ampliação na integração comercial e econômica ao longo do tempo, potencializando o comércio entre os países que fazem parte do mesmo bloco. Desse modo, o que é uma integração econômica que pode proporcionar a adoção de uma moeda única no bloco? Assinale a alternativa correta.
União aduaneira.
Incorreta: pois esse tipo de integração tem relação com a livre circulação de produtos e aplicações de tarifas em comum, mas não com uma moeda única, por exemplo.
União econômica e monetária.
Correta: pois esse tipo de integração econômica faz com que os países adotem políticas macroeconômicas, como a monetária (moeda), indicados por uma única instituição supranacional.
Mercado comum.
Incorreta: pois, a partir de um acordo de mercado comum, é possível avançar na livre circulação de bens, serviços e fatores de produção, com aplicação de tarifa externa comum, mas não política monetária comum.
Zona de livre comércio.
Incorreta: pois tem relação com a circulação de produtos entre os países que fazem parte do acordo comercial, mas não tem relação com a aplicação de uma única política monetária.
União comercial.
Incorreta: pois tem relação com integração comercial, mas não chega a relacionar a integração política e econômica, como é o caso da adoção de uma política monetária única nos países.
As economias de mercado precisam produzir crescimento econômico ao longo do tempo para que seja possível ampliar o bem-estar social dos agentes econômicos (governo, famílias e empresas) que possuem relação de produção (alocação dos fatores de produção) na economia doméstica. Assim, a produção de bens e serviços permite que os produtos sejam negociados no mercado doméstico e/ou internacional, permitindo a expansão do crescimento.
No tocante às negociações no mercado internacional, esse foi um movimento que passou a ganhar cada vez mais força nas últimas décadas, iniciando desde a Segunda Guerra Mundial, como os investimentos para a recuperação dos locais afetados pela guerra, como a Europa e Japão, principalmente. Contudo, esse movimento foi reforçado após a década de 1970, com o avanço da liberalização dos mercados financeiros internacionais para o fluxo de capital e avanço na integração econômica das economias, isto é, ampliação do mercado internacional.
Em decorrência do avanço da globalização comercial e financeira, ocorreram alguns movimentos de grande importância que precisam ser destacados para a compreensão da sociedade capitalista moderna. São eles:
Quando se considera apenas a economia doméstica (economia fechada), a competição no mercado depende apenas das empresas existentes no país. Consequentemente, a geração de empregos depende da produção das empresas domésticas que demandam trabalho para sua produção. Por outro lado, considerando a economia aberta, a dinâmica de emprego/trabalho não depende apenas das empresas domésticas, mas também das empresas externas. A fonte de dependência ocorre da seguinte forma:
Nessa perspectiva analisada, pode-se argumentar que a globalização é uma realidade nos dias atuais, dificilmente podendo ser revertida, dadas as fortes interligações já existentes. Assim, Samuelson e Nordhaus (2012, p. 27) explicam a globalização como:
[...] um termo que é usado para indicar um aumento na integração econômica entre as nações. A crescente integração é observada no crescimento expressivo do fluxo de bens, serviços e fundos cruzando as fronteiras nacionais. Um dos principais componentes da globalização é o contínuo aumento da parcela do produto nacional correspondente a importações e exportações.
Por conseguinte, a globalização envolve, necessariamente, a maior interdependência para a produção de bens e serviços pelas economias domésticas. Esse processo ocorre porque parte dos insumos utilizados no processo produtivo é produzida no exterior e deve ser importada para o país. Portanto, a competitividade dos produtos não fica limitada apenas à utilização dos recursos locais. Já do lado do trabalhador, é possível ampliar seu bem-estar social por meio da especialização do trabalho nas atividades mais produtivas da economia local.
Em uma economia que está interligada com as demais no mercado internacional, a produção eficiente dos bens e serviços no mercado doméstico é essencial para que consiga competir no mercado nacional e internacional. Quando as empresas não são eficientes, seus produtos acabam possuindo uma relação de custo e qualidade ruim, abrindo espaço para produtos fabricados em outros países.
Nessa perspectiva, os trabalhadores domésticos são impactados pela produtividade doméstica. Quando as empresas são eficientes, os trabalhadores recebem melhor remuneração e maior garantia de seu emprego em decorrência das vendas no mercado doméstico e internacional, aumentando a geração de emprego na economia de maneira geral. Por outro lado, a falta de produtividade e eficiência na economia pode resultar em diminuição da produção e consequente queda no número de vagas de emprego e remuneração dos trabalhadores.
Em suma, a competitividade é essencial para que o país consiga produzir mais bens e serviços, aumentando a geração de empregos na sociedade. A partir dessa maior geração de empregos, um maior número de famílias tem sua renda ampliada pela quantidade de empregos disponíveis no mercado e, assim, consegue também ampliar seu consumo nos demais bens e serviços. Esse “ciclo virtuoso” permite uma maior dinâmica em relação à produção e consumo de bens e serviços na sociedade.
Outro ponto positivo de ampliar a competitividade é que uma economia mais produtiva costuma produzir um maior número de inovações tecnológicas. Essas inovações permitem que a economia esteja na fronteira tecnológica que, normalmente, fornece melhores remunerações (salário e lucros) para os agentes econômicos (famílias e empresas) que atuam nesses segmentos de mercado.
Nesse contexto, a geração de emprego também é deslocada para setores com a remuneração mais elevada, aumentando a renda média da sociedade e facilitando o caminho para o desenvolvimento econômico e social do país. Prezado(a) estudante, note que produtividade, inovações e desenvolvimento estão relacionados à questão da complexidade. Quanto mais complexa é uma economia, mais dinâmica se torna. E a geração de emprego é direcionada para setores mais competitivos e com melhores salários.
O crescimento econômico é um fator importante, a fim de que as possibilidades de atuação da economia sejam ampliadas e permitindo que o nível de desemprego seja modificado ao longo do tempo. Nas últimas décadas ocorreu um processo de maior interligação entre as economias, impactando a geração de emprego e competitividade das empresas e países. Assinale a alternativa de qual o nome desse processo.
Bloco econômico.
Incorreta: pois a formação de blocos econômicos tem relação com a interligação de alguns países que fazem parte do bloco, mas não necessariamente com os demais países do planeta.
Globalização.
Correta: pois a globalização permitiu maior relação comercial e financeira entre os países, ampliando as possibilidades de mercados para as empresas domésticas, mas também aumentou o nível de competitividade nos mercados.
União monetária.
Incorreta: pois a união monetária tem relação com a integração de certos países em um bloco, onde uma instituição acaba por definir a política monetária para todos os países.
Política econômica.
Incorreta: pois a política econômica tem relação com as escolhas de atuação de um governo ao longo do tempo, sem necessariamente estar relacionada com a interligação com outros países.
Estado-nação.
Incorreta: pois tem relação com um país em específico, como Brasil, mas não com outros países interligados por meio do processo de globalização, que consiste justamente em ir além de um Estado-nação.
Prezado(a) estudante, os agentes econômicos (famílias, empresas e governo) interagem na economia para produzir bens e serviços ao longo do tempo, correto? Por meio dessa interação é possível aumentar a produção agregada, garantindo o crescimento econômico, não é mesmo? Vamos a uma reflexão: um dos objetivos básicos das economias de mercado é expandir a economia e, assim, garantir que mais bens e serviços possam ser produzidos e disponibilizados para negociação no mercado?
Tanto a produção quanto o consumo frequentemente levam, como um subproduto, ao dano ambiental. As fábricas emitem poluição no ar e, às vezes, jogam efluentes nos rios. Os agricultores utilizam fertilizantes e pesticidas que acabam na água. Os consumidores dirigem carros que emitem poluição. Como resultado, com todos os parâmetros iguais, o crescimento econômico, que aumenta tanto a produção quanto o consumo, resulta em um maior dano ambiental (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 238).
No decorrer da produção de bens e serviços na sociedade, algum desses produtos ou processos produtivos podem apresentar externalidades em sua etapa produtiva. As externalidades são definidas por Samuelson e Nordhaus (2012, p. 240) como uma atividade que “impõe custos ou benefícios involuntários a outros, ou uma atividade cujos efeitos não se refletem completamente no seu preço de mercado”. Portanto, o mecanismo de mercado e livre negociação entre os agentes não levam ao melhor resultado possível, seja em externalidades positivas ou negativas.
Atenção, estudante! Pense bem, é possível utilizar recursos escassos de maneira não planejada? A queimada de combustíveis fósseis impacta as gerações futuras? Quais os possíveis impactos do desmatamento? A biodiversidade pode auxiliar a sociedade no encontro de novos componentes que permitam uma vida de melhor qualidade?
Vale destacar que o crescimento econômico é fundamental para que a maior parcela da sociedade possa ter acesso a bens e serviços importantes para a maximização do seu bem-estar, contribuindo para maior igualdade social. Contudo, também devem ser levados em consideração os possíveis impactos do crescimento econômico na sociedade; sem levar em conta questões ligadas à sustentabilidade da atuação das pessoas em relação à natureza, por exemplo.
Essa maior preocupação sobre o impacto da sociedade na natureza, apesar de bastante debatida nos dias atuais, começou a ganhar destaque nas últimas décadas. Desde a Revolução Industrial, no século XIX, a sociedade ampliou sua capacidade produtiva, principalmente utilizando combustíveis fósseis, como o carvão e petróleo. Portanto, a utilização massiva desses componentes permitiu o desenvolvimento econômico, contudo, às custas de maior impacto na natureza.
Samuelson e Nordhaus (2012) apontam que uma das externalidades negativas da expansão econômica é a poluição. Isso porque, sem regulação, as economias de mercado tendem a produzir poluição superior ao socialmente ótimo, dado que os custos da “despoluição” tendem a ser elevados. Ainda nessa linha, também se pode argumentar que os custos pela utilização de energias renováveis ainda são elevados em determinados segmentos do mercado.
Por outro lado, nas últimas décadas, muitos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) foram e estão sendo realizados para a mudança, ao menos em partes, da matriz energética em muitas nações. Atualmente, é possível observar desenvolvimentos de carros elétricos, energia solar e eólica, não é mesmo? Esses avanços ocorrem durante o próprio processo de globalização e integração econômica e financeira das economias. Portanto, atualmente existe elevada “preocupação de que a globalização possa permitir indústrias altamente poluidoras a mudarem para os refúgios da poluição, onde as regras são mais permissivas” (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 242).
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) ressaltam que, por mais que exista a poluição, os países tendem a poluir menos conforme aumentam o seu desenvolvimento econômico (aumento da renda per capita). Portanto, nos primeiros estágios de crescimento econômico ocorre a poluição e, com o tempo, seu nível vai se desenvolvendo e diminuindo. Esse processo é conhecido como curva ambiental de Kuznets, como aponta a figura a seguir.
É possível observar, pela figura, que a busca pelo crescimento e desenvolvimento econômico dos países tende a aumentar o nível de poluição que resulta em dano ambiental para o planeta. No entanto, após chegar a certo nível de desenvolvimento, o nível de dano ambiental tende a diminuir, até começar o processo de diminuição do impacto ambiental na sociedade. Esse movimento é reforçado pela própria pressão que a sociedade costuma impor ao Estado pela busca de menor impacto ambiental em países desenvolvidos.
Um destaque importante apresentado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) é que, até os dias atuais, ao menos em parte, a globalização tem prejudicado o meio ambiente. Por exemplo, boa parte da produção industrial foi deslocada para a China, que nos últimos anos tem sido um dos principais países poluidores do planeta.
Prezado(a) estudante, nessa perspectiva, se formos observar o processo de crescimento chinês das últimas décadas pela curva de Kuznets, poderíamos dizer que o país ainda se encontra próximo do ponto “A”, talvez caminhando para o ponto “B” de dano ambiental no planeta.
Um dos principais componentes negativos que impactam o meio ambiente é o dióxido de carbono, afetando toda a atmosfera do planeta e causando problemas respiratórios para a sociedade de maneira geral. Na figura anterior, é possível compreender o impacto do deslocamento da produção do resto dos países desenvolvidos para a China nas últimas décadas.
Enquanto Estados Unidos e Europa mantêm o nível de emissão de dióxido de carbono praticamente estável nas últimas décadas, com certa redução nos últimos anos, a China tem aumentado exponencialmente o nível de poluição desde o início da década de 2000, passando Estados Unidos e Europa ainda na metade da mesma década. A China é, atualmente, o maior emissor de poluição do planeta, por meio dos gases do efeito estufa (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Nesse contexto, o Estado pode ser um importante agente econômico para direcionar a atuação dos demais agentes econômicos, permitindo que uma produção socialmente ótima ocorra, ou seja, continuar com o crescimento econômico, visto que é essencial para a melhoria do bem-estar social, mas considerando o impacto ambiental de atuação dos demais agentes. Desse modo, a regulação da atividade econômica pode permitir que métodos produtivos muito poluidores sejam desincentivados e outros métodos com consciência ambiental sejam incentivados.
Por exemplo, modelos produtivos altamente poluentes podem ser taxados pelo Estado, tornando a produção mais cara ao longo do tempo. Dessa maneira, é possível deslocar a produção para outros setores que, ao mesmo tempo, podem receber subsídios do Estado para que sua produção seja mais “barata”, incentivando que mais agentes direcionem recursos monetários e intelectuais para esse tipo de produção.
As economias de mercado buscam o crescimento econômico para ampliar a produção de bens e serviços que serão posteriormente disponibilizados para a sociedade e, assim, maximizar seu bem-estar ao longo do tempo. Contudo, nesse caminho podem surgir externalidades negativas nessa produção. Assinale a alternativa que indica um exemplo clássico dessa externalidade.
Pesquisa e desenvolvimento.
Incorreta: pois o processo de pesquisa e desenvolvimento tem relação com o processo de inovação da sociedade, permitindo maior produtividade aos agentes econômico e podendo criar externalidades positivas.
Ótimo social.
Incorreta: pois o ótimo social ocorre quando não existem externalidades negativas que prejudiquem a sociedade, portanto, não pode ser caracterizado como externalidade negativa.
Países desenvolvidos.
Incorreta: pois, na medida em que os países alcançam maior nível de desenvolvimento ao longo do tempo, o nível de poluição tende a diminuir, como aponta a curva ambiental de Kuznets.
Bens públicos.
Incorreta: pois os bens públicos têm como objetivo melhorar o bem-estar social, portanto, têm relação com externalidades positivas de atuação governamental e não com as negativas.
Poluição.
Correta: pois os agentes econômicos têm interesse de produzir com baixos custos, sem internalizar em sua tomada de decisão a poluição que pode causar ao planeta determinados processos produtivos.
Muitas vezes, o processo de crescimento econômico nas economias de mercado acaba criando externalidades negativas, não é mesmo? Essas externalidades precisam ser corrigidas para que o impacto da sociedade na natureza, por exemplo, não prejudique o bem-estar social das gerações futuras, certo?
Outro ponto que deve ser levado em consideração é que a sociedade, de maneira geral, deve receber os frutos do crescimento econômico de maneira igualitária. Pense bem: as externalidades negativas, como a poluição, acabam afetando todos os agentes, portanto, o crescimento também deve afetar o máximo de agentes possíveis, correto? Quando o crescimento econômico é sustentável e bem distribuído por todos os agentes econômicos da sociedade, impactando a redução da pobreza e desigualdade, podemos argumentar que o país tem caminhado rumo ao desenvolvimento econômico, certo?
No último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU), publicado no primeiro semestre de 2014, estimou-se que, de 1970 a 2000, houve um crescimento médio anual das emissões de gases de efeito estufa de 1,3% e que, na primeira década do século XXI, essa taxa estava na direção de 2,2% ao ano. As emissões de gases de efeito estufa no século atual têm a seguinte composição: gás carbônico oriundo de combustíveis fósseis e processos industriais (65%), gás carbônico oriundo da agricultura e outros usos do solo (11%), metano (16%), óxido nitroso (6,2%) e gases fluorados (1,8%) (HADDAD, 2015, p. 243).
Nessa lógica analisada, o bem-estar da sociedade e sua maior sinergia com a natureza depende de seu maior desenvolvimento econômico (aumento da renda per capita, por exemplo). Ainda, o desenvolvimento econômico depende de políticas econômicas corretas que levem o país a um contínuo processo de aprendizagem e utilização eficiente dos recursos escassos. Quando esses recursos são utilizados corretamente, o crescimento econômico é uma realidade para a sociedade.
Outra reflexão necessária é sobre os componentes que envolvem o conceito de desenvolvimento econômico e os países que conseguiram alcançar esse patamar, melhorando o bem-estar social de seus residentes. Quando o desenvolvimento econômico é analisado a partir da perspectiva de países separados, como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Austrália, França, Japão, dentre outros, o acesso a bens e serviços, bom ambiente de trabalho, governança pública eficiente, baixa desigualdade social e concentração de renda são características essenciais.
Por outro lado, os recursos econômicos são escassos quando se considera o planeta de uma maneira geral. Muitas vezes, esses países desenvolvidos realmente poluem menos que os demais ou possuem maior consciência ambiental por parte das famílias, empresas e governo. Entretanto, muitos dos produtos comercializados no território desses países, em um ambiente de globalização, acabam sendo importados de países que não possuem a mesma consciência ou restrições ambientais.
Nesse contexto, Samuelson e Nordhaus (2012) apresentam um exemplo bastante didático sobre essa questão por meio do mercado de reciclagem de navios. Os navios, quando não estão mais em estado ótimo para sua utilização, acabam sendo levados para locais apropriados para seu desmanche e reaproveitamento de peças. Uma atitude sensata. Contudo, a reciclagem envolve diversos passos importantes, desde a limpeza até a separação de todas as peças.
Em países desenvolvidos e com alta restrição ambiental, o custo é demasiado, logo, o que fazem os países donos dos navios (normalmente desenvolvidos)? Eles levam os navios até a Índia, por exemplo, que possui restrições muito menores e podem acabar poluindo as águas locais e, por consequência, atingindo a própria população (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012).
Desse modo, em um ambiente de maior globalização e conhecimento dos recursos escassos a nível do planeta, o desenvolvimento também deve almejar mais uma questão para que seja viável no curto prazo e também para as gerações futuras (longo prazo). A palavra-chave para esse avanço na questão do desenvolvimento é a sustentabilidade, ou seja, considerar se as práticas econômicas dos países podem ser empregadas no longo prazo sem mudanças drásticas e externalidades negativas para o meio ambiente.
O conceito de sustentabilidade pode ser retirado da Comissão para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1987, que apontou para as questões ambientais, recursos naturais e sistemas ecológicos, incluindo a importância de as mudanças serem feitas no âmbito internacional. Desse modo, o desenvolvimento sustentável é um modelo de desenvolvimento responsável por suprir as necessidades da sociedade no período atual e, ao mesmo tempo, não afetar a capacidade da sociedade futura de satisfazer a suas próprias necessidades (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2019).
[...] pode-se visualizar que o modelo mais adequado do desenvolvimento sustentável deva ser capaz não só de contribuir para a superação dos atuais problemas, mas também de garantir a própria vida, por meio da proteção e manutenção dos sistemas naturais que a tornam possível. O que, certamente, implica a necessidade de profundas mudanças nos atuais sistemas de produção e organização da sociedade humana e de utilização de recursos naturais essenciais à vida no planeta (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2019, p. 2).
Em um sentido de pensamento amplo, a sustentabilidade implica até mesmo um novo modo de agir, pensar e interagir das pessoas na sociedade em busca do desenvolvimento da nação e do planeta de maneira sustentável. Nesse sentido, o governo também pode auxiliar o processo de desenvolvimento sustentável por meio de políticas públicas direcionadas às áreas econômica, ambiental, social, cultural, dentre outras (SIMÃO et al., 2010).
Claramente, uma mudança de paradigma da atuação dos agentes econômicos no mercado leva tempo e muitas negociações no âmbito internacional para que medidas concretas possam ser tomadas. Há décadas acontecem conferências para discutir os impactos ambientais, como a Conferência de Estocolmo e o bem conhecido Protocolo de Kyoto, por exemplo.
Compreender os esforços e diretrizes para o desenvolvimento sustentável é de suma importância para avançar na temática. Por isso, organismos internacionais procuram auxiliar a sociedade nesse importante processo nos dias atuais. Fique por dentro acessando o link disponível em: https://nacoesunidas.org/conferencias-de-meio-ambiente-e-desenvolvimento-sustentavel-miniguia-da-onu/. Acesso em: 14 jul. 2020.
Nesse contexto, a utilização de dados matemáticos e estatísticos, por meio da criação de indicadores e índices, podem auxiliar a sociedade a melhorar sua compreensão sobre os esforços efetivamente empregados na direção do desenvolvimento sustentável em uma economia de mercado. Assim, o Quadro 4.2 apresenta as principais vantagens e desvantagens.
Quadro 4.2 - Síntese de algumas vantagens e limitações de aplicação de indicadores e de índices de desenvolvimento sustentável
Fonte: Farfus et al. (2010, p. 97).
Como é possível observar no Quadro 4.2, existem vantagens e desvantagens da criação de índices e indicadores para a análise do desenvolvimento sustentável entre os países com base nas economias de mercado. Prezado(a) estudante, como ressaltado, as medidas tomadas isoladamente pelos países ajudam a contribuir para uma sociedade mais sustentável, contudo, é importante que exista um movimento internacional em que diversos países caminhem simultaneamente em direção ao desenvolvimento sustentável.
Portanto, esses indicadores e índices devem ser utilizados como uma medida isolada para cada país, mas, também, como uma medida geral para compreender o impacto do homem no meio ambiente (ecossistema) do planeta de modo que a sociedade possa seguir em uma mesma direção. No tocante às dificuldades, o aumento de informação, melhor estrutura de dados, confiabilidade e homogeneidade desses dados devem ser levados em consideração nas tomadas de decisão, como apontam Farfus et al. (2010).
Por outro lado, os benefícios na utilização de indicadores estão relacionados ao maior nível de informação e possibilidade de atuação dos agentes, dadas as comparações que podem ser feitas, por exemplo. Ainda, também é possível identificar os elementos-chaves que devem ser levados em consideração rumo ao desenvolvimento sustentável, assim como utilizar a ciência para melhorar a atuação da sociedade nessa direção.
O crescimento econômico é um elemento-chave para que a sociedade consiga maior nível de produção de bens e serviços que possam ser negociados no mercado interno e internacional, promovendo aumento na renda média da sociedade, por exemplo. Desse modo, avaliar, sintetizar e identificar as ações em direção ao desenvolvimento sustentável diz respeito a qual elemento?
Avaliação subjetiva.
Incorreta: A alternativa está incorreta, pois a subjetividade vai justamente na direção contrária a um processo sistemático de avaliação, sintetização e identificação das ações que levam ao desenvolvimento sustentável.
Criação de sistemas nacionais.
Incorreta: pois, apesar de medidas de sustentabilidade no âmbito nacional serem importantes, a avaliação dessas medidas é feita por meio de indicadores e índices para mensurar as decisões da sociedade.
Indicadores e índices.
Correta: pois a utilização de indicadores e índices permitem que a matemática e a estatística auxiliem a sociedade na compreensão das medidas tomadas rumo ao desenvolvimento sustentável.
Inexistência de informação.
Incorreta: pois a inexistência de informação tem relação com as desvantagens de tentativas de construção de índices e indicadores de desenvolvimento sustentável, não sendo o modo de avaliação, por exemplo.
Sublinhar a existência de tendências.
Incorreta: pois essa característica aponta uma das vantagens na utilização de índices e indicadores, não sendo o próprio modelo de avaliação e sintetização do desenvolvimento.
Nome do livro: Políticas públicas e indicadores para o desenvolvimento sustentável.
Editora: Saraiva
Organizadores: Christian Luiz da Silva e José Edmilson de Souza-Lima
ISBN: 978-85-02-12496-0
Comentário: O livro é uma coletânea de temas sobre o desenvolvimento sustentável elaborado por diversos autores que envolvem a possibilidade de atuação do Estado por meio de políticas públicas e a avaliação das medidas tomadas na direção desse tipo de desenvolvimento.
Nome do filme: Oceanos plásticos
Gênero: Documentário
Ano: 2016
Elenco principal: Craig Leeson, Barack Obama, Tanya Streeter, dentre outros
Comentário: Enquanto a fumaça e o lixo terrestre são mais impactantes em decorrência de sua visibilidade, a ação das pessoas também tem causado impactos profundos nos oceanos, que atualmente estão repletos de plástico. Assim, esse documentário nos auxilia a pensar sobre todo o lixo que acabamos produzindo diariamente na atualidade.