Complicações pós-operatórias precoces
Complicações precoces relacionadas à Gastroplastia com derivação em “Y de Roux” (Bypass Gástrico)
A cirurgia do bypass gástrico é hoje o procedimento bariátrico mais efetivado e, não obstante, várias complicações podem ocorrer com variada morbimortalidade, mesmo quando realizadas em centros de referência. Notoriamente, todos os cirurgiões bariátricos conhecem essas complicações e devem estar familiarizados com elas para que as reconheçam e intervenham precocemente. As complicações do bypass gástrico são caracterizadas como precoces e tardias, tendo em conta o período de duas semanas após a operação.
A deiscência da anastomose ou da linha de grampeamento é complicação definida como inadequada cicatrização tecidual que permite a saída do conteúdo gastrointestinal através de abertura(s) da linha de grampeamento e configura a causa mais comum de morte no pós-operatório mediato (37,5% a 50%). Há cinco lugares considerados potenciais de vazamento, que são: gastrojejunostomia (a maioria), linha de grampeamento da bolsa gástrica, linha de grampeamento na alça em Roux, jejunojejunostomia e linha gástrica de grampos remanescentes. Os vazamentos ocorridos dentro de cinco a sete dias da cirurgia têm relação com isquemia tecidual, já 95% dos que acontecem dentro de dois dias da cirurgia estão envolvidos com falhas da técnica cirúrgica.
Fatores de risco distintos podem contribuir para o desenvolvimento de vazamento, os pautados no paciente compreendem a idade avançada, super obesos, sexo masculino, pacientes com múltiplas comorbidades e cirurgia bariátrica prévia ou revisional (RAMOS et al., 2014). Contudo, a técnica cirúrgica correta pode contribuir com a prevenção de vazamento, cabendo ao cirurgião e auxiliares a atenção quanto ao disparo adequado de tipo e tamanho de grampos, reforço da linha de grampeamento com fio de sutura indicado, uso do selante de fibrina (não sendo rotina em todos os serviços), teste de vazamento no intraoperatório (infusão via sonda gástrica de solução de azul de metileno), anastomose sob tensão e cuidado com isquemia no Bypass Gástrico laparoscópico (ACQUAFRESCA et al., 2015).
Pacientes que não evoluem bem após o primeiro dia de pós-operatório e com queixas de aumento da dor abdominal, taquicardia persistente, febre, taquipneia, saída de drenagem purulenta, oligúria ou qualquer combinação desses sintomas demanda investigação, sendo a clínica soberana, porém é importante um exame de imagem para comprovação, mas estudos demonstram que a persistência de taquicardia com frequência cardíaca acima de 120 batimentos por minuto é bom indicador de deiscência (KRAVETZ; REDDY; MURTAZA, 2011).
Inicialmente, para o paciente não séptico, hemodinamicamente estável e com vazamentos contidos, o tratamento indicado é o conservador. A essência desse tratamento é antibióticos por via intravenosa, monitorização das secreções drenadas, alimentação nasoenteral ou nutrição parenteral total (dependendo do caso e da localização do vazamento). Essa conduta se demonstra bem-sucedida e não tem a morbidade associada com reoperação. Em contrapartida, se o paciente está hemodinamicamente instável, apresenta vazamento difícil ou sinais de sepsis, o tratamento sugerido, obrigatoriamente, é o cirúrgico. Todavia, o reconhecimento precoce de situações de vazamento é essencial para impedir maiores complicações, reduzindo a morbidade e a mortalidade (ACQUAFRESCA et al., 2015).
Entre as complicações precoces, a hemorragia gastrintestinal é uma das mais temidas pelos cirurgiões e comumente ocorrem em pacientes com cirurgias abdominais anteriores devido às aderências e em uso profilático de anticoagulantes para prevenir trombose venosa profunda e ainda pode se associar à sutura sobre a linha de grampeamento (KRAVETZ; REDDY; MURTAZA, 2011; ACQUAFRESCA, 2015).
A hemorragia pós-operatória pode ser caracterizada como intraperitoneal, que é o sangramento para dentro da cavidade abdominal, possivelmente a partir de linhas da gastrojejunostomia, da bolsa gástrica, da jejunojejunostomia ou do estômago excluído, pode ser considerada precoce ou intraluminal, que é a ocorrência de sangramento dentro do lúmen do trato digestivo nos locais acima mencionados, e também tardia (ACQUAFRESCA et al., 2015).
O reconhecimento clínico precoce da complicação é crucial para a boa evolução do paciente, que envolve a identificação de sinais como: palidez, tontura, confusão mental, taquicardia, hipotensão, hematêmese, sangue vermelho vivo pelo reto, queda no nível de hemoglobina, grande quantidade de líquido sanguinolento dos drenos abdominais e baixa produção de urina; estes são indicadores de alertar para sangramento em curso no pós-operatório (KRAVETZ; REDDY; MURTAZA, 2011).
O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico de emergência, dependendo da condição clínica geral do paciente e dos sinais de sangramento visíveis. O conservador está indicado para sangramentos menores e requer suspensão da terapia antitrombótica e inclusão de outros fármacos envolvidos na cotenção medicamentosa do sangramento e observação do paciente, já para os sangramentos maiores, é recomendada intervenção cirúrgica de urgência ou emergência e o que determinará o tipo de cirurgia é o estado clínico geral do paciente (ACQUAFRESCA et al., 2015).
A obstrução intestinal como complicação precoce envolve a do intestino delgado e ocorre em menos de 30 dias da cirurgia, resultante de problemas técnicos com a alça de Roux, incluindo as causas: bloqueio completo ou parcial da gastrojejunostomia ou jejunojejunostomia, angulação aguda da alça de Roux e estreitamento dela no nível de mesocólon transversal (ACQUAFRESCA et al., 2015).
Essas obstruções podem ser causadas, como mencionado anteriormente, por problemas técnicos, relacionados com a torção do intestino, estreitamento, ou angulação aguda da anastomose jejunojejunostomia e a posição da alça de Roux. No entanto, outras causas podem estar associadas, incluindo: edema pós-cirúrgico da anastomose, estenose, isquemia e sangramento no grampeamento com formação de hematoma intraluminal (ACQUAFRESCA et al., 2015).
As queixas comuns e sinalizadoras de obstrução do delgado, que pode intermitentemente tornar-se preso e, em seguida, funcionar normalmente, fazendo características atípicas sutis da obstrução intestinal, são devidas às alterações na anatomia gastrointestinal e os pacientes podem não apresentar sinais e sintomas típicos de obstrução intestinal: náusea, vômitos, dor abdominal pós-prandial (geralmente no quadrante superior esquerdo). Além da clínica, o exame tomográfico é necessário para confirmar a hipótese diagnóstica (ACQUAFRESCA et al., 2015).
Nota-se na literatura que a obstrução intestinal é complicação relativamente frequente após bypass gástrico e o diagnóstico precoce com exploração cirúrgica em casos suspeitos é essencial para a boa evolução do paciente e resolução da complicação.
Cabe descrever, mesmo que seja complicação rara, mas devastadora, que é a incorreta confecção da alça de Roux onde a alça bilio-pancreática é inadvertidamente anastomosada à bolsa gástrica. A seguir, chamo atenção para a linha ondulada (laranja), representando o peristaltismo e refluxo de bile para dentro da neo bolsa gástrica; a linha cheia (rosa) representa o movimento do bolo alimentar da neo bolsa gástrica para a alça de Roux. Essa complicação configura desafios diagnósticos e grandemente aumenta a morbidade (SHERMAN et al., 2011; ACQUAFRESCA et al., 2015).
Os sinais e sintomas surgem imediatamente no pós-operatório como dor abdominal, vômitos biliares, esofagite severa e desidratação, mas o tempo entre o aparecimento da clínica e o diagnóstico pode ser longo e, nesse intervalo de tempo, o paciente pode ser submetido a intervenções cirúrgicas sem identificação da complicação por ser difícil de ser identificada intraoperatoriamente, devido a essa situação aberrante somente ser diagnosticada com precisão por meio do exame digital hepatobiliar com ácido iminodiacético (ACQUAFRESCA et al., 2015).
O tromboembolismo venoso (TEV) é a complicação pós-operatória que envolve duas condições clínicas, a trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP), e são consideradas como uma das mais importantes complicações no pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica devido à morbidade e mortalidade decorrentes. As complicações respiratórias estão entre as mais importantes no pós-operatório das cirurgias abdominais altas, ou seja, com incisão acima da cicatriz umbilical; a embolia pulmonar é uma das complicações clínicas precoces mais graves relacionadas à cirurgia bariátrica.
A simples associação da obesidade ao tratamento cirúrgico de tempo relativamente longo já caracteriza fator de risco relevante para a TEV, e o TEP pode ser fatal, pois o obeso apresenta condições intrínsecas que favorecem o tromboembolismo, além de fatores extrínsecos, como o tabagismo e a hormonioterapia (anticoncepcionais orais e reposição hormonal), aumentando o risco em três vezes em relação a uma pessoa de IMC normal.
A embolia pulmonar é mais comum naqueles indivíduos com IMC grande, com distúrbios do sono ou doenças pulmonares prévias, hipertensão arterial sistêmica e idade avançada. O tromboembolismo venoso profundo é outra complicação grave possível, que pode levar à embolia pulmonar e morte. Mesmo na vigência de profilaxia com anticoagulante fracionado ou não, o tromboembolismo profundo pode ocorrer e ainda pode ser assintomático.
A TEP se manifesta por dor torácica aguda e dificuldade respiratória, objetivando minimizar os riscos da TEP e TVP. Alguns cuidados devem ser observados, tais como: início do uso de meias elásticas antes da cirurgia; fisioterapia respiratória no pré-operatório e mantida no pós-operatório imediato e mediato; uso de compressão pneumática durante o transoperatório e no pós-operatório, enquanto o paciente estiver anestesiado, massageando os membros inferiores; movimentação precoce (deambulação) no pós-operatório, preferencialmente seis horas após a cirurgia; elevação dos membros inferiores quando sentado ou deitado e realizar movimentação com os pés como se estivesse andando (flexão e extensão dos pés); uso de anticoagulante conforme critério médico.
Ainda é destacada na literatura como complicação precoce comum no pós-operatório de cirurgia bariátrica a infecção da ferida, que está relacionada ao suprimento inadequado de tecido adiposo; outros fatores que contribuem para infecção são: excesso de umidade na pele, acúmulo de bactéria nas dobras cutâneas próximas à ferida e deiscência da sutura.
Diante disso, cuidados como observação de técnica asséptica durante a realização de curativos no intra-hospitalar e técnica limpa a nível residencial, boa higienização durante o banho das regiões de pregas cutâneas, enxaguando e secando criteriosamente após o banho, uso de compressão abdominal (faixa elástica) para maior sustentação da parede abdominal, prevenindo aumento da tensão sobre a linha da incisão cirúrgica e, consequentemente, deiscência da sutura são alguns cuidados que diminuem os riscos de infecção do sítio cirúrgico e separação dos bordos da ferida cirúrgica.
A deiscência da anastomose ou da linha de grampeamento é complicação precoce com causa mais comum de morte no pós-operatório mediato (37,5% a 50%). A cirurgia bariátrica apresenta cinco lugares possíveis de vazamento, porém a maioria dos vazamentos acontece na região:
- Gastrojejunostomia. Porque a estenose da anastomose gastrojejunostomia leva ao aumento da pressão dentro da bolsa gástrica.
- Jejunojejunostomia. Porque apresenta menor pressão interna.
- Linha de grampeamento da bolsa gástrica e linha gástrica de grampos remanescentes. Porque apresenta menor pressão interna.
- Linha de grampeamento da alça de Roux. Porque apresenta menor pressão interna.
O vazamento devido à deiscência de anastomose ou da linha de grampeamento, chamado de fístula, apresenta fatores de risco distintos relacionados ao paciente e à técnica cirúrgica. Quais pacientes apresentam maior suscetibilidade para o desenvolvimento de fístula no pós-operatório?
- Pacientes de idade avançada, superobesos, homens e casados. Porque ser casado ou não agrega riscos à cirurgia.
- Pacientes jovens, com IMC normal, homens e com comorbidade(s). Porque o IMC normal não requer tratamento cirúrgico para obesidade.
- Pacientes de idade avançada, superobesos, homens, com comorbidades e cirurgia bariátrica prévia ou revisional. Porque são fatores que aumentam o risco para deiscências.
- Pacientes jovens, obesos, mulheres, com comorbidades e cirurgia de colicistectomia. Porque não contemplam somente fatores de risco para deiscência.
A hemorragia é uma das possíveis complicações precoces da cirurgia bariátrica e é caracterizada em dois tipos. A hemorragia em que o sangramento ocorre para dentro da cavidade abdominal, possivelmente a partir de linhas da gastrojejunostomia, da bolsa gástrica, da jejunojejunostomia ou do estômago excluído é considerada de hemorragia:
- Infra-abdominal. Porque se refere à musculatura do abdome inferior.
- Intraperitoneal. Porque é a hemorragia em que o sangramento acontece para dentro da cavidade abdominal.
- Intraluminal. Porque a ocorrência de sangramento é para dentro do lúmen do trato digestivo.
- Supra-abdomial. Porque se refere à musculatura do abdome superior.
A obstrução intestinal como complicação precoce ocorre em menos de 30 dias da cirurgia, tendo como causas problemas técnicos, relacionados com a torção do intestino, estreitamento ou angulação aguda da anastomose jejunojejunostomia e a posição da alça de Roux e, também, associadas com edema pós-cirúrgico da anastomose, estenose, isquemia e sangramento no grampeamento com formação de hematoma intraluminal. A obstrução intestinal acomete qual parte do intestino?
- Cólon. Porque não é o intestino que sofre a manipulação cirúrgica.
- Seco. Por que não é o intestino que sofre a manipulação cirúrgica.
- Reto. Por que não é o intestino que sofre a manipulação cirúrgica.
- Delgado. Por que é o intestino que sofre a manipulação cirúrgica.