Periodização de TD
Nesse primeiro tópico da Unidade II serão apresentados os tipos de Treinamento Desportivo, com base na sua periodização, que consiste em oferecer, num sistema organizado, estimulação variada em microciclos e mesociclos. Nesse sentido, estimular de maneira variada significa alternar a carga de trabalho, ou seja, modificar intensidade e volume dos treinos bem como nas vias metabólicas de casa sessão, portanto caracterizando as sessões como de força máxima, hipertrofia, RML e/ou aeróbio.
Microciclo
Menores unidades do processo de periodização, compostos por sessões de treinamento e podem variar o período conforme a quantidade total de sessões, normalmente entre 1 e 4 semanas de treinamento, variando de acordo com a capacidade a ser trabalhada. Os objetivos em curto prazo são alcançados a cada microciclo, como melhorar técnicas simples, corrigir posicionamento, entre outros. Ajustar a intensidade e o volume de treinamento é essencial nessa fase para obter os resultados esperados sem que haja complicações.
Mesociclo
O Mesociclo é a etapa com maior durabilidade no período de treinamento e normalmente tem duração de 2 a 6 semanas ou microciclos. A duração dos mesociclos varia com base no calendário competitivo ou período proposto para o alcance de metas pré-estabelecidas. De maneira geral, existem mesociclos em diversas etapas: introdutório, pré-competitivo, competitivo e recuperação.
Macrociclo
O planejamento geral, visando ao maior objetivo do período longo de treinamento, é denominado Macrociclo. O macrociclo é composto de, no mínimo, quatro mesociclos. Um mesociclo é formado por vários microciclos, normalmente de dois a seis. Os resultados dos micro e mesociclos somados originam o resultado do macrociclo, que pode variar de acordo com a modalidade praticada.
Métodos de TD
Método de Treinamento Contínuo - os exercícios são executados em sequência, sem intervalo entre um e outro. De acordo com Bompa (2002), o método contínuo tem como característica o alto volume de trabalho sem interrupções. Esse treinamento geralmente é aplicado abaixo do limiar anaeróbio, evitando-se a produção excessiva de ácido láctico.
Método de Treinamento Intervalado - aplicação repetida de exercícios e períodos de descanso de modo alternado (BROOKS, 2000). Nesse método, as intensidades são variadas, com períodos de esforço com intensidades elevadas, seguidos por períodos de recuperação, que podem ser ativos (com baixa intensidade) ou passivos (descanso). Observe, na Figura 2.2, as possibilidades a partir desse método.
Método de Treinamento em Circuito - O treinamento em circuito, ou circuit-training, pode ser utilizado no trabalho de condicionamento cardiopulmonar e também para o neuromuscular. Como são realizados de maneira alternada, estímulos e intervalos podem ser úteis no trabalho de qualquer sistema energético. Desse modo, o circuito anaeróbico pode ser construído com estações de alta intensidade e curta duração, separadas por intervalos ativadores que motivem manter o débito de oxigênio. Em contrapartida, o circuito aeróbico será montado com estações que tenham menor intensidade ou maior duração e intervalos recuperadores.
Esse modelo de treino consiste em montar uma série de exercícios dispostos em estações, no qual os atletas passam pelas estações e executam o exercício proposto, de acordo com o objetivo específico do treinamento. O objetivo desse tipo de treinamento pode ser o desenvolvimento de grande número de habilidades físicas, com vistas ao aprimoramento tanto da capacidade anaeróbica quanto da aeróbica.
Método de Treinamento de Musculação – Parte integrante do Treinamento Desportivo de Alto Rendimento consiste na realização de exercícios de força, pois são utilizadas cargas na execução do movimento, com o apoio de aparelhos durante a sessão. Atua de modo complementar no TD e pode ser realizado pelo próprio atleta desde que orientado pelo treinador sobre as capacidades que quer desenvolver e que exercícios devem ser realizados de acordo com a modalidade praticada. Exercícios de musculação, além de desenvolverem as habilidades de força, ainda desenvolvem a resistência cardiopulmonar, capacidade aeróbica, resistência do sistema imunológico, a fim de prevenir doenças e indisposições pelo atleta.
Método de Treinamento de Flexibilidade e Agilidade – busca, durante algumas sessões de treinamento, executar atividades físicas que motivem o aumento da flexibilidade muscular a fim de evitar lesões importunas e a progressão da agilidade na realização dos movimentos. Podem ser realizadas de maneira contínua ou intervalada, mas devem ser selecionadas atividades que proporcionem aos atletas o aumento das habilidades de flexibilidade e agilidade.
Método de Treinamento Técnico – nas sessões de preparação esportiva, devem ser selecionadas as atividades pertinentes aos gestos motores característicos da modalidade praticada, de acordo com os componentes técnicos e táticos da mesma. O treinador pode optar por trabalhar os exercícios técnicos em forma contínua ou intervalada. Nesse momento, é fundamental representar situações reais de jogo e não somente a técnica de execução dos gestos motores típicos do esporte. Consiste na aplicação das aprendizagens em disputas reais. Porém, cabe ao treinador fazer as devidas orientações tanto antes quanto durante e depois da partida simulada, propondo jogadas estratégicas e ações de ataque, defesa e contra-ataque.
Princípios do TD
Com base em Tubino (1984), os princípios do TD são cinco: Individualidade Biológica; Adaptação; Sobrecarga; Continuidade; Interdependência Volume-Intensidade. Princípios esses que tiveram dois acréscimos posteriores: o da Especificidade, sugerido por Dantas (1995), e o da Variabilidade e o da Saúde, levantados por Gomes da Costa (1996). Segue abaixo a fundamentação teórica para cada um deles.
Princípio da Individualidade Biológica
Com base nesse princípio, cada ser humano possui características físicas e psicológicas individuais, e, nesse sentido, o treinamento realizado de forma individualizada propicia resultados mais eficazes, pois a adequação do treino e dos exercícios se dá em função de aspectos próprios do indivíduo. A preparação física para grupos homogêneos também funciona bem, pois o treinador pode montar a sessão de treino de acordo com suas especificidades e assim alcançar melhores resultados. Nesse princípio, a função do treinador é averiguar as capacidades de cada atleta ou grupo, a fim de conhecer habilidades e dificuldades do atleta, e assim construir o treinamento de acordo com a realidade do atleta. Para isso, o treinador deve usar testes de habilidade específica bem como constar com sua experiência e feeling profissional.
Para Tubino (1984, p. 100), “chama-se individualidade biológica o fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz com que não existam pessoas iguais entre si”. Nesse sentido, o indivíduo é fruto da junção entre fenótipo e genótipo. Genótipo é entendido como a carga genética de uma pessoa que vai ser revelada fenotipicamente mediante treinamento adequado. Considera-se que o atleta tem uma predisposição genética para a execução de uma modalidade, mas não se descarta a importância da preparação física ajustada às necessidades de cada biotipo.
Ao elevarem as condições ambientais – nesse caso, de TD – e do fenótipo do atleta, damos significado ao treinador e a sua intervenção na intenção de que o atleta obtenha sucesso, ou seja, na formação de um campeão.
Princípio da Adaptação
Adaptar-se é uma condição típica dos seres humanos, pois a capacidade de adaptação das pessoas é que manteve a espécie no planeta. De acordo com Weineck (1991), “adaptações biológicas no esporte” são as alterações sofridas pelos órgãos e sistemas funcionais ocasionadas pela realização de atividades esportivas e psicofísicas. A adaptabilidade é entendida como a capacidade de incorporar estímulos na aplicação de cargas de treinamento na mesma qualidade e quantidade.
Tubino (1984) entende que esse princípio está relacionado ao stress, pois, quando estimulamos o organismo, aparecem, de imediato, mecanismos de compensação em resposta ao aumento das necessidades fisiológicas. De acordo com o mesmo autor, o stress “é a reação do organismo aos estímulos que provocam adaptações ou danos ao mesmo, sendo que esses estímulos são denominados agentes stressores ou stressantes” (TUBINO, 1984, p. 102).
A situação de stress ou Síndrome da Adaptação Geral (SAG) é classificada em três etapas: Reação de alarme – caracterizada pelo desconforto, dividido em choque (resposta inicial do organismo) e contrachoque (ocasiona a inversão da situação); Fase da Resistência – caracterizada pela dor e pela ação do organismo de resistir ao agente stressante (fase que mais interessa para o TD); por fim, a Fase de Exaustão – nesse momento, as reações se dispersam e ocorre o colapso.
Para Tubino (1984), existem três possibilidades de stress: o físico, o bioquímico e o mental. Com base nesse princípio, o treinador deve ter cuidado na aplicação das cargas de treino a fim de perceber os agentes stressores. Muitas vezes, diante das condições de TD enfrentadas por treinadores, atletas e equipes, é necessário promover situações de constante adaptação em busca do sucesso em competições. Nesse sentido, o princípio da adaptação é parte recorrente em treinamentos pelo Brasil afora.
Princípio da Sobrecarga
Esse princípio está relacionado à capacidade de o organismo se recuperar imediatamente após a aplicação da carga de trabalho, com o objetivo de restabelecer a homeostase – estado de equilíbrio instável entre os sistemas que constituem o organismo vivo e o meio ambiente. Para Tubino (1984), um dos pontos do TD a serem discutidos é exatamente o momento em que o organismo se adapta aos agentes estressantes que acontecem em forma de estímulos. Sobre a adaptação, existem dois pontos de vista de pesquisadores: uns defendem a ideia de que acontece durante intervalos intermediários de treino e outros, que a adaptação se dá após o último intervalo em uma sessão de treino.
Tubino (1984) indica algumas variáveis de aplicação do Princípio de Sobrecarga, são elas: Volume (quantidade) e Intensidade (qualidade), em diversas formas de treino: Contínuo, Intervalado, em Circuito, de Musculação, de Flexibilidade e Agilidade, e Técnico. Cabe ao treinador trabalhar com cargas de treinamento respeitando as condições do atleta e também os limites éticos da profissão.
O Princípio da Continuidade
Intimamente ligado ao Princípio da Adaptação, refere-se ao tempo de treinamento, faz-se necessário longo tempo de treino para que o organismo possa, de maneira progressiva, se adaptar às novas condições físicas e psicológicas. No entendimento de Tubino, a condição de atleta só pode ser conquistada depois de anos de treino e que as preparações físicas anteriores interferem significativamente no processo de treino em vigência.
De maneira geral, atletas com alto nível de desempenho têm uma trajetória longa de treinamento para tal modalidade, realizado de maneira contínua: preparação física e tática, treinamento das habilidades e capacidades necessárias, e aprendizagem das especificidades do esporte praticado. Sabe-se que dar continuidade aos treinamentos é essencial na obtenção de resultados satisfatórios, não somente na prática desportiva institucionalizada, mas também nas atividades físicas praticadas diariamente em busca de emagrecimento, melhoria das capacidades físicas e da saúde. A quebra no processo de treinamento pode fazer regredir as melhorias alcançadas.
Princípio da interdependência volume-intensidade
Esse princípio possui relação estreita com o da Sobrecarga, haja vista que o aumento – tanto em volume quanto em intensidade - das cargas de trabalho é um dos fatores de melhoria da performance do atleta. Para Tubino, o sucesso do atleta, independente da modalidade, está relacionado à quantidade (volume) e à qualidade (intensidade) do treinamento. Fazer as adequações nas sessões de treinamento é necessário desde que o treinador não coloque as condições físicas do atleta em risco. Um treinador responsável observa a relação de interdependência entre volume e intensidade de treino ou atividade.
Princípio da Especificidade
Esse princípio foi criado por Dantas (1995), com base no treinamento total. Nessa época, o trabalho de preparação passou a ser realizado de forma sistematizada, integrada e voltada para metas claras e objetivas. Esse conceito está associado ao cuidado em tornar o treino do segmento corporal adequado ao do sistema energético e ao gesto esportivo, aproveitados na performance. De acordo com Dantas (1995, p. 50), esse princípio “é aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos de performance desportiva, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizados.”
Para Dantas (1995), aprimorar as habilidades técnicas e a realização dos movimentos durante o TD, com o objetivo de adquirir e reforçar os engramas (forma como as memórias são guardadas de acodo com as mudanças biofísicas ou bioquímicas no cérebro), tomará mais tempo quanto mais complexo ele for, em termos neuromotores. Para o autor, a especificidade do movimento e da modalidade esportiva está atrelada à memória do gesto motor. Nesse sentido, o princípio em questão está diretamente relacionado aos gestos específicos da modalidade e à preparação usada para aprender e desenvolver tais gestos.
Princípio da Variabilidade
De acordo com Gomes da Costa (1996), que submeteu tal princípio, quanto mais diversificados forem os estímulos, desde que em conformidade com a ideia de segurança e eficiência, maior a chance de alcançar a performance excelente. Um dos pilares desse princípio é a criatividade, tanto do atleta quanto do professor, pois se faz necessária a aplicação de novas técnicas de treinamento, de outras estratégias técnicas e táticas, e também da aprendizagem de novos gestos motores específicos. Para isso, o treinador deve estar antenado nas novas demandas da modalidade que treina, bem como na criação de variadas possibilidades de estimulação dos atletas e equipe.
O Princípio da Saúde
O objetivo basilar da prática de atividade física pelas pessoas, em grande parte das situações, é, justamente, a melhoria das condições de saúde. Busca-se exercício físico a fim de obter um corpo mais saudável e, portanto, apto a enfrentar as adversidades, tais como: doenças, envelhecimento, stress, entre outros. Nesse sentido, o princípio da Saúde está pautado na interdisciplinaridade, pois reúne diversas áreas de conhecimento em prol da saúde do atleta ou praticante. São necessários: a Academia, o Departamento Médico, a Avaliação Funcioanl e o Departamento Nutricional. Sendo que, se esses setores caminharem em consonância, as chances de melhoria nos resultados de treinamento são maiores do que se não estiverem trabalhando juntos.