Definições

Quem é o artista profissional da Dança?

De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO/2002, os profissionais da dança são denominados artistas da dança. Bailarinos, dançarinos, coreógrafos, professores, integram a categoria de ARTISTAS, profissão regulamentada pela lei n. 6533, de 24 de maio de 1978, e pelo Decreto n.° 82.385, de 05 de outubro de 1978. Nesse âmbito, considera-se profissional o indivíduo que detém um registro na Delegacia Regional do Trabalho – o DRT – como artista, nas funções específicas previstas: bailarino ou dançarino, coreógrafo, assistente de coreógrafo, ensaiador e maître de balé.

O artista da dança realiza trajetórias de formação tanto em espaços de educação formal e/ou não formal. Segundo o relatório da CBO/2002, quanto à formação do artista da dança, o mesmo aponta para a não exigência de uma escolaridade formal determinada, porém existe uma movimentação significativa à formalização dessa profissionalização, objetivando-se, cada vez mais, que o profissional tenha curso superior na área.

O corpo e a Dança no século XXI

A diversidade social tem estendido suas inúmeras possibilidades de construção de corpos e danças no século XXI.

Historicamente, observa-se que as inúmeras mudanças ocorridas na sociedade em um âmbito geral - isso inclui a dança e os corpos que dançam - provocam possibilidades de alterações artísticas e corporais num todo. Hoje, já não se pode categorizar um corpo e uma dança no século XXI, pois suas possibilidades são inúmeras.

Não há fronteiras entre as artes, cabendo entre si se inovar com o que “se tem” e o que “se pode ter”, como produto de um processo, pois os valores e conceitos se modificam rapidamente. A dança contemporânea hoje é vista como um modo de se pensar a dança neste momento cronológico e histórico. Portanto, como consequência, o corpo ideal para a dança não existe, visto que a necessidade da individualização do ser humano está aflorada. A nostalgia tem tomado o papel principal nesta cena a partir do momento em que o ser diferente tende a recolher-se no seu mundo, isolando seu corpo dos outros corpos. O toque está cada vez mais distante.

111 Ballet Nara Dutra. Espetáculo “Alice no País das Maravilhas”. Fonte: arquivo pessoal (2013).

A arte é como um espelho do homem: ela é o que se vive corporalmente e psiquicamente. Na dança, hoje, há permissão para várias vertentes de criações, ela não é absolutamente uma arte fácil e caótica, ela aceita a estética da liberdade, sem deixar de exigir experimentação. A pesquisa e a exploração do movimento na dança é fato, não há mais somente a fantasia e uma expressão exagerada, o que há hoje é a identificação com a arte estabelecida.

A dança de hoje atravessa fronteiras, rompendo com percepções já estabelecidas. Há “um outro olhar”. A plateia pode se deleitar aflorando seus sentidos e se identificar até mesmo com alguns bailarinos intérpretes. Existe ainda uma aproximação entre a arte e a vida das pessoas. Portanto, como há inúmeras mudanças ocorrendo em todo instante, a dança não pode ser ou estar tão distante desses fatos, sendo apenas um produto final.

Registros históricos mostram que a dança, desde sua origem, moldou-se e adaptou-se de acordo com o que a época e a cultura exigiam.

Houve momentos em que o homem sentia necessidade de exaltação, ou seja, expressar-se como forma de agradecimento aos deuses por conta de uma boa colheita, assim como o ser humano sentiu-se instigado a exteriorizar toda a fúria e a angústia de uma sociedade insatisfeita e perdida dentro de valores deturpados.

Uma sociedade formada por homens e mulheres pensantes e possuidores de ideologias modificáveis interfere de forma inegável nas atitudes de uma época e de uma dada cultura. Portanto, é viável que um conceito hoje bastante estruturado perca força com o passar do tempo e tenha uma interferência constante de outras ideias.

O corpo é ferramenta de expressão do ser humano, é por meio do mesmo que ele se sente vivo e inserido. Esse corpo pensa, age e modifica-se, ao mesmo tempo em que absorve o meio. Sendo assim, em todo segundo ele cria formas de comunicação, que pode ser entendida por meio da dança, mas, ao mesmo tempo, isso não significa que em todo momento o homem quer se fazer entender, muitas vezes, ele só quer entender a si próprio, e isso cria uma gama de possibilidades corporais que se traduzem em dança. Contudo, não se pode categorizar um corpo e uma dança ideal no século XXI.

“O corpo humano não é referendado somente pelas suas condições biológicas. O corpo é sempre construído.” (DANTAS, 1999, p. 32). Se o corpo é sempre construído, ele é construção do que lhe é ofertado, em que em uma escala evolutiva, ele sempre será mais apto a executar o que já executa convidado a transpor o que já foi processado.

O corpo é construído de acordo com valores, ideologias, referências estéticas, políticas e sociais.

Para Strazzacappa (2006), a arte reside em qualquer lugar, ela é uma articulação com o mundo ao redor. Não basta a presença da arte ao lado da ciência para que se possa garantir a formação do cidadão. A formação em arte acontece em um tempo diferenciado do tempo de uma universidade. A importância da especificidade e do aprofundamento dos conteúdos próprios para o ensino da dança e a qualificação de mais professores de dança propiciam a Educação do Cidadão Sensível, pois a arte tem o poder da sensibilização, da compreensão do mundo de forma mais flexível, mais poética, mais significativa.

Expressão Corporal

As manifestações dos sentimentos do corpo são chamadas de Expressão Corporal, e são sentidas, interpretadas, analisadas, percebidas ou simplesmente vistas por meio dos movimentos naturais, voluntário ou involuntário, trabalhado, calculado. Enfim, é a manifestação dos sentidos. Por meio dos movimentos do corpo é possível liberar toda a nossa personalidade, nossas necessidades, emoções, conflitos, culturas, sentimentos; todo o mundo interior complexo que somos.

Para que isso aconteça, se faz necessário chegar o mais profundo dentro de si mesmo e livrar-se das armaduras. O corpo exige um processo de sentido inverso da psicologia, se sensibiliza de fora para dentro para depois se manifestar.

Desenvolvendo todas as possibilidades de movimento do corpo associado à sensibilidade e exigindo desses movimentos a descoberta do próprio corpo, chega-se a inter-relações entre os aspectos físicos e psíquicos do corpo, cada célula, cada partícula do corpo recebe e repete a função psicossomática humana. O descuido e o desconhecimento de como utilizar a máquina corpo pode levar à decadência de suas potencialidades e até a quebra de sua unidade psicossomática. Conhecer e interpretar a linguagem do corpo é fundamental à educação, preservação e valorização dessa unidade, tarefa de início e fim de nossa vida. O corpo se movimenta utilizando as energias contidas no próprio corpo formando um todo; não existe movimento sem corpo e o corpo não se movimenta sem energia.

• Corpo: é composto de massa, forma, tamanho, cor, som, e recebe e transmite sensações, cria e se reproduz. Um estojo de ossos, músculo, centro nervoso e motor.
• Energia: é a potência ativa de um organismo, física, a capacidade que um corpo tem de produzir trabalho e a energia potencial e a latente nas moléculas.
• Movimento: é a resposta ativa à massa muscular por uma reação em cadeia que percorre o corpo de um ponto ao outro, gerando deslocamento visível no espaço.

CORPO + ENERGIA = MOVIMENTO

• Corpo biológico: é composto pelo sistema nervoso vegetativo (ossos, músculos, articulações, postura etc.); pelo sistema nervoso central (vistas, ouvidos, tato, paladar e olfativo), sensações térmicas e sensoriais.
• Corpo: unidade psico-biológica (energia e movimento).
• Corpo como matéria: tamanho, massa, peso, forma, textura e dimensão.
• Corpo como ente criativo: sensibilidade inteligente.

Utilizar o movimento como ato meramente utilitário, desvalorizando e menosprezando suas funções, é deixar de ter consciência da própria existência e sua inter-relação com tudo que nos rodeia.

Por meio dos movimentos, podemos ter consciência no tempo e no espaço do que acontece com o nosso corpo, como e quanto vivemos, com que intensidade nos entregamos, como gastamos e esgotamos nossas energias, que, não realimentadas, nos levam à falência generalizada (aprendizado, criatividade, criação, desejo, prazer).

Já a utilização adequada da energia faz com que o desgaste transforme-se em energia positiva, um ato psicossomático integrado positivo e realimentado.

Cada indivíduo deve ser importante para si mesmo, conhecer seu processo metabólico e se ajudar no seu processo de desenvolvimento na medida em que o trabalho respeite a capacidade pessoal de manifestação pessoal, na medida em que realmente contribua para liberar o movimento. Ex.: um músculo bem trabalhado permite livre passagem de energia, preservando suas funções e reflexos vitais.

A expressão corporal deve ser entendida em seus múltiplos significados e possibilidades: saber que se é, sentir-se como se é; preservar a própria plenitude corporal, comunicar-se consigo mesmo e com os outros, aceitar-se corporalmente com uma atitude sensível e criativa (1997, LOLA, p. 16).

Essa atitude adquire seu valor semântico no contexto do corpo, espaço, tempo, energia e criatividade.

O movimento é uma unidade orgânica de elementos materiais e espirituais que se completam, em um simples movimento de quadril, que operam os centros nervosos correspondentes e ativam áreas do corpo, aparentemente independentes, mas que estão intimamente interligados. Em todo trabalho corporal, seja qual for, o corpo deve ser visto como um todo (psico-biológico) e analisado quando o movimento é realizado genuinamente, como atividade criadora; e quando é falso, frustrado, gratuito e gastando energia que não se realimentará. O movimento criador é aquele consciente, realizado sob bases sensíveis da vivência do próprio movimento; a atenção deve ser centralizada sobre os ossos e a sua localização, a resistência muscular e sua atividade sobre o ritmo circulatório e comportamento da respiração, enfim, em todo aspecto da expressão corporal. Já a dimensão espacial pode ser sentida, percebida e explorada por meio do movimento corporal; o espaço limita-se pela pele como união ou separação, interior ou exterior.

Espaço interior compreende todo o conteúdo da pele para dentro; o âmbito de tudo o que acontece em seus espaços vazios cheios, do volume e das dimensões lineares do corpo.

Espaço externo compreende tudo o que está além da pele e o âmbito do mundo físico circundante.

A relação entre o espaço interior do corpo e o espaço físico exterior e as múltiplas dimensões que geram diversos desenhos e forma no tempo é importante para que cada indivíduo descubra seu próprio tempo, reencontre-se com ele e dê liberdade à sua criatividade.