A análise macroeconômica tem, como objetivo principal, compreender a análise agregada do sistema de produção, com base nas economias de mercado, inclusive o papel do próprio governo, por meio de suas políticas econômicas. Assim, na macroanálise, é possível entender os mecanismos básicos para o crescimento econômico da nação, durante determinado período de tempo, e como esse crescimento pode levar, também, ao desenvolvimento econômico.
Um dos elementos básicos para entender o funcionamento da sociedade moderna é por meio do conhecimento sobre o papel da moeda na sociedade, além de como o governo atua a partir das políticas fiscal, monetária e cambial nas economias, seja fechada ou aberta, para o comércio e fluxo de capital externo.
A moeda é um mecanismo essencial nas economias de mercado, porém a utilização desta para a realização de trocas entre diferentes agentes existe desde muito antes de nosso sistema econômico moderno, correto? Pense bem, ao estudar a história desde tempos antigos, como em Roma e Grécia, passando pela idade média, existiram moedas utilizadas para a realização de trocas, seja no mercado interno ou para com outros países. Samuelson e Nordhaus (2012) explicam que a moeda pode ser qualquer item aceito, de maneira geral, como um meio de troca pela sociedade.
Apesar de, em um primeiro momento, ocorrer, de forma natural, a relação entre moeda e dinheiro (papel ou moeda metálica), como conhecemos atualmente, também existiram períodos em que outros produtos foram utilizados como “moeda”, como é o caso do sal, cevada, dentre outras especiarias, ao longo da história. Nesse sentido, Ferguson (2017) ressalta que a moeda, enquanto dinheiro, teve diferentes nomes, com o passar dos tempos, como tutu, everário, dindin, grana, dentre outros.
A questão principal da moeda como dinheiro é a confiança, que deve existir sobre o sistema monetário, para que as relações de troca possam ocorrer sem grandes transtornos, ao longo do tempo, pois, sem a confiança, as relações de troca seriam gravemente abaladas (FERGUSON, 2017). Por isso, instituições eficientes que garantem a normalidade nas transações econômicas, como as autoridades monetárias para a moeda, são importantes para a economia moderna.
Imagine a situação na qual você não tenha confiança na pessoa que está te pagando; o dinheiro seria realmente confiável? Ou, ainda, com relação a algo mais moderno, o que ocorreria se você não tivesse confiança na instituição responsável pela emissão monetária no Brasil?
[...] o dinheiro é uma questão de confiança, talvez de fé: confiança na pessoa que está nos pagando, confiança na pessoa que emite o dinheiro que ele usa, ou na instituição que honra os seus cheques ou as suas transferências. O dinheiro não é metal. É a confiança registrada. E não parece importar muito onde é registrada: sobre a prata, sobre a argila, sobre uma tela de cristal líquido (FERGUSON, 2017, p. 32-33).
De modo semelhante, Carvalho et al. (2015) explicam que a moeda existe na economia de mercado (capitalista), em decorrência da necessidade proveniente da divisão do trabalho, portanto, existe devido à necessidade social. Como existe interdependência entre a produção dos diferentes bens e serviços, a moeda serve como um “facilitador” para as trocas entre os diferentes agentes econômicos.
Estudante, imagine a sociedade moderna sem a moeda, com todas as trocas sendo realizadas de maneira direta? O esforço seria extremamente grande, dificultando as transações e aumentando, exponencialmente, os custos de operação entre os agentes econômicos, bem como diminuindo a produtividade da economia, de maneira geral. Portanto, um sistema de trocas diretas só funcionou em sistemas econômicos primitivos, sem grande complexidade econômica e social entre os agentes econômicos.
Em uma economia monetária, os agentes recebem suas remunerações em moeda e podem, portanto, fazer planos mais flexíveis. Adquirem liberdade para comprar o que desejarem e quando desejarem, em geral, sem qualquer perda de tempo ou o desgaste físico e mental com as dificuldades em realizar transações que requerem coincidências muito específicas (CARVALHO et al., 2015, p. 2).
A moeda tem características próprias, as quais permitem a sua utilização nas trocas realizadas pela sociedade (CARVALHO et al., 2015). Especificamente sobre a moeda como conhecemos nos dias atuais, duas características são fundamentais para compreender o seu papel: I) físicas; II) econômicas.
Segundo Carvalho et al. (2015), as características físicas são relacionadas à capacidade de a moeda ser:
Reflita o quanto é importante que um “produto”, o qual queira ser considerado moeda, realmente necessite dessas características para ser usado por todos os agentes econômicos. Sem a divisão, fica impossível fazer compras em diferentes locais. Se a “moeda” não for durável, não existe incentivos para guardar e aceitar a moeda. A facilidade para manusear e transportar é essencial, para evitar a elevação dos custos e, por fim, algo facilmente falsificável não teria chances como moeda.
No tocante às características econômicas, Carvalho et al. (2015) destaca os seguintes atributos:
Do ponto de vista econômico, essas duas características apresentadas devem existir para que as transações de compra e venda possam ser realizadas de maneira eficaz, minimizando os custos das negociações. Imagine se a moeda tivesse um custo extremamente alto para ser estocada, precisando de galpões e segurança especializados para guardar? Nessa mesma direção, imagine se, para cada compra e venda, ao levar moeda ao mercado para negociação, os custos subissem exponencialmente? Provavelmente, as transações seriam muito menores do que nos dias atuais.
Em suma, quando a moeda possui essas características físicas e econômicas, esta pode cumprir suas funções nas economias modernas com eficiência: I) meio de troca; II) unidade de conta; e III) reserva de valor (CARVALHO et al., 2015). A forma mais clara das funções da moeda é o meio de troca, dada a sua utilização para a compra e venda de produtos nas economias de mercado. Portanto, “ao permitir que venda e compras sejam feitas em datas diferentes, a moeda exerce a função de meio de pagamento” (CARVALHO et al., 2015, p. 2).
Em relação à unidade de conta, Samuelson e Nordhaus (2012) explicam que a moeda serve como um objeto único para medir o valor dos produtos na economia, facilitando as atividades da sociedade, com relação à economia. De forma complementar, Carvalho et al. (2015) argumentam que a moeda facilita o estabelecimento de contrato nas diversas transações existentes, o qual deve ser quitado nas datas combinadas, mesmo com as transações à vista.
Por fim, a função de reserva de valor tem ligação com o poder de manter o seu valor ao longo do tempo, proporcionando segurança aos agentes econômicos (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Nas economias modernas, com o mercado financeiro bem desenvolvido (mercado futuro e à vista), é permitido que a moeda seja alocada em investimentos ou retida pelo agente, sem que se tenha perdas ao longo do tempo (CARVALHO et al., 2015).
Um destaque interessante é proporcionado por Samuelson e Nordhaus (2012), apesar de a moeda proporcionar maior segurança, já que pode ser trocada rapidamente por qualquer outro item, sem incorrer em elevados custos, existe um “custo” em reter a moeda, à medida que o agente deixa de receber juros, caso a moeda estivesse alocada em algum outro ativo.
Desse modo, a moeda é de grande importância para compreender a dinâmica das economias de mercado moderno, principalmente com o rápido avanço da integração financeira entre os diferentes países do planeta, processo também conhecido de globalização financeira.
A moeda está presente nas transações dos agentes econômicos das economias de mercado, independente de ser utilizada em sua forma física (tradicional) ou de outras maneiras, como é o caso do dinheiro eletrônico (cheque ou cartão de crédito, por exemplo). Desse modo, quais as funções das moedas modernas? Assinale a alternativa correta.
Transferência de capital, trocas metálicas e unidade de medida.
Incorreta: pois, apesar de a unidade de conta ser uma função clássica da moeda nas economias, os demais conceitos apresentados não têm qualquer relação com as funções das moedas.
Unidade de conta, reserva de valor e meio de troca.
Correta: pois as três funções essenciais que fazem com que os agentes econômicos demandem moeda e, até mesmo, queiram entesourá-la (guardar) é devido às seguintes funções: unidade de conta e meio de troca (transações), bem como reserva de valor (poupança).
Divisível, durável e dificuldade para falsificação.
Incorreta: pois não são exemplos das funções intrínsecas da moeda na economia de mercado, mas sim sobre as características físicas da moeda, isto é, que certo “produto” tem de apresentar para ser considerado moeda.
Custo de estocagem e negociação negligenciável.
Incorreta: pois os custos de estocagem e negociações negligenciáveis têm relação com as características econômicas que certo “produto” deve apresentar para ser considerado moeda.
Manuseável, transportável e divisível.
Incorreta: pois os conceitos apresentados têm relação com as características físicas que qualquer produto que tenha, como intuito, ser moeda deve ter, para que os agentes econômicos aceitem-no como moeda.
O sistema financeiro tem relação com o lado monetário das economias de mercado, com a moeda sendo o elo comum das transações existentes nos diferentes segmentos de mercado. Consequentemente, o sistema financeiro é “um dos setores mais importantes e inovadores da economia moderna. Ele forma o sistema circulatório vital que canaliza recursos dos poupadores para os investidores” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 400).
Como aponta a figura anterior, o sistema tem uma importante função na sociedade, permitindo que grandes investimentos sejam realizados por meio do mecanismo do crédito. Quando o sistema funciona de maneira ideal, a economia consegue crescer de forma consistente, com o aumento dos investimentos em novas plantas produtivas, aquisições de máquinas e equipamentos, e as famílias podem ampliar o consumo por meio do crédito para a compra de bens e serviços de maior valor agregado.
Por outro lado, quando os intermediários financeiros (bancos e demais instituições financeiras) avançam rapidamente com o crédito, tomando posições cada vez mais alavancadas, os agentes acabam fragilizando suas posições e uma crise financeira pode ocorrer, como foi o caso da crise financeira internacional de 2008. Assim, é necessário que exista uma regulação eficiente sobre os agentes financeiros, para que posições muito arriscadas (alavancadas) sejam tomadas de maneira sistêmica (por muitos agentes).
Em suma, o sistema financeiro tem algumas funções, as quais devem ser destacadas, como é o caso da função de compensação (pagamentos e recebimentos), unir ou dividir fundos para investimentos, gestão de riscos e transferências de recursos no tempo por meio dos empréstimos, dado que transfere recursos dos poupadores para os devedores (função clássica dos intermediários financeiros), como apontam Samuelson e Nordhaus (2012).
No tocante à economia brasileira, existe muita similaridade entre o mercado financeiro nacional e internacional, dado o nível de desenvolvimento do país. Como aponta o Banco Central do Brasil (BCB, on-line), existem diversos operadores financeiros no país, como bancos, cooperativas de crédito e caixas econômicas. Também existe a bolsa de valores e a bolsa de mercadorias e futuros, além de instituições ligadas aos seguros privados e previdências fechadas.
O Banco Central do Brasil (BCB) é um dos responsáveis pela supervisão do sistema financeiro brasileiro, regulando as atividades financeiras do país, além de controlar a política monetária. Por meio do site do BCB, é possível conseguir uma infinidade de informações e dados sobre bancos, créditos, mercado externo (balanço de pagamentos), nível de reservas internacionais do país, dentre diversas outras informações.
Fique por dentro acessando o link disponível em: https://www.bcb.gov.br/. Acesso em: 14 jul. 2020.
Em relação às instituições ligadas à parte de regulação do sistema financeiro nacional, o Conselho Monetário Nacional (CMN) é um órgão normativo relacionado ao setor público brasileiro para a regulação do setor financeiro, introduzindo regras que envolvam todo o sistema financeiro do país, com o intuito de maneirar a resiliência do sistema ao longo do tempo (BCB, on-line).
No tocante aos supervisores do sistema financeiro, o que possui maior destaque é o Banco Central do país. Você já deve ter observado, em programas televisivos, internet e rádio, jornalistas e convidados apontando o papel do Banco Central como regulador, correto? Segundo o site da própria instituição, o objetivo de supervisor do BCB é garantir que as regras existentes sobre o sistema financeiro sejam seguidas pelos intermediários financeiros (operadores) e demais agentes econômicos (BCB, on-line).
Ainda na temática de regulação financeira, no Brasil, existe a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela regulação (fiscalização e desenvolvimento de normas e disciplina) no mercado de valores mobiliários no país, ou seja, é responsável pela regulação do mercado de capital (bolsa de valores) do país.
A moeda tem diferentes funções na economia, facilitando as trocas de bens e serviços entre os agentes econômicos, correto? Ao falar em trocas, muitas vezes, pode transparecer certa subjetividade. Portanto, uma outra maneira mais clara de apresentar as relações de troca e a moeda é por meio do preço das mercadorias. Imagine a seguinte situação: sempre que o agente econômico vai até o mercado para comprar bens e serviços, leva a moeda consigo para pagar pelas mercadorias que possuem determinado preço.
Nesse contexto, compreender a dinâmica dos preços e como funcionam as possíveis elevações e quedas ao longo do tempo permite compreender, de maneira mais clara, o funcionamento do mercado monetário moderno. Um dos mais importantes conceitos econômicos, principalmente voltados para a análise macroeconômica, é a dinâmica de funcionamento da inflação.
Vasconcellos (2017) aponta a importância da inflação estável para o crescimento econômico sustentável da economia, melhorando o bem-estar da sociedade.
A inflação ocorre quando o nível geral de preços está aumentando. Atualmente, calculamos a inflação recorrendo a índices de preços – médias ponderadas dos preços de milhares de produtos individuais [...] A taxa de inflação é a variação percentual do nível de preços [...] (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 538).
Desse modo, a inflação tem relação com o aumento no nível geral de preços, podendo ser influenciada pelas forças de oferta e demanda. Contudo, apenas a oferta e demanda não pode explicar toda a dinâmica de mudança de preços. Outros fatores podem influenciar, como o forte aumento do emprego, pressionando o valor dos salários pagos para cima e aumentando o poder de compra dos consumidores que acabam afetando nível de preços (KRUGMAN; WELLS, 2015).
Nessa perspectiva, a inflação pode existir, devido a pressões decorrentes da parte da demanda, como é o caso do aumento do nível do emprego e a pressão decorrente de não existir capacidade ociosa na economia. Logo, o forte aumento da demanda, não acompanhado pelo aumento da oferta, resulta em inflação de demanda na economia (VASCONCELLOS, 2017).
Outra forma de inflação menos comum do que a demanda é a inflação de oferta (custos). Quando a demanda é mantida no mesmo patamar, mas existem elevações nos custos de certos insumos utilizados em diversos segmentos do mercado, acaba por resultar em inflação (VASCONCELLOS, 2017). Um exemplo clássico desse tipo de inflação diz respeito aos choques do petróleo na década de 1970, resultando em um rápido aumento no nível dos preços do petróleo e, consequentemente, na economia.
Ainda nessa linha, além da oferta e demanda e a pressão inflacionária, dado o crescimento econômico, Krugman e Wells (2015) destacam a relação entre a moeda e a inflação como o principal fator para indicar a dinâmica do nível de preços. Isso porque o nível de preços acaba sendo determinado pelas modificações existentes na oferta de moedas no longo prazo.
Mas quais seriam os motivos para ampliar a oferta de moeda, se o excesso de oferta desta acaba gerando inflação? Uma possível resposta pode ser compreendida por um dos modelos macroeconômicos básicos: a Curva de Phillips. Antes, porém, observe o funcionamento da moeda e inflação, segundo os conceitos clássicos, por meio da Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), ou seja, o aumento na oferta de moeda acarreta apenas no aumento da inflação. A fórmula é apresentada a seguir.
M * V = P * Y (1)
A letra “M” representa a oferta de moeda, “V” a velocidade de circulação da moeda, “P” o nível de preços e “Y” nível do produto agregado. Como “V” e “Y” são relativamente estáveis, aumentos em “M” resultam em aumentos em “P” de maneira proporcional. Contudo, a curva de Phillips modificou essa questão, ao menos para o curto prazo. Assim, observe a Figura 3.5 sobre a Curva de Phillips de curto prazo.
Por meio da figura anterior, é possível observar que existe o trade-off entre a inflação e o desemprego, ou seja, o aumento no nível de preços diminui a taxa de desemprego. Contudo, como apontam Krugman e Wells (2015), no longo prazo, não existe o trade-off (Curva de Phillips vertical), portanto, modificações na oferta de moeda são as maiores responsáveis pela elevação no nível geral de preços.
Um outro motivo para existir incentivos de avanço da inflação nas economias por parte do governo é por meio da arrecadação via imposto inflacionário. Quando o governo amplia a oferta de moeda para pagar por seus gastos (déficits públicos) ou quitar parte de dívidas já existentes, o valor da moeda retida pelos agentes econômicos privados é reduzido (KRUGMAN; WELLS, 2015).
Isso posto, a inflação pode ser um sério problema para as economias, quando está subindo rapidamente ou, até mesmo, de forma descontrolada, visto que, conforme o nível geral de preços aumenta, existem incentivos cada vez menores para que os agentes econômicos retenham moedas (moeda está perdendo valor). Além disso, como a moeda está “perdendo” valor, devido ao rápido aumento no nível geral de preços, os agentes econômicos acabam ficando mais pobres, em decorrência de conseguirem comprar cada vez menos produtos com a moeda retida em mãos (KRUGMAN; WELLS, 2015).
O setor monetário possui grande importância nas economias modernas para a ampliação da atividade econômica. Contudo, também existem problemas ligados ao lado monetário da economia, como é o caso do processo inflacionário, que pode ocorrer em qualquer país. Assim, qual modelo macroeconômico relaciona a inflação e o desemprego? Assinale a alternativa correta.
Oferta e demanda.
Incorreta: pois a oferta e demanda pode impactar nas modificações do nível geral de preços, mas não é o modelo ideal para a análise da relação entre o processo inflacionário e o nível de desemprego.
Política fiscal.
Incorreta: pois a política fiscal está relacionada ao “lado real” da economia, sendo a possibilidade do governo atuar diretamente sobre a demanda agregada por meio de seus gastos ou modificações nos tributos.
Banco Central.
Incorreta: pois o Banco Central é uma entidade reguladora do sistema financeiro, não sendo um modelo de análise de inflação, apesar de uma de suas funções ser atuar sobre o nível de preço das economias.
Curva de Phillips.
Correta: pois a ideia elementar da Curva de Phillips é apontar para um trade-off existente entre a inflação e o desemprego, podendo utilizar da inflação para a redução do desemprego.
Intermediário financeiro.
Incorreta: pois os intermediários fazem parte do sistema financeiro do país, proporcionando a alocação de recursos monetários entre poupadores e devedores, contudo, não possuem relação com o modelo econômico que analisa a inflação.
Neste momento do estudo, chamamos a sua atenção para dizer que, do ponto de vista macroeconômico, a sociedade e o país, de um modo geral, precisam de um planejamento econômico. Vale lembrar que o planejamento é de médio, longo e curto prazo, portanto, as ações econômicas e sociais, a partir do planejamento governamental, refletem o que será o país no futuro.
Pedimos a sua atenção, mais uma vez, para relembrar a interação econômica com outras áreas do conhecimento da ciência, ou seja, a melhoria das condições de vida, bem como a qualidade, que se dará se houver uma evolução paralela de todas as áreas, isto é, o mesmo que dizer que ganhar muito e não saber investir e poupar pode ter um resultado desastroso.
No tocante às políticas econômicas, o Estado tem bastante importância para conseguir melhorar o bem-estar social no país, permitindo uma maior equidade entre os agentes econômicos domésticos. Isso ocorre porque fatores políticos, econômicos e sociais acabam por influenciar a atuação dos agentes econômicos nacionais (como o Estado). Portanto, essas características refletem habitualmente a necessidade de expansão de alguns setores da economia (indústria pesada, indústria de armamentos e exportações) considerados vitais para o desenvolvimento do país.
De acordo com a conceituação teórica, os planos econômicos visam a melhoria das condições econômicas (crescimento econômico), bem como o bem-estar da população (desenvolvimento econômico). Esses conceitos, apesar da proximidade, possuem diferenças importantes de serem ressaltadas para a plena compreensão sobre as questões econômicas e sociais em uma economia de mercado.
O crescimento econômico tem relação próxima com o aumento da produção agregada (Produto Interno Bruto - PIB) da economia ao longo de determinado período de tempo, normalmente um ano. Já o desenvolvimento econômico está relacionado à melhoria do bem-estar social, acesso a uma maior gama de bens e serviços pela população, de maneira geral, ao longo do tempo, normalmente ocorrendo durante um planejamento eficiente de longo prazo.
Nesse contexto, o crescimento econômico é uma condição necessária para que exista o desenvolvimento econômico. Seria possível ocorrer o desenvolvimento de um país, com ampliação do acesso aos bens e serviços por toda a população, sem o aumento da produção agregada (crescimento econômico)? Contudo, o crescimento econômico não é uma condição suficiente para o desenvolvimento, dado que se pode, muitas vezes, ocorrer com elevada concentração de renda, sem aumento da produtividade do país e sem aumento na complexidade econômica (produção de bens e serviços sofisticados).
Por essa lógica trabalhada, Vasconcellos (2017, p. 421) apresenta, de maneira bastante didática, os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico.
Crescimento e desenvolvimento econômico são dois conceitos diferentes. Crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao longo do tempo. O desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, nutrição, educação e moradia).
Para que o crescimento econômico de longo prazo ocorra de maneira contínua e com certa estabilidade, faz-se necessário que os recursos econômicos escassos sejam utilizados de maneira eficiente também no âmbito macroeconômico. Krugman e Wells (2015) destacam fontes ligadas ao crescimento econômico de longo prazo: I) capital humano (trabalhadores); II) capital físico (construções e máquinas), que aumenta a produtividade do trabalhador; e III) progresso tecnológico (desenvolvimento de novas tecnologias). Ainda nessa linha, Vasconcellos (2017) também destaca a importância da eficiência organizacional por meio da interação entre os diversos insumos produtivos.
O progresso tecnológico corresponde às alterações nos processos de produção ou à introdução de novos bens ou serviços. As invenções de processo que aumentaram muito a produção foram a máquina a vapor, a produção de eletricidade, os antibióticos, o motor a combustão interna, os grandes aviões a jato, o microprocessador e o fax. Entre as invenções de produto fundamentais, contam‑se o telefone, o rádio, o avião, o toca‑discos, a televisão, o computador e a câmera de vídeo (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 445).
Nessa perspectiva analisada, o crescimento econômico é decorrente do aumento da produção agregada, contabilizada pelo Produto Interno Brunto (PIB), que é o somatório dos bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo (um ano). Por meio da utilização dos recursos (capital físico e humano), é possível manter uma trajetória de crescimento econômico no longo prazo. Esse crescimento estável, quando aliado ao progresso tecnológico, permite que os fatores de produção (capital, terra e trabalho) tenham maior produtividade.
O aumento na produtividade permite que uma maior parcela de produção seja possível, utilizando a mesma combinação de capital e trabalho, por exemplo. Desse modo, é possível chegar ao desenvolvimento econômico, dada a elevação da complexidade econômica e políticas que envolvam uma maior distribuição de renda no país. Assim, observe a Figura 3.6, a seguir, que apresenta o crescimento econômico de longo prazo para a economia brasileira, por meio do PIB, considerando os preços de 2010, sendo apresentado o crescimento real da economia brasileira entre 1950 e 2019.
Como é possível observar, a economia brasileira tem uma trajetória positiva de crescimento econômico no longo prazo, enquanto existem pequenas flutuações negativas de curto prazo, como no início da década de 1980, entre o final de 1980 e início de 1990, e, mais recentemente, o período entre 2015 e 2016, decorrente da crise política e econômica recente.
Como consequência desse crescimento econômico de longo prazo, a economia brasileira tornou-se mais rica, ampliando o bem-estar social da população ao longo do tempo. Contudo, a desigualdade social ainda é realidade no país, dado que existem agentes com elevadas fortunas, enquanto outros sobrevivem com muito pouco dinheiro, inclusive ajuda governamental, por meio de programas de assistência social, como é o caso do bolsa família. Por falar nisso, você conhece o programa?
O bolsa família é um importante programa de distribuição de renda para as famílias mais pobres, ampliando a renda disponível para a aquisição de bens e serviços fundamentais, como alimentação, remédios, material escolar, dentre outros. Assim, a população mais carente consegue manter um padrão mínimo para a sua sobrevivência.
Fique por dentro acessando o link disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/obter-beneficios-do-programa-bolsa-familia. Acesso em: 14 jul. 2020.
Agora que já compreendemos as questões relacionadas ao crescimento econômico, além de sua importância para alcançar o desenvolvimento econômico, vamos avançar no conhecimento de índices que permitem compreender o padrão de desenvolvimento dos países.
Por meio dos índices de qualidade de vida, é possível avançar no entendimento sobre o desenvolvimento econômico dos países. Isso porque, quanto melhores forem os índices de qualidade de vida, mais próxima a nação está da equidade entre os agentes econômicos: I) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); e II) Índice de Gini.
Segundo Gamboa, Vasconcellos e Turolla (2016), é um índice responsável por medir o grau de desenvolvimento socioeconômico de diferentes países, considerando uma média ponderada de três outros índices: I) índice de expectativa de vida ao nascer; II) índice de educação; e III) índice da renda nacional bruta (RNB) per capita em dólares, “Paridade Poder de Compra” (PPC).
O índice de expectativa de vida (anos de esperança de vida ao nascer) demonstra indiretamente as condições de saúde e saneamento do país. Já o índice de educação é uma média ponderada, composta pelos anos de estudo da população adulta (25 anos ou mais) e pelos anos de escolaridade esperados (expectativa de vida escolar). Por fim, o índice da RNB per capita contabiliza as rendas dos residentes do país, incluindo aquela recebida do exterior, e exclui a renda gerada no país, mas pertencente a estrangeiros, que é repatriada ao exterior (GAMBOA; VASCONCELLOS; TUROLLA, 2016, p. 43).
Por meio desse índice, é possível chegar a um valor entre “0” e “1”, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento econômico e social do país (GAMBOA; VASCONCELLOS; TUROLLA, 2016). Segundo Feijó e Ramos (2013), os países podem ser divididos em três grupos distintos:
I) baixo desenvolvimento humano: IDH menor que 0,5;
II) médio desenvolvimento humano: IDH entre 0,5 e 0,7;
III) alto e muito alto desenvolvimento humano: IDH superior a 0,7.
Desse modo, os países desenvolvidos estão situados com o IDH próximo a um, para compreender a relação entre IDH e desenvolvimento econômico, que apresenta países selecionados por meio dos dados disponibilizados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para o ano de 2018, os quais foram expostos no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019.
Como é possível observar na tabela a seguir, países como Noruega, Austrália e Suíça são considerados os mais desenvolvidos por esse critério, enquanto países como Níger, República Centro-Africana e Chade são os que possuem menor desenvolvimento (CONCEIÇÃO, 2019, on-line).
Tabela 3.1 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para países selecionados
Fonte: Elaborada pelos autores.
Ainda sobre a tabela, é possível ver que, apesar de o Brasil possuir um contínuo crescimento econômico, inclusive sendo um dos países com o maior PIB do planeta, quando é levado em consideração, outras variáveis relativas ao desenvolvimento econômico e a história são bastantes diferentes. Atualmente, o país encontra-se próximo a outros, como México, Tailândia, Arménia e Argélia, que possuem um produto agregado (PIB) menor, inclusive encontra-se atrás de países da própria América Latina, como Costa Rica, Panamá e Cuba.
Outro indicador social interessante para compreender a posição de desenvolvimento dos países é o Índice de Gini, sendo responsável por apresentar o grau de concentração de renda nos países. Nessa direção, Paulani e Braga (2007, p. 262) explicam o Índice de Gini como uma “ avaliação de como a renda é distribuída na economia pode ser realizada a partir do índice de Gini. Esse índice varia de zero a um, ou de zero a cem. Quanto mais próximo de um, ou de cem, pior a concentração da renda”.
Desse modo, o Índice de Gini avalia as economias com o resultado contrário ao IDH. Enquanto este identifica os países com maiores índices como os mais desenvolvidos, o primeiro identifica os países com menor índice como os com distribuição de renda mais igualitária. Um destaque crítico e importante a ser feito é que países relativamente pobres, mas que distribuem, de forma equitativa, a renda, possuem baixo coeficiente de Gini, visto que o importante, a esse índice, é a distribuição da renda.
No entanto, o coeficiente de Gini pode ser utilizado como medida de bem-estar; vejamos o porquê. Segundo dados da PNDU (CONCEIÇÃO, 2019, on-line), que utiliza o Coeficiente de Gini para o período entre 2010 e 2017, países como Noruega (27,5), Islândia (27,8) e Finlândia (27,1) possuem baixo coeficiente e estão entre os primeiros com maior IDH.
Já o Brasil continua como um país intermediário, mesmo nesse critério, possuindo um Coeficiente de Gini com o valor de 53,3, próximo a países como Lesoto (54,2), Guiné-Bissau (50,7), Moçambique (54,0) e Honduras (50,5). Em relação à América Latina, o país encontra-se atrás de Colômbia (49,7), Peru (43,3), Costa Rica (48,3) e Panamá (49,9), como apontam os dados da PNUD (CONCEIÇÃO, 2019, on-line).
Como pode ser observado pelos dados do Coeficiente de Gini, o Brasil é um país com a renda bastante concentrada entre a parcela mais rica da sociedade, portanto, a grande maioria da sociedade não consegue usufruir do crescimento econômico ao longo do tempo, impedindo uma melhoria do bem-estar social mais substancial no país.
Os agentes econômicos dentro do país procuram o crescimento de sua riqueza, inclusive o próprio governo, devendo almejar a melhoria do bem-estar social da nação, ao longo do tempo. Para tal, são utilizadas diferentes políticas econômicas para o aumento da complexidade. Quando atinge um elevado nível de renda e distribuição, o país alcançou qual objetivo?
Crescimento econômico.
Incorreta: pois o crescimento econômico tem relação com o aumento da produção agregada, o que acaba gerando um maior nível de renda agregada para a nação. No entanto, esse processo pode ocorrer sem que exista a distribuição da renda entre os agentes econômicos da sociedade.
Desenvolvimento econômico.
Correta: pois, com o desenvolvimento econômico, todos os agentes possuem uma melhoria em seu nível de bem-estar. Portanto, além do crescimento do produto e renda, ocorre a distribuição entre parcela significativa da sociedade.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Incorreta: pois o IDH é um índice para compreender o nível de desenvolvimento de uma região ou país, mas não faz parte do processo de desenvolvimento, sendo apenas um medidor do processo.
Índice de Gini.
Incorreta: pois o Índice de Gini é utilizado para medir o nível de concentração de renda em uma região ou país, por exemplo. Logo, pode ser utilizado como um medidor para o desenvolvimento econômico, mas não como o conceito de tal processo.
Política fiscal.
Incorreta: pois a política fiscal tem relação com os gastos do governo e modificações na tributação da sociedade, mas não tem relação direta com o processo de desenvolvimento da nação.
Atualmente, existem diferentes políticas econômicas, as quais o Estado tem à disposição para influenciar na demanda agregada (Produto Interno Bruto - PIB), implicando em diferentes níveis de equilíbrio, ao longo do tempo. John Maynard Keynes foi um dos mais importantes pensadores econômicos do século XX, dedicando seus estudos para a importância da análise macroeconômica, com o Estado presente em seus modelos econômicos.
Para melhorar a compreensão do motivo de o Estado conseguir influenciar a economia por meio de políticas econômicas, observe a equação a seguir da demanda agregada (DA) de uma economia qualquer.
DA = C + I + G + X - M (2)
Sendo que:
C = Consumo.
I = Investimento.
G = Gasto do governo.
X = Exportações.
M = Importações.
Segundo Blanchard (2017), o consumo (C) está relacionado às aquisições de bens e serviços pelos consumidores (famílias). O investimento (I) é a somatória entre o investimento residencial (casas novas) e não residencial (máquinas, equipamentos, dentre outros). Os gastos do governo (G) são os bens e serviços comprados pelo governo dos demais agentes econômicos da sociedade. Até aqui, estão relacionados à demanda agregada, referente a uma economia considerada fechada.
Quando a análise é voltada para a possibilidade da economia aberta, abre-se a análise para as exportações e importações ao longo do tempo. As exportações são os bens e serviços produzidos no mercado interno e vendidos para os agentes econômicos de outros países. As importações são os bens e serviços produzidos no mercado externo e comprados pelos agentes econômicos do mercado doméstico. O somatório das exportações e importações proporciona o saldo da balança comercial ou exportações líquidas (BLANCHARD, 2017).
Nas análises econômicas, dois tipos de modelos podem existir: I) economia fechada; II) economia aberta. No primeiro caso, a análise é focada apenas nas relações econômicas de um país, sem relação com o mercado internacional. Já no segundo, os países possuem relações comerciais e financeiras por meio das exportações e importações de bens, serviços e capital.
Os modelos abertos traduzem mais adequadamente a realidade, pois, por maior que seja a propensão nacional à autossuficiência, dificilmente uma economia pode manter-se em estado de completo isolamento, com relação ao exterior, independentemente de suas dimensões territoriais.
A abertura ao exterior, em muitos casos, é fator de sobrevivência. Ainda que não seja assim, as nações praticam diferentes graus de padrões de abertura, procurando complementar suas cadeias de suprimentos, o escoamento de sua produção e a absorção de fatores produtivos. Como regra, a abertura é observada nos três momentos da cadeia produtiva: entradas de insumos, processamento e saídas de produtos.
Basicamente, as relações de uma economia aberta são dadas pelo Balanço de Pagamentos (BP), o qual envolve relações comerciais de bens (balança comercial), serviços (balança de serviços) e rendas (balança de renda), a partir da conta de transações correntes. Ainda, o BP é responsável por contabilizar o fluxo de capital internacional por meio da conta capital e financeira, sendo as principais contas para a entrada de capital externo para o país via Investimento Estrangeiro Direto (IED) e investimento em carteira.
Nas economias de mercado, é muito difícil que a sociedade produza tudo o que necessita, sem manter uma relação de troca com outra sociedade, levando em conta as condições climáticas, bem como o posicionamento do país, ou seja, trata-se de um país com longa costa, voltado para o oceano, ou se sua fronteira é dada com outras nações. Considerando isso, vemos que determinados produtos desenvolvem-se bem em um ambiente e não têm condições desenvolvimento em outros locais.
Outro fator a considerar são os recursos naturais, os quais estão disponíveis na natureza. Porém, mudando de região para região, por essas e outras, o bacalhau está para Noruega, assim como o cacau está para o Brasil - Bahia.
Como ressaltado, as políticas econômicas do governo podem cumprir a função anticíclica de estabilização da economia em momentos de crise econômica, nos quais o setor privado acaba contraindo o nível de gastos decorrente das incertezas sobre os rumos econômicos. Por esta lógica, a política fiscal e a monetária podem ser utilizadas em uma economia fechada e aberta, com os efeitos semelhantes para ambas. Por outro lado, a política cambial só existe em economias abertas, ou seja, nas quais existam interação com outras economias.
Por meio da equação de demanda agregada (2), é possível observar que o Estado (governo) tem papel para a sua construção, portanto, em momentos nos quais o consumo das famílias ou os investimentos privados diminuem, o governo pode avançar com seus gastos, para que a demanda agregada não seja reduzida drasticamente, o que pode implicar no aumento do desemprego e na redução do bem-estar social.
Nesse sentido, o governo pode utilizar de sua política fiscal para conduzir a demanda agregada da sociedade. Assim, a política fiscal tem relação com a capacidade do governo de arrecadar tributos da sociedade (política tributária) e a possibilidade de gastos do governo. Com a política tributária, é possível ampliar (diminuir) a renda disponível, por meio da redução (aumento) dos tributos cobrados dos demais agentes econômicos privados, como as famílias e empresas (VASCONCELLOS, 2017).
Na mesma direção, Gamboa, Vasconcellos e Turolla (2016) ressaltam o gasto público e os impostos como partes da política fiscal que o governo tem à disposição e que, nos modelos econômicos, esse tipo de política econômica pode ser considerado exógeno. Assim, existe a possibilidade de a política fiscal ser expansionista ou contracionista, ao longo do tempo.
A política expansionista tem relação com o aumento dos gastos do governo e/ou a diminuição de tributos, de modo que seja possível expandir a demanda agregada do país ao longo do tempo. Apesar dessa possibilidade de elevação dos gastos, dois cuidados devem ser tomados: I) dívida pública; II) importações.
Em relação a uma economia fechada, o aumento dos gastos do governo leva à elevação da dívida pública, o que pode resultar em receios do resto da população por aumento de tributos no futuro. Quando é considerada a economia aberta, uma parcela significativa do aumento dos gastos pode ser deslocada para a importação de bens e serviços, pressionando a balança comercial e contribuindo para a demanda agregada externa, ao invés do mercado local (GAMBOA; TUROLLA; VASCONCELLOS, 2016).
A política monetária tem atuação diferente na economia, com relação à política fiscal (gastos do governo e tributação), procurando influenciar a composição de portfólios dos agentes, ao relacionar a oferta de moeda e seu impacto sobre o nível de taxa de juros nas economias de mercado.
Basicamente, a política monetária é desenvolvida e implementada pelo Banco Central (BC), como é o caso brasileiro. Em sua atuação, o BC consegue influenciar na quantidade de moeda, crédito e taxa de juros na economia, implicando nas relações econômicas dos agentes. Por exemplo, quando a quantidade de moeda aumenta, a taxa de juros tende a ser reduzida. Com a taxa de juros mais baixa, o crédito disponível para a sociedade pode ter o custo reduzido, influenciando no investimento e consumo das famílias em bens duráveis.
Nessa perspectiva, para conseguir influenciar na quantidade de moeda disponível na sociedade, o BC pode atuar por diferentes instrumentos, por exemplo: I) depósitos compulsórios (bancos comerciais devem manter parcela de seus depósitos guardadas com o BC); II) compra e venda de títulos públicos no mercado (open market); III) operações de redesconto (empréstimo do BC para os bancos comerciais); IV) emissões monetárias (criação de maior quantidade de moeda); e V) regulação sobre o crédito e taxa de juros (VASCONCELLOS, 2017).
No Brasil, a política monetária tem sido guiada pelo Regime de Metas de Inflação (RMI), em que é definida uma taxa de inflação para o período de um ano, e o BC deve procurar chegar à meta definida, regulando e controlando a taxa de juros de curto prazo (Selic) por meio de operações de open market. Essas operações de compra e venda de títulos são os modelos mais utilizados de controle sobre a oferta de moeda nas economias de mercado modernas.
Portanto, quando o BC considera que a inflação está fugindo da meta pré-definida, ocorre o aumento da taxa de juros, por meio de uma política monetária contracionista (retirada de dinheiro da economia). Já quando a inflação está caminhando para baixo da meta, o BC pode atuar com uma política monetária expansionista (ampliando o dinheiro na economia). Por meio do aumento ou redução na taxa de juros, a dinâmica de crédito também é afetada, o que, por sua vez, acaba impactando em toda a dinâmica da economia (GAMBOA; VASCONCELLOS; TUROLLA, 2016).
Enquanto as políticas fiscal e monetária podem ser utilizadas em economias fechadas e abertas, a política cambial somente existe quando são consideradas as relações comerciais e financeiras entre os países. Principalmente após a década de 1970, os países passaram a ampliar a globalização comercial e financeira, fazendo com que a política cambial tivesse cada vez mais importância.
A política cambial refere-se ao controle do governo sobre a taxa de câmbio (câmbio fixo, flutuante etc.). A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e/ou estímulo/desestímulo às importações, sejam fiscais, creditícios, seja estabelecimento de cotas etc. (VASCONCELLOS, 2017, p. 203).
Dentro da própria política comercial, o câmbio deve ser considerado, dado que é uma variável chave para as exportações e importações. No passado, muitos países utilizaram a taxa de câmbio fixa, ou seja, não existe variação (ou muito pouca variação) entre as moedas. Nos dias atuais, a maioria dos países utilizam da taxa de câmbio flutuante, logo, as forças do livre mercado de oferta e demanda são as responsáveis por definir a cotação da taxa de câmbio.
Na realidade, os países, mesmo adotando a taxa de câmbio flutuante, não as deixam flutuar livremente, visto que pode ocasionar impactos sobre toda a economia. Portanto, apesar de a taxa de câmbio ser flutuante, a maioria dos países procura manter certo controle sobre esta, para evitar fortes valorizações ou desvalorizações.
Nesse contexto, o objetivo da política cambial deve ser o de manter o equilíbrio externo do país exposto pelo balanço de pagamentos (inclui as transações comerciais e financeiras), com estabilidade de preços no mercado doméstico. Assim, como na política monetária, o BC atua no mercado cambial para regular a oferta e demanda de divisas estrangeiras (normalmente, o dólar), como apontam Gamboa, Vasconcellos e Turolla (2016).
Assim, quando o país possui a intenção de ampliar suas exportações, o BC pode atuar no mercado, para manter, como política cambial, a moeda nacional desvalorizada em relação ao dólar, permitindo que a produção nacional esteja relativamente mais barata no mercado externo (aumento da exportação).
De maneira contrária, se a ideia é controlar os preços no mercado interno (controle da inflação), o país pode atuar com uma política cambial da moeda nacional valorizada, ampliando o nível de importações. Contudo, as empresas no mercado local podem ser prejudicadas. Durante a estabilização inflacionária, proposta pelo Plano Real, o país utilizou, como política cambial, o regime de câmbio fixo, com a moeda nacional valorizada, ampliando a importação e melhorando o controle de preços na economia doméstica.
Como responsável pela política econômica do Brasil, João Victor atua na economia, aumentando a taxa de juros, quando a inflação está crescendo, e diminuindo a taxa de juros, quando a inflação está diminuindo, em relação aos objetivos pré-estabelecidos. Nessa perspectiva, qual política econômica João está utilizando no exemplo descrito?
Política comercial.
Incorreta: pois a política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e/ou estímulo/desestímulo às importações, sejam fiscais, creditícios, estabelecimento de cotas, dentre outras possibilidades.
Política fiscal.
Incorreta: pois o foco da política fiscal diz respeito aos gastos do governo diretamente na economia, via aquisições de bens e serviços dos demais agentes econômicos, ou por meio do controle sobre a renda disponível pelo aumento ou redução de tributos.
Política monetária.
Correta: pois um modelo bastante usual nas economias modernas da política monetária, inclusive no Brasil, é o Regime de Metas de Inflação, em que a autoridade monetária atua pelo controle da taxa de juros para influenciar a economia.
Política cambial.
Incorreta: pois o objetivo principal da política cambial é influenciar o preço da moeda nacional em relação à moeda estrangeira, normalmente, o dólar. Nesse processo, a dinâmica de preços na economia também é influenciada, mas não em um sistema de aumento e redução da taxa de juros.
Política inflacionária.
Incorreta: pois, quando se trata de política econômica, podem existir efeitos inflacionários sobre a economia, contudo, não se relaciona a uma política específica de aumento da inflação, com esse nome proposto.
Nome do livro: Macroeconomia para gestão empresarial
Editora: Saraiva
Autores: Ulisses Monteiro Ruiz de Gamboa, Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Frederico Araujo Turolla
ISBN: 978-85-472-1109-7
Comentário: O livro aborda questões essenciais da macroeconomia para gestores privados que desejam aliar conhecimentos macroeconômicos e a estratégia empresarial ao longo do tempo, passando por questões desde a oferta e demanda, papel das famílias, investimento e setor externo, até mesmo a questões ligadas ao setor monetário e financeiro.
Nome do filme: Real: O plano por trás da história
Gênero: Drama político
Ano: 2017
Elenco principal: Emílio Orciollo Netto (Gustavo Franco), Bemvindo Sequeira (Itamar Franco), Norival Rizzo (Fernando Henrique Cardoso), Tato Gabus Mendes (Pedro Malan), Guilherme Weber (Pérsio Arida) e Giulio Lopes (Edmar Bacha).
Comentário: O filme é bastante interessante, por apresentar o Plano Real, programa de estabilização econômica da década de 1990 (1993/1994), que reduziu e controlou a inflação brasileira, proporcionando estabilidade macroeconômica para o país, desde então.